sábado, 25 de fevereiro de 2012

..:: Tão perto ::..


(Todos os personagens dessa história são fictícios)


I've spent so much time
Throwing rocks at your window
That I never even knocked on the front door

I walk by statues never even made one chip
But if I could leave a mark
On the monument of the heart
I just might lay myself down
For a little more than I had

The last day
The last day
The last day

Wait a time to spare these lies
We tell ourselves
These days have come and gone
But this time is sweeter than honey

""Por todo tempo eu estive olhando pela janela

Desejando alcançar o lado de fora

Meus dedos tocavam os vitrais coloridos imaginando se o mundo lá fora também era assim

Mas nunca ousei tocar o fecho e empurrar aquelas folhas

Por todo esse tempo eu estive olhando pela janela e nada fiz

Assim a vida passou...""

Eu me lembro que quando era pequena havia uma grande janela com grossas cortinas encardidas.

Ela janela ficava numa sala onde minha família guardava quinquilharias, móveis antigos, brinquedos usados, ferramentas que todos sabemos que talvez (ou nunca) um dia iremos precisar. Aquela era a sala dos fantasmas.

Eu gostava daquele canto da casa, na verdade ele acabou tornando-se um dos meus cantos favoritos.

Sempre que queria ler e queria um lugar sossegado para fazer isso eu levava meus livros para aquela sala e me sentava abaixo da janela, o lugar mais iluminado daquele lugar e ficava ali até que o sol houvesse se escondido demais a ponto de eu não conseguir enxergar mais nenhuma das letras nas páginas.

Geralmente quando estava ali eu lia em voz alta, gostava de fazer caras e bocas imaginando as feições dos personagens das histórias que povoavam minha infância.

Um belo dia ao chegar na sala me deparo com um vulto na janela e sinto meu coração saltar no peito. Do lado de fora havia um homem, provavelmente meu vizinho. Mas o que ele estaria fazendo ali?

Chamei, mas não obtive nenhuma resposta e então me aproximei, sentando-me em meu lugar sob a janela e começando minha leitura. Talvez ele estivesse apenas cuidando do jardim dele, afinal aquela janela dava para o jardim vizinho.

Eram quase sete horas quando terminei minha leitura, tão distraída que já havia me esquecido do vizinho, tão entretida em interpretar às frases e os personagens que esqueci do intruso na janela, afinal ele estava ali em meu mundo sem ser convidado.

Quando me levantei olhei para o pano em tons de azul escuro e roxo pelo pôr do sol apenas para ter certeza de que ele já havia se ido e realmente fora o que acontecera.

No dia seguinte, logo após o almoço eu voltei para meu cantinho, com novos livros que havia comprado naquela manhã e alguns sanduíches que havia feito. Assim que entrei na sala empoeirada e cheia de objetos cobertos por lençóis me deparei novamente com o vulto na janela.

Isso aconteceu ao longo de toda a semana, de todo o mês e quase um ano depois, em uma manhã chuvosa, soube que meu vizinho morrera em um acidente de carro.

Entristeci-me sinceramente, estava acostumada à sua presença todos os dias nas janelas, às vezes acabava lendo um pouco mais alto do que costumava apenas para que ele ouvisse também. Não sabia se ele gostava do que ouvia, mas como todos os dias estava lá eu passei a me esforçar em minhas interpretações e às vezes até fazia perguntas, para as quais eu nunca ouvia uma resposta, mas nunca me sentia triste com isso.

Desanimada, fui para meu canto preferido da casa mas assim que encostei meus dedos na maçaneta dourada da porta desisti. Meus momentos de leitura que tanto me agradavam agora tinha perdido seu expectador e sua graça.

Passei um mês inteiro sem abrir aquela porta até que por fim o lançamento de uma nova história me cativou e como eu não poderia imaginar outro lugar para ler corri para a sala dos fantasmas e ao abrir a porta eu simplesmente congelei. Na janela, lá estava o vulto de meu vizinho fazendo sua sombra sobre as cortinas.

Pisquei diversas vezes, sentindo minhas mãos suarem enquanto o sangue parecia bombear em meus ouvidos.

Olhei para trás, para o corredor vazio e então tornei a olhar à janela. Imóvel, o vulto continuava em seu mesmo lugar, assim como eu.

Num impulso de coragem dei um passo para dentro da sala e então mais um e depois mais um, até me aproximar. Pensei em me sentar e ignorar aquilo, mas não conseguia. Meu medo e minha curiosidade cresciam a cada segundo enquanto em encarava as pesadas cortinas cerradas e o vulto por trás delas. Por todo aquele ano eu sequer havia visto seu rosto, ouvido sua voz. Para mim, nossas tardes onde eu lia deveriam ser mantidas em segredo, porque todos julgariam estranho eu passar a tarde toda com um desconhecido, contando-lhe histórias.

- O que está fazendo? - a voz da minha mãe às minhas costas me fez dar um salto e quando me virei deveria estar mais pálida do que qualquer fantasma de qualquer história de terror que já lera - Está pálida, não deveria ficar o dia todo nessa sala sem sol! - ela exclamou, aproximando-se de mim e da janela, puxando então as pesadas cortinas para o lado.

- Não! - eu gritei e derrubei meu livro no chão, jogando-me sobre mamãe como se fosse salvá-la de uma bala perdida, ela com certeza não estava vendo o vulto ali!

- Você enlouqueceu? - ela me perguntou, olhando então para a janela e rindo em seguida - O que? Vai me dizer que está com medo disso? - ela apontou e temerosa eu segui sua indicação.

Sim, lá estava ele, mas ao contrário do que pensei ele estava de costas.

Separei-me dos braços de mamãe e então me aproximei do vidro da janela, observando suas formas tão perfeitas molhadas pelo orvalho da manhã, sua superfície coberta pelo musgo esverdeado e por presentinhos que os passarinhos haviam deixado.

- ... - mal consegui responder mamãe, apenas encarando a estátua que ficava próximo à janela, formando o vulto agora no chão de madeira empoeirado.

Por quase um ano eu achara que estava conversando com alguém, dera vida àquela estátua e agora que descobrira a verdade me sentia perdida.

Milhares de coisas passaram por minha cabeça naquele momento, mas mesmo em minha infância, eu nunca pensei que havia perdido tempo com aquilo, com aquela amizade construída com o que para minha mãe era provavelmente um pedaço de pedra.

Sem hesitar, sai correndo da sala com meu livro em mãos e atravessei meu jardim, passando pelo vão da cerca que delimitava nosso terreno e parando quando alcancei o jardim vizinho.

Respeitosamente olhei em direção à casa, como se pedisse permissão e logo em seguida dei a volta para alcançar a parte detrás do jardim, onde estava a estátua.

Encarei seus olhos vazios por alguns segundos e então sorri, sentando-me diante dele e começando minha leitura.

É impressionante eu sei e até um pouco difícil de imaginar, mas agora aquela criação de pedra imóvel era meu melhor amigo e sem reclamar emprestou-me seus ouvidos por um longo tempo.

Tirei muitas lições que não julgo necessário relatar aqui, mas é claro que dentre todas essas lições sempre houve uma pergunta da qual nunca tive resposta. Quem ele era? Quem fora meu vizinho? Desde sua morte a casa permaneceu e permanece vazia. Será que ele também teria me ouvido? Será que ele também teria lido comigo?

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

..:: A Dama das Cinzas, Branca de Neve ::..


Era a mais bela do reino e era então filha do rei, um rei justo e digno que tomara por esposa uma mulher de índole indigna.

Diziam que era uma feiticeira, diziam que era uma cortesão, tudo o que diziam sobre ela eram injúrias, mas o rei estava cego em sua paixão e seus ouvidos estavam surdos pelas batidas de seu coração.

Era a mais bela e bondosa e era a filha do rei e tinha por madrasta a mulher mais bela e maldosa que em pouco tempo enegreceu de tal forma o coração do bondoso governante e escureceu sua visão, transformando-o em um tirano que do alto de seu trono nada via além de sua esposa e sua filha.

“Era a filha do rei e deve ser morta” – pensava a mulher todo dia ao acordar, enquanto penteava seus longos cabelos dourados como ouro dos tolos e seus olhos cinzentos de tempestade encaravam ao espelho que lhe respondia com a mesma frase.

“É a filha do rei e é a mais bela e a mais bondosa...”.

Aquela frase enfurecia o coração da madrasta, que a princípio tentou ensinar à menina suas magias nefastas e encantá-la com o dom da dama da morte, mas que agora sentia a inveja crescer, pois sem enganar à morte, Branca de Neve tinha em seu rosto o brilho da vida que a tornava perfeita e a pureza em seu coração que a tornava intocada.

“Traga um caçador cruel, que em seu coração não haja nada além da ânsia por dinheiro e poder” – ordenou então aos guardas reais e trouxeram à madrasta o mais terrível caçador.

Suas roupas guardavam ainda o sangue de sua última vítima e em seu pescoço havia um colar cheio de presas afiadas de suas vítimas.

“Quero que mate um cervo, é puro e saltita pelos jardins do castelo, irrita-me ver sua alegria!” – a mulher lhe ordenou e então apontou para o espelho.

Refletido, o homem não viu sua caretonha, mas sim a jovem filha do rei que brincava entre flores e pássaros.

“Leve-a para o bosque, diga-lhe que irão apanhar uma família de coelhos para lhe fazer companhia e então me traga o coração nesta caixa. Quando eu tocar essa caixa o coração se transformara em ouro e essa será sua recompensa” – anunciou a mulher, fazendo o homem cruel sorrir.

Era a mais bela e era filha do rei cego pelas trevas e era inocente como os cervos que saltitavam pela floresta. As palavras do caçador fizeram-na saltitar rumo ao bosque e alegremente ela colhia flores para enfeitar à toca dos coelhinhos que buscariam.

“Acha que vão me amar?” – seus olhos azuis como os céus encontraram os olhos frios do caçador e ele se viu refletido neles e então ele viu toda a beleza da alma pura, pois não são os olhos o espelho da alma?

“Não haveria de ser de outro modo” – ele disse, desviando o olhar da pequena e então se forçando a pensar no coração de ouro.

Andaram ainda mais para dentro da floresta e agora Branca de Neve colhia frutos para alimentar à família de coelhos.

“Acha que gostarão das maçãs que estou colhendo?” – ela perguntou, erguendo entre as mãos brancas uma maçã vermelha, oferecendo-a ao caçador e este se surpreendeu. Ninguém havia lhe dado nada gratuitamente e mais uma vez seu olhar enterneceu-se sobre o rosto da jovem.

“Não haveria de ser de outro modo” – respondeu mais uma vez o homem e apanhou a maçã, devorando-a, sentindo o sabor doce da fruta em sua boca tão amargurada.

E assim prosseguiram o caminho, até que em determinado momento ela abaixou-se para encher uma cabaça com água e lavar o rosto. Estava de costas, despreocupada com o caçador, a quem julgava um companheiro, mas mal sabia que o homem lhe apontava uma flecha.

Ao encher a cabaça de água virou-se para oferecer ao homem um refresco, quando então se deparou com a seta mortal, apontada em sua direção.

Sua expressão encheu-se de pavor e seu coração acelerou-se dentro do peito. Por que aquele homem queria lhe ver morta? O que teria feito de errado?

“Perdoe-me” – ela exclamou, ainda de joelhos diante do caçador e então abaixou a cabeça – “Seja o que for que lhe fiz de mal, me perdoe!” – era doce e suplicante sua voz, mas a seta rasgou o ar em sua direção, atingindo então uma serpente que se pendurava nos galhos da árvore inclinada sobre o rio.

“Tome cuidado princesa, há cobras onde menos imaginava” – alertou-lhe o caçador, enquanto a cobra peçonhenta caía do galho dentro das águas do rio – “Há uma grande cobra em seu castelo e ela deseja seu coração de ouro! Fuja princesa, fuja enquanto os olhos de vidros de sua madrasta não a alcançam!”

Ao fim da tarde, tendo apanhado o coração de um cervo e colocado na caixa, o caçador retornou ao castelo ouvindo então os gritos da madrasta enlouquecida após constatar que aquele não era o coração verdadeiro e lhe explicar que não seria capaz de matar ao anjo daquele castelo.

“Inútil!” – ela bradou, tirando de uma parte secreta das saias do vestido uma varinha encantada, apontando-a em direção ao homem que se transformou em pedra.

“Terei eu que fazer o serviço!” – exclamou a mulher irada e sem prestar satisfações ao marido enlouquecido que ria sozinho em seu trono a madrasta saiu pelas portas do castelo, transformando-se então numa velha senhora que carregava com postura encurvada uma cesta com as mais lindas maçãs.

Sua intuição guiada pela bruxaria e por mil demoniozinhos, lhe dizia que estava Branca de Neve numa casa onde sete homens pequeninos lhe faziam companhia. Eram os Sete Anões, os sete anjos que guardavam àquelas terras onde a maldade jamais chegara.

Pois a bruxa esperou que aqueles anjos enterrassem suas asas dentro das minas e que cobrissem suas asas com as cinzas da porta do inferno para aproximar-se de seu santuário e arrebatar-lhe a princesa.

Ofereceu-lhe a mais bela das maçãs e, saudosa das refeições fartas de seu palácio, Branca de neve fincou seus dentes no fruto considerado a perdição dos homens.

Engasgou-se e envenenou-se, seu corpo sem vida tombando no chão do santuário dos anõezinhos, a fruta da serpente rolando de sua mão.

Ao retornarem, os anões perceberam que a Dama Negra rondava à casa e numa perseguição inútil tentaram lhe alcançar, mas mesmo que a perseguição triunfasse o mal já estava feito.

Fragilizados, retornaram então para à pequena casa perdida no bosque, ainda a tempo de encontrar a morte levando a alma de Branca de Neve pela mão.

“Espere!” – um deles suplicou e correu até a alma da jovem, segurando-lhe a mão etérea, olhando-a nos olhos sem brilho – “Pois não dissemos que não abrisse à porta? Que não comesse o fruto proibido?” – ele lhe perguntou.

“Perdoem-me, desobedeci às ordens daqueles que queriam meu bem, daqueles que queriam me salvar, porque senti fome e o fruto pareceu-me belo” – ela explicou, sua voz soando em mil e um arrependimentos – “Deveria ter feito o sacrifício, mas agora tornei todos os esforços daqueles que tentaram por mim algo em vão. Pobre caçador, deveria ter lhe entregado um coração de ouro. Pobre papai, eu não fui capaz de remoer o véu sobe seus olhos e nem sobre os meus!” – ela exclamou, um pequeno soluço escapando de seus lábios.

Os sete anões abaixaram suas cabeças, não mais precisariam de avatares para se esconder, tornando-se então nos Sete grande arcanjos. Falharam, os humanos não conseguiam ver a escuridão encoberta pela beleza.

Quando à Dama Morte partiu levando Branca de Neve, construíram então um esquife de ouro e cristal e guardaram ali o corpo da jovem. Na lápide dourada, as inscrições:

“Não tome por puro aquilo que é somente belo. Não tome por sorte o que é na verdade a mão de Deus”.

Agora todos que passam pela floresta e pelas ruínas daquela casa onde a beleza e a pureza moraram por um dia choram ao se lembrar dos dias de glória de um reino que não mais existe, pois os anjos abandonaram aquele lugar e seu rei estava cego, deixando tudo nas mãos da inveja doentia de uma mulher que não conseguia compreender o que era amor verdadeiro.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

..:: Livraria do Macaco Pensador ::..


A livraria do Macado Pensador reúne algumas das publicações dos autores que contribuem com essa página.
Com diversas opções de gênero, você pode encontrar um livro que com certeza vai agradá-lo e distraí-lo a qualquer momento!
O povo brasileiro não costuma ler muito, mas podemos mudar isso com pequenos hábitos.
Escolha um livro e o deixe na bolsa ou na mochila com que certeza a oportunidade de lê-lo surgira, seja no caminho para o trabalho, para a escola, durante uma viagem! Aproveite o feriado de carnaval e coloque em sua mala esse companheiro.
Tá certo que você com certeza pensara que sequer vai tirá-lo de lá, mas ai é que você se engana! Com certeza tera um momento em que você vai procurar relaxar e descansar e é nesse momento que você poderá ler seu livro. Sera uma viagem dentro de sua própria viagem, pode ter certeza!
Caso queria conhecer os trabalhos dos autores que colaboram com nossa página basta clicar aqui e clicar na capa do livro que o interessou para ser redirecionado ao site!
Tenham uma boa leitura e não esqueçam de curtir a página do Macado pensador ein!

A Fera sem beleza...


A porta estava entreaberta e o vento escapava por ela, assim como a alegria que um dia preencheu aquele lugar.

A chuva caía forte pela floresta, sobrepondo qualquer som, sobrepondo qualquer criatura que ousasse sair e enfrentá-la, mas isso não a intimidou.

A cada novo passo de Bela sua capa encharcada tornava-se mais pesada enquanto ela deixava o castelo da Fera para trás, tomada por uma suposta onda de loucura, pois todos sabiam que no instante em que Bela partisse tudo estaria perdido, mas ele não suportava mais prendê-la, ele não suportava vê-la sob sua própria maldição.

A chuva transformou-se em tempestade e o vento agora escancarara a pesada porta do castelo e o último calor da presença de Bela foi varrido no instante em que todas as velas do salão se apagaram.

Como se perseguisse à Fera, o vento subiu pelas escadas, passou por corredores e encontrou o antigo cavaleiro ao lado de uma janela.

em frente a ele havia um espelho e ao lado do espelho uma rosa vermelha.

Seu longo caule verde enegrecia aos poucos, a medida que o vento avançava para dentro do cômodo, a medida que as cortinas batiam com mais força, lançadas para dentro pela tempestade, molhando o chão, molhando a cama que um dia guardou um casal enamorado, molhando o quadro de uma princesa que jamais acordaria novamente, não importava quantas vezes seu amado a beijasse.

Um trovão rugiu, o raio iluminando o quarto totalmente, fazendo a besta se encarar em seu espelho encantado que partiu perante sua horrenda imagem. O som do vidro rachando e se estilhaçando correu por todo o castelo, levando consigo as últimas esperanças daqueles corações que ainda ansiavam pela presença de Bela. Ela se fora, as almas deles se quedariam ali para sempre, presas pela eternidade.

Assustados, os pobres empregados ainda correram escadaria acima, esperançosos de que ainda houvesse uma chance, mas assim que entraram no quarto de seu antigo amo viram que a rosa já havia enegrecido por completo.

Um calafrio correu por cada corpo que havia naquele quarto e apenas um deles ousou olhar o que aqueles cacos de vidro espalhados refletiam.

Não havia dúvidas, mesmo que houvesse se passado tantos anos, aquele cavaleiro deitado na escuridão era seu antigo amo e agora não vestia mais seu corpo de Fera. Frágil, encolhido no frio que a morte lhe trouxera, parecia não saber que estava sendo observado.

Seus lábios clamavam pelo nome daquela que o abandonara e que não tivera compaixão por ele, mas ele a compreendia, afinal quem poderia amar uma besta?

O pobre empregado estremeceu ao ver seu amo tão desesperado e afastou-se atordoado, no mesmo instante em que Bela aparecia à porta.

Seu rosto estava lívido e seus olhos já não tinham nenhum brilho, sua presença não trazia mais calor.

Em seus braços havia um buque de rosas vermelhas cujo os espinhos feriam-lhe a pele frágil, mas ela não parecia se importar.

Já não vestia mais a capa, não havia do que se proteger dentro daquelas muralhas, não havia mais o que proteger dentro dela. Tardiamente ela percebeu que seu amor estava naquele lugar que ela deixara.

Ela se aproximou dos cacos de vidro e então deixou o buque cair sobre eles, mas as pétalas tornaram-se enegrecidas no instante que tocaram o vidro que aprisionava a besta.

Seu peito encheu-se de dor ao ver a beleza de seu príncipe presa onde ela jamais poderia alcançar. Então aquele era ele?

Por um breve instante Bela vislumbrou sua imagem, seus olhos cheios do pecado que a cegou e não deixou que ela visse a beleza que a Fera trazia por dentro. Num ato de loucura, apanhou um dos cacos de vidro e antes que qualquer um a pudesse impedir cortou seus pulsos, deixando que seu sangue cobrisse todas as flores destruídas.

Soluços desesperados escaparam de seu peito e ninguém foi capaz de tirá-la de sobre os cacos que formavam a imagem de seu amado.

Seu sangue cobriu cada pedaço do espelho, unindo-os, cobrindo-os, mas não haveria sangue ou flor que trouxesse ele de volta. Não havia mais nada a ser feito.

Enterrando o sacrifício inútil e o amor amaldiçoado, as paredes do castelos começaram a tremer, como se a terra quisesse partir e engolir aquela tristeza de sua superfície.

Em vão os empregados tentaram fugir, mas seus olhos e suas mentes guardariam para sempre aquela tristeza, portanto não deveriam ser poupados, aquela história não deveria mais ser contada.

O castelo desmoronou antes que qualquer um chegasse às suas portas enterrando para sempre a tragédia do casal que não soube ignorar seus olhos e nem amolecer seus corações. A Bela e a Fera estariam unidos pela eternidade, mas cada um estaria de um lado diferente do espelho.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

:: Lycanthia ::


:: Lycanthia ::

"Eles haviam concordado em exterminá-los, mas ela não achava certo. Como poderiam fazer algo assim com aquelas pobres crianças? Mas as crianças estavam se voltando contra Gaia e eles tinha que ser punidos"

Liandra colocou a última caixa ao lado da porta e passou o braço pela testa suada, respirando fundo e deixando seus olhos correrem pela sala que agora estava vazia.

Aquela fora sua casa durante toda sua vida, mas agora era hora de deixá-la e embora fosse doloroso, Liandra sentia que aquilo era o melhor a fazer, por muitos motivos, mas o principal dele era exatamente a floresta.

A misteriosa floresta de Elvengod abrigava algumas poucas casas de famílias de guardas florestais e a região agora era desapropriada para a expansão de uma represa. Era o progresso, como seu querido noivo dizia e nada se podia fazer contra.

Nada? Liandra sabia que era possível fazer algo contra, ela sentia aquilo toda a noite, mais e mais e por isso é que a decisão de sair antes de qualquer outro havia surgido como uma válvula de escape.

Todos se surpreenderam com aquele anúncio, a filha do guarda florestal mais querido estava indo embora. Era claro que alguns comentários surgiram, todos diziam que sabiam que assim que o pai dela morresse ela viraria às costas para aquele lugar. O que ninguém entendia era que ela amava aquele lugar acima de tudo e amava aquelas pessoas e era exatamente por isso que estava deixando-os.

A última noite naquela cabana, ela tinha que resistir apenas aquela noite e tudo estaria acabado. Quanto mais longe estivesse, mais distante o chamado estaria e ele não a alcançaria, ao menos era isso que ela imaginava.

Um uivo cortou o silêncio que pairava dentro da casa vazia e Liandra deixou-se sentar em uma das caixas, fechando os olhos e respirando fundo, fechando o maxilar com força em seguida. ela tentava ignorar aquele chamado aos seus instintos, tentava concentrar sua atenção no vento, em todos os outros sons da floresta, mas todos eles pareciam fazer questão de se calarem.

Ela sabia que era questão de tempo e logo a dama infernal que habitava em seu sangue tomaria sua razão, exatamente como fizera com seus irmãos que agora estavam rondando a cabana.

Mais um uivo cortou o vento e Liandra sentiu os pêlos de seus braços e de sua nuca.

Ela olhou pela janela da cabana de madeira, divisava claramente cada um dos vultos que se moviam entre as árvores. Estavam esperando ela, ela teria que seguir com eles e não havia nada que pudesse fazer. As crianças seriam mortas naquela noite como um aviso.

O terceiro uivo ecoou e dessa vez o corpo de Liandra estremeceu. Aquilo era demais, negar seus instintos daquela maneira era algo quase doloroso a ser feito, mas se ela não refreasse aquelas sensações estaria se voltando contra tudo que sempre acreditara.

"Papai..." - ela pensou, sentindo lágrimas frias escorrerem por sua pele febril - "Me desculpe papai..."- ela fechou as mãos em punho. Por quanto tempo vinha negando sua natureza, por quantos anos se escondera em meio aos humanos?

Com um soluço ela caiu de joelhos no chão, seu corpo curvado, inclinado para frente, sua pele ardia enquanto parecia se partir, pequena demais apura revestir algo tão grandioso, algo tão... inumano.

Sem escolhas, dessa vez ela cedia ao chamado sem sequer poder evitar. Um estrondo ecoou dentro da cabana e aporta da frente fora arremessada para o jardim em milhares de estilhaço, um enorme vulto negro passando por ela, correndo em direção à mata que começava a alguns metros adiante.

Aquela não era mais Liandra, a filha adotiva amorosa e cheia de consideração pelo próximo, pela floresta que a cercava. Seus olhos vermelhos encaravam a noite, tingindo todo seu mundo com aquela mesma cor.

O instinto assassino a fazia vagar pelas árvores, passando pelas clareiras e pelos casebres das demais famílias.

Sua alma tinha desejo por sangue, mas a cada nova casa que visitava percebi que havia atendido tardiamente ao chamado da morte. Não, ela não queria devorá-los, ela queria salvá-los.

"Tarde demais..." - como milhares de vozes em sua mente, enquanto a madrugada avançava e ela continuava pela floresta, andando, tentando descobrir qual seria o próximo alvo da matilha. Nada, a presença de todos aqueles que ela conheciam e a recriminavam por sua decisão de ser a primeira a partir, todas aquelas pessoas foram as que partiram primeiro.

Havia uma última casa, uma última casa dentro da floresta, Liandra ainda tinha a esperança de salvá-los e por isso empreendia todo o esforço e utilizava suas últimas energias para alcançar a residência da família Duarte.

O sol estava quase nascendo quando ela finalmente alcançou a residência, encontrando a porta entreaberta, uma vez mais Liandra chegara tarde, seus irmãos haviam feito todo o trabalho e não havia nada que ela pudesse fazer para impedir aquilo, não que ela pudesse fazer grande coisa no estado em que estava, mas ela queria que seu sacrifício não fosse em vão.

Liandra subiu os pequenos degraus que haviam na varanda e passou pela porta entreaberta, o cheiro de sangue invadiu seu nariz imediatamente enquanto seus olhos se deparavam com as cenas de morte. Não havia sobrado muito do casal, não havia sobrado nada que pudesse identificá-los como humanos.

Liandra saiu da casa sentindo a dor cortar seu peito ao meio, não só a dor física, mas todo o sofrimento. Se ela houvesse atendido ao chamado de Gaia eles teriam poupado aqueles humanos? Se ela pudesse explicar que não fora uma escolha deles, eles entenderiam?

Mais alguns passos e seu corpo caiu para frente, tombando em meio ao jardim ordem alguns dos materiais da construção e até um pequeno trator estava. As obras para a construção da represa começariam em breve e era aquela a razão do chamado.

Os filhos de Gaia queriam deixar claro que a destruição daquela parte de Elvengod que os abrigava traria um grande peso para a humanidade e aquelas morte eram apenas um pequeno lembrete.

Parada no centro do jardim, Liandra ergueu sua cabeça, mirando seu focinho em direção à lua, deixando o uivo dolorido escapar de seu peito.

As patas da frente se dobraram e o corpo de Liandra caiu de lado, aos poucos uma mancha de sangue formou-se sob a imensa loba negra, no exato momento em que o sol substituía a lua no céu.

O brilho de uma adaga de prata surgia em meio aos pêlos, deixando claro porque a loba sofrera tanto para acompanhar o bando, para barrá-los.

Ciente que seus instintos poderiam mais uma vez falarem mais alto, antes que seu corpo se transformasse numa besta sedenta por morte ela havia fincado uma adaga de prata em seu peito. Sabia que aquilo causaria sua morte, mas ao mesmo tempo impediria a besta de tomar sua sanidade.

Fora uma decisão difícil e teve que ser tomada em poucos segundos, antes que aqueles lobos invadissem sua residência. Ela apanhou o punhal de prata que fora de seu pai e o cravara em seu próprio peito, seu corpo como reação a transformara em lobo e ela precisou fugir até que seus instintos assassinos amainassem e ela voltasse a raciocinar. Um pouco tarde, todo seu esforço fora em vão.

Seus olhos se fecharam com os primeiros raios de sol, uma última imagem turva deixara a impressão de ter visto alguém se aproximando, uma garotinha usando uma camisolinha branca manchada de sangue.

- Liandra... - a voz de menininha parecia hesitante, enquanto ela estendia a mão para tocar o corpo nu e ferido da jovem.

- Amara... - os lábios de Liandra delinearam o nome mas não emitiu nenhum som. A filha dos Duarte, da família dos engenheiros responsáveis pela construção da represa estava ali diante dela, a única testemunha de seu último suspiro.

Liandra fechou os olhos e seu corpo pareceu murchar, os ares de sua existência escapando por sua boca e batendo contra o rosto da menina.

Naquela mesma noite no topo da colina um grupo de lobos recebia uma criatura pequenina, quase semelhante a uma raposa em meio a eles.

Vestígios do tecido branco caindo pelo corpo do pequeno lobo marrom, ignorante de sua própria natureza, após ter negado por tantos anos seus instintos, Liandra passara sua maldição adiante, perpetuando o ciclo sem fim de sua existência dentro de um corpo frágil e humano, mas dessa vez ela não cometeria os mesmos erros. Era hora de ouvir o chamado de Gaia.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

..:: Neverending Shadows ::.. Ed. 2

Queridos leitores!

Atendendo a diversos pedidos eu publiquei uma segunda edição do livro em formato A5.

Como eu havia explicado o livro ficou um pouco mais caro. Também fiz algumas correções e alterações na capa e no conteúdo, sugeridas pela minha amiga (e também escritora) Andrea Bertoldo.

A primeira edição vai permanecer disponível também e os próximos livros a serem publicados continuarão a ser editados nos dois formatos!

Quero agradecer a todos que têm adquirido o livro e continuem me mandando suas opiniões para que eu possa mudar e melhorar tudo que é necessário.

Estava conversando com alguns amigos que compraram o livro e peguei alguns errinhos ortográficos, ou melhor, alguns errinhos que o próprio Word corrigiu, mas de maneira errada (maldita correção!), modifiquei esses erros e também adicionei o índice e o meu nome na capa (algumas pessoas reclamaram que não tinha o nome, agora tem!).

Espero que as pessoas que adquiriram a versão em A4 não fiquem chateadas, afinal todos vocês sabem como foi uma grande correria publicar o livro, peço desculpas porque é a primeira publicação minha, com certeza as próximas serão melhores.

Além disso, recebo diariamente críticas e sugestões muito boas e muitos elogios a respeito da história que tem prendido muitos dos leitores!

Fico feliz que o conteúdo do livro tem agradado tanto e espero que mais leitores venham a conhecer a história de Caleb e Anise e a futura história de Julia e Lewis.

Referente à segunda parte do livro, tenho previsão para publicá-la em julho e dentro de alguns dias publicarei a prévia da capa.

O segundo título da série Neverending Shadows – O despertar será publicado provavelmente em janeiro de 2013 e também será dividido em duas ou mais partes se necessário.

Para acessar a página de compras para o formato A5 basta clicar aqui.

Gostaria de pedir a todos que acessem a página que curtam e deem estrelinhas e que me ajudem na divulgação como têm feito até agora!

Agradeço mais uma vez a atenção e todos e espro que tenham um ótimo domingo.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

..:: A Beleza Vampírica ::..


A Beleza Vampírica

Com a nova leva de romances sobrenaturais surgiu entre os diversos fãs do gênero uma grande discussão.

Muitos consideram que vampiros devem ser cruéis e sanguinários, com uma aparência assustadora e cadavérica enquanto outros preferem as criaturas sedutoras e de aparência perfeita para representarem os seres noturnos.

Ao contrário do que muitos imaginam o conceito de vampiro como um ser belo e sedutor é bastante antigo.

Em 1819, com o sucesso do romance de John Polidori The Vampire, estabeleceu-se o arquétipo do vampiro carismático e sofisticado. Esse romance veio a inspirar diversas obras como por exemplo Drácula.

Quanto à aparência tenebrosa dos seres noturnos, devemos lembrar que a noção de vampirismo data de milhares de anos e fala sobre demônios e espíritos, o que posteriormente se concretizou na Europa em crenças de que vampiros eram espectros malignos ligados à suicídios e à bruxaria.

A aparência cadavérica deve-se às crenças de que, atormentado pela morte inesperada ou pelos atos ligados à magia negra, o espírito não encontra o descanso e então volta à vida.

Essas crenças correram toda a Europa causando grande histeria, começando assim uma verdadeira caça às bruxas, ou melhor, aos vampiros.

Com uma busca rápida pela internet podemos encontrar diversas imagens com os mais variados estereótipos para essas criaturas, desde galãs de cinema até a figuras que se assemelham à bodes com corpos humanos ou morcegos.

Além da discussão sobre a aparência, outras discussões apimentam ainda mais as histórias sobre esses “mortos-vivos” (que estão mais vivos do que nunca!).

De vilão cruel que espalha terror pelas terras onde vive a anti-herói poético e dramática, vários obras literárias continuam a surgir, algumas delas sem qualquer relação com as lendas originais.

O mais importante dentro desse cenário tornou-se a variedade de opções, a liberdade que os autores tem para contar e recontar essas lendas de forma a agradar aos públicos mais variados, que podem encontrar nas páginas vampiros de todos os tipos.

Andando pelo sol e salvando mocinhas ou morando em castelos assombrados, cada leitor poderá se fascinar e se deixar seduzir por seu tipo de vampiro preferido, afinal tudo não passa de uma lenda e todos têm liberdade para contar suas histórias!

..:: O Macaco Pensador ::..

O Macaco Pensador é uma página criada por autores do Clube de Autores que buscam divulgar seu trabalho para milhares de leitores do Brasil e do mundo.

Uma iniciativa de Augusto Branco para ajudar escritores que estão iniciando sua carreira ou batalhando por um lugar ao sol há algum tempo.

A página tem mensagens, textos e futuramente tera resenhas dos livros dos autores participantes.

É uma boa pedida para quem está buscando novos livros e ideias, novos autores que possuem qualidade e estilos variados que certamente agradarão todo o tipo de público.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

..:: Dúvidas? ::.. (Poema que fiz há alguns anos)


As lágrimas que correm demostrando sinais de arrependimento, não estariam elas marcadas com a dor do pensamento ou de uma simples ilusão de trair?
Não teria voltado à tona todo o amor pelo o que é certo e travado luta com as paixões do momento?
As lágrimas qe correm pela fonte da incerteza de amar e de sentir, não seria medo e desejo ou amor?
Por que o tempo torna o amor frio e distante?
Mesmo aos mais amantes, mesmo aos intensos...
Não teria a dor abatido o peito daquele que se viu diante das promessas castas do verdadeiro amor distante e sentia de perto o calor de um peito amante?
Mesmo assim as lágrimas que correm pelo rosto nao demonstrariam a dor pela ilusão de trair e as paixões do motivo?
Não terá tambemn sofrido aquele que levou consigo dois coração que se partiram e se separam no momento de sua chegada?
Ou aquele que fora enganado também não terá sofrido?
Mais ainda terá doído àquele que foi causa, réu e culpado de trair
Agora não serão suas lágrimas do fundo do sofrimento
São coisas do amor
Por que as saudades de tempos de antes possam ter encontrado em outro as mesmas graças do frescor do amor?
Por que o amor teve que deixar no momento em que o amante pediu entrada?
Pois as paixões e amores não se combinaram com a mesma força
Os pensamentos passam de um olhar ao outro, como se fossem enlouquecer
Sensações que não queriam ser sentidas
Talvez uma alma tentando impedir que cresça a paixão nova, tentando sufocar a de antigamente
Não estará sofrendo neste momento, aquele que comete o pecado do pensamento?
Não estará sozinho agora chorando e pensando nos amores e desamores que carrega consigo mesmo?
Não estará a saudade sufocando o seu peito e clamando a volta do amor e clamando o ardor da paixão?
Ou estará pedindo liberdade?