sexta-feira, 30 de março de 2012

..:: Resenha Neverending Shadows: Adormecidos ::..


A leitora e também escritora Catalina Terrassa fez uma resenha e um vídeo comentado o que achou do livro, se você ainda está em dúvidas sobre comprar ou não, então nada melhor do que ouvir a opinião de quem comprou!

Sinopse:
Caleb Murdock é um vampiro poderoso e cruel que tem sob seu domínio a região norte da Espanha.

Assassino temido até mesmo entre outros vampiros, Caleb Murdock guarda um grande segredo sobre seu passado, um segredo que talvez mude sua existência por toda eternidade.

Após uma longa estadia em Portugal após a morte de seu pai, Antony Murdock, Caleb decide retornar para retomar não só os domínios da família, mas para mostrar aos humanos que aquela cidade ainda tem um dono e esse dono é ele, porém esse não é o único motivo de seu retorno.

Lembranças de seu passado amaldiçoado, muito além daquela vida, vêm à tona em sua mente e ele descobre quem fez realmente sua alma ser jogada nas trevas noturnas.

Anise Romanova está refugiada na Espanha e possue uma das profissões menos indigna entre as mulheres, trabalhando em um bordel para conquistar sua irmã.

Destino, simplesmente existem fatos que não podem ser mudados e Caleb terá que aprender a lidar com isso se quiser conviver ao lado da mulher por quem seu coração um dia bateu, ou então mata-la.



Resenha:
Como devoradora de livros de vampiros e escritora, é com muito prazer que faço essa resenha.
Faz mais de um ano, que não leio um livro de vampiros tão... Magnifico.


Numa das minhas muitas visitas ao site Clube de Autores, eu me deparei com o livro “Neverending Shadows” da autora Lana Lewis. Sim, ela é autora nacional, apesar do nome importado. Não sei se é pseudônimo ou ela é que nem eu, brasileira com nome estrangeiro.


Se você está atrás de um bom livro de vampiros, com uma história genuína e sombrio de verdade. “Neverending Shadows” corresponde as suas necessidades.


A autora consegue misturar dois temas atuais com primor: Reencarnação e vampiros.


Devo confessar que infelizmente esses dois temas andam sendo muito mal escritos. Os vampiros viraram príncipes encantados com carrão e toscos. A reencarnação é colocada a principio como uma maldição, mas que de maldição não tem nada. Ela ao invés de mostrar um lado sombrio acaba virando uma história de amor cor de rosa e sem sal.


A cada página que eu virava, ficava mais doida. Sim, doida, pois devido ao formato do livro não conseguia avançar na leitura. A minha versão é em papel A4 e o tamanho da fonte é número dez. Eu já li livros com fonte dez, mas em papel A5. Não sei se foi por causa do tamanho do papel. Mas as letras pareciam “distantes”, o que castigava minha miopia, mesmo com óculos.


Vi que a autora disponibilizou uma nova versão do livro em papel A5. Talvez agora seja menos “cruel” para pessoas como eu.


Vamos a história:

“Neverending Shadows” conta a história de Caleb Murdock – Um vampiro que carrega uma maldição.


Em sua primeira encarnação, ele foi humano e se apaixonou pela mulher errada. Então uma maldição caiu sobre ele transformando-o em vampiro, mas isso não é tudo. Ele é “obrigado” a sempre matar a mulher que ama. Seja bebendo seu sangue ou por causa de seus atos.


Sei, a história lembra o livro “Fallen” da autora americana Lauren Kate. Mas só parece, pois conforme você lê, percebe que a história é muito bem escrita. “Fallen” é um livro bonzinho, mas sei lá, os personagens são muito vazios, principalmente a protagonista, que é uma versão melhorada da Bella (Crepúsculo).


A história começa com Anise (Mulher por quem Caleb se apaixonou quando humano). Nessa nova reencarnação, ela é uma cortesã, que trabalha num prostíbulo espanhol. Ela vende o corpo para sustentar a irmã caçula.


Numa noite após o serviço. Anise vê um vampiro (Caleb) matar uma das prostitutas que trabalha com ela. Após o assassinato, Anise é contratada por um homem rico e deve acompanhá-lo a um baile. Mal sabe que o homem é Caleb. Na manhã seguinte ao baile ela é contratada a servi-lo por um mês. Ela se muda para sua mansão, onde passa a ser humilhada, idolatrada, ameaçada e mais um pouco humilhada.


A intensão de Caleb é fazer com que Anise se lembre de suas vidas passadas e com sorte, não matá-la novamente.


Um dos pontos positivos da história é que a autora não usou o tema Vampiro se apaixona por humana, que pra mim já causou.

Caleb encontrou seu grande amor ainda humano e na infância.
Outro ponto positivo é o toque sombrio. Várias vezes eu imaginava as cenas no estilo Tim Burton.
Como no filme “A lenda do cavaleiro sem cabeça.” Já pensou o Johnny Deep de Caleb?



Agora vamos aos personagens:


Anise Romanova – Apesar dela não se lembrar de suas vidas passadas, ela carrega o peso de sua maldição.
Ela não é uma donzela em perigo, que fica esperando seu príncipe encantado. Ela não acredita no amor e não tem ilusões. Sempre está com os pés no chão. Tudo que ela faz é em nome ao seu amor pela irmã.

Sophie (A irmã caçula) – Ela é um pouco mimada e irritante. Mas ela é importante para a trama. Pena que não dá para contar mais coisas sobre ela, pois seria Spoiler.

Emily (A empregada tagarela) – Diria que ela tem uma devoção cega pelo patrão.

Joana (Outra empregada de Caleb) – Ela é do tipo de mulher que sofre, mas no fundo gosta.

Lucas Murdock (Irmão caçula de Caleb) – No meio de tantos vampiros maus. Ele é o bom moço.

Thierry (O lobisomem) – Ele foi o personagem que mais amei. A cena quando ele se transforma em lobisomem pela primeira vez é de cortar o coração. Mas eu amei.

Caleb Murdock – Vou descrevê-lo como vilão. Ou anti herói? OK! Ele é amaldiçoado, mas sei lá... Ele só comete os mesmos erros porque não é honesto desde o início.

Agora vou esperar com ansiedade pela continuação.

Blog da autora: http://lanalewlivros.blogspot.com/
Onde compra: (Versão A4) http://www.clubedeautores.com.br/book/121042--Neverending_Shadows
(Versão A5) http://www.clubedeautores.com.br/book/123542--Neverending_Shadows

Página do livro no Skoob (Sim, eu o cadastrei. Vale a pena adicioná-lo na sua estante virtual)
http://www.skoob.com.br/livro/221669

Para vocês que também querem conhecer o Blog da autora Catalina Terrassa:

http://catalinaterrassa.blogspot.com.br/

Para quem quiser conferir o vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=wZIXUsAUOkg

Mais uma vez gostaria de agradecer imensamente a resenha e ao vídeo, fico muito feliz que tenha gostado!

quinta-feira, 29 de março de 2012

Melting...








"Talvez ele fosse meu inimigo, talvez aquilo fosse apenas uma amizade mal compreendida. Eu não sabia, mas sabia que meu fim estava próximo, próximo a Raphael Grifftis.
As memórias da noite passada eram confusas e minha cabeça doía. Me lembrava do salão cheio de humanos e vampiros, me lembrava das luzes piscante e da pressão nada gentil em meu rosto, me fazendo engolir aquela bebida. Eu me lebrava dele, seu olhar, sua expressão. Mas não me lembrava de nada que pudesse explicar porque...eu cheirava a sangue fresco... sangue humano. O que fiz nessa noite?
Eu não sei, sempre que tento recordar minha cabeça dói, meu corpo dói e começo a acreditar que seja melhor que essas memórias continuem ocultas porque se ele estava lá, então nada do que fiz pode ter sido bom.
Talvez eu esteja sendo covarde, mas tenho medo do que sinto, do que me transformo quando ele está por perto. Eu não queria mais ficar perto dele, queria que papai tivesse me levado embora. Foi difícil mentir para ele e vê-lo partir.
De qualquer forma eu ainda não peguei meu celular e eu preciso fazer isso. Esta noite, eu vou acabar com isso esta noite!"

Sara Augistine, 13 de maio

Os dedos pálidos de Raphael giravam o celular de Sara entre os dedos enquanto na outra mão ele segurava o cigarro aceso. Havia acabado de tomar um longo banho e estava planejando onde caçaria, afinal depois da morte de Audrey estava difícil conseguir alguma coisa na Academia. A segurança em torno dos alunos da Day Class estava ainda mais forte e como se não bastasse isso ainda havia Sara.

A vampira sempre aparecia quando ele estava prestes a ter o que queria, sempre o atrapalhava. Se bem que depois do que havia acontecido da última vez ele duvidava que Sara fosse interferir mais uma vez, mas era claro que ele não poderia arriscar.

Ele se virou sobre a cama e deixou o celular sobre o criado mudo, era hora de escolher algo para vestir afinal ainda estava apenas com calças jeans, pretas, na cor que ele mais apreciava. Sua jaqueta também era outra peça garantida, mas ele precisava de uma camisa, nada muito elegante, ele não pretendia ir a nenhuma boate ou algo assim. Uma caçada rápida pela rua seria o suficiente.

Ele mal havia alcançado o guarda roupas quando sentiu a presença de Sara parada junto à porta. O que ela queria dessa vez? Ah sim, era óbvio, assim como era óbvio que ele não devolveria. Ter o celular dela estava ficando cada vez mais divertido, mesmo que o aparelho estivesse descarregado e ele não pudesse fuçar tanto quanto gostaria ter o que era mais precioso para Sara era algo maravilhoso.

Ele abriu a porta do armário e correu os olhos pelas camisetas e camisas que tinha esperando Sara bater à porta ou qualquer coisa assim, mas ela permanecia parada ali, como se estivesse decidindo o que fazer. Imaginar a expressão da vampira do outro lado da porta fez Raphael sorrir e se adiantar, abrindo à porta, seus lábios ainda com o sorriso maldoso de segundos atrás.

- O que você quer? - ele perguntou encarando a expressão surpresa da vampira, durou pouco, ela logo fechou a cara - Entre - os olhos dele se semicerraram enquanto ele dava espaço para ela passar.

Sara hesitou entrar ali não era o melhor a se fazer, ela sabia disso, mas precisava conversar com ele, precisava de seu celular.

Seu pai a havia visitado no dia anterior e havia perguntado o porquê dela não responder mais os e-mails. Ela não disse a verdade, jamais poderia dizer.
- Desculpe papai, mas um amigo muito querido do turno diurno está com problemas na família, sua mãe está doente e ele não tem celular, pediu o meu emprestado e eu não tive como negar... - ela respondeu de cabeça baixa. Não, não era nenhum aluno do turno diurno e muito menos alguém que precisasse que estava com seu celular - Eu pedi que respondesse seus e-mails e me avisasse quando chegassem, mas ele deve ter esquecido, está tão aflito papai - ela suspirou, era tão ruim mentir para seu pai.

- Tudo bem, eu entendo. Fico feliz por você ajudá-lo com algo que é tão precioso para você - Fernando acariciou os cabelos da filha e ela o abraçou.

Sara não queria que o pai visse a expressão dolorosa em seu rosto, estava a ponto de chorar, de quebrar diante dele, mas não faria isso. Ele já tinha preocupações demais, ela não queria que sua inutilidade em defender piorasse a situação de Fernando. Ele contava com ela, havia enviado ela para Academia julgando que ela estaria segura, que aprenderia a conviver com os dois mundos.

- Eu te amo papai, me desculpe por não ter avisado antes - ela disse enquanto o abraçava poucas horas depois ele se foi, voltaria par ao Japão naquela tarde mesmo. A mãe de Sara não pode ir.

Sara entrou no quarto de Raphael, seus lábios numa linha reta, os olhos sem analisar a bagunça do lugar, sem notar a cama vazia ao lado da cama de Raphael, o companheiro de quarto dele havia deixado a Academia. Ela só reparou no aparelho que estava sobre o criado mudo ao lado da cama dele, segurando-se para não saltar ali e tentar apanhá-lo. Seria um esforço inútil.

- Então, o que você quer? - a voz de Raphael ao seu lado a fez se encolher, agressiva, tanto quanto a mão dele que agora apertava seu braço. Ela não havia feito nada, mantivera-se o mais distante possível, mas agora ela precisava do aparelho de volta.

Sara engoliu em seco, erguendo o olhar temeroso e ao mesmo tempo cheio de raiva para Raphael, seus olhos encontrando a imensidão azulada que parecia engoli-la.

- Meu celular - ela disse num tom baixo, logo desviando o olhar dele para o aparelho sobre o criado mudo - Por favor, meu pai esteve aqui, você já deve saber e ele ficou preocupado, queria me dar outro aparelho. Não é justo o que está fazendo - ela continuou naquele mesmo tom baixo, mas sem encará-lo, havia uma pontada de dor mal disfarçada em sua voz, não pelo aperto no braço, as agressões de Raphael pareciam não mais doer, ela já sabia em quais pontos ele a feriria, então o corpo parecia ter se acostumado aquilo.

- Sim eu soube - Raphael passou a língua pelos lábios e então soltou a braço dela, empurrando-a para frente - Tudo bem, eu devolvo - ele respondeu simplesmente e Sara o encarou, mais uma vez surpresa.

- E-eu posso? - ela apontou o aparelho e Raphael cruzou os braços sobre o peito, os músculos se destacando. Parecia novamente uma estátua daquele modo, os olhos parados sobre ela. Seria assim tão fácil?

Sara deu um passo para frente, mas antes que pudesse avançar ele bloqueou seu caminho. Era claro que não seria tão fácil assim.

- Mas quero algo em troca Sara afinal você me deve muito - mais uma vez ele segurava o braço dela, mas ao invés de afastá-la, ele a puxou para si.
Num impulso Sara ergueu a mão livre e colocou sobre o peito dele, sentindo a pele fria sob os dedos, sentindo o hálito frio dele bater contra seu rosto. Por que ele sempre tinha que ficar tão próximo? Apenas para esmagá-la com sua presença? Não conseguia ver que a simples existência dele já era bastante esmagadora depois de tudo?

- O-o que quer? - ela fechou os olhos, a coragem de encará-lo, de cuspir qualquer insulto na cara dele ainda não havia chegado e ela não queria ver o quão próximo ele estava, aquelas sensações que ele despertava não eram bem vindas.

- Algo simples, algo que você não lutou para ter, não pecou para ter - ele abaixou o rosto, aproximando-se do ouvido dela - Sem represálias.
Sara não entendeu as palavras dele embora seus instintos a alertassem de que, fosse e o que fosse não era algo bom.

Raphael apenas havia resolvido juntar o útil ao agradável, afinal o cheiro doce e forte do sangue de Sara havia se espalhado assim que ela entrara no quarto, ainda mais tentador por conta do sangue que ela havia bebido um sangue tão poderoso que era servido de bom grado à garota, um sangue que até mesmo os nobres acima deles adorariam ter.

- Não entendeu não é? - ele soltou o braço dela e ergueu a mão até o pescoço dela, afastando os longos cabelos castanhos, seus olhos fixos na veia do pescoço - Seu pai veio visitá-la, está tão bem alimentada, sem esforço algum e eu por sua culpa não posso me alimentar. Ah Sara, você é tão injusta... - ele sussurrou seus dedos deslizando pela pele quente e macia dela, quase como de uma humana. Sara era tão diferente dele, dolorosamente diferente.

- Não! - ela se afastou, recuando dois passos, mas ele agarrou o braço dela novamente, os olhos azuis ficando escarlates no mesmo instante.

- O que? Você vai dizer que estou mentindo? Você me deve isso! - ele vociferou contra o rosto dela, puxando-a para o lado e a empurrando, fazendo-a cair sentada na cama - Sabe muito bem que posso tomar a força, mas quero garantir que não vai usar seus truques sujos para me ferir! Estou com sede Sara você com certeza não vai querer me ver enfurecido assim e, como disse, devolvo seu celular. Nós dois saímos ganhando - Por que caçar quando havia um sangue tão precioso ali?

Sara afundou as mãos no colchão, as unhas fincadas com força contra o lençol, o tecido começando a ceder a sua força. Dar o sangue de seu pai assim, desse modo, para alguém como Raphael era praticamente inaceitável.

- O que vai ser Sara? Vou precisar rasgá-la em pedaços? - ele se aproximou dela, o olhar de Sara subindo pelas longas pernas vestidas de preto, contrastando imensamente com a pele clara e perfeita que cobria os músculos definidos e fortes do vampiro. Ela era tão pequena diante dele.

-... - Sara não sabia o que responder, ela não queria dar seu sangue para ele, jamais faria isso de bom grado, mas talvez aquele fosse o momento para por um fim em tudo aquilo, deixar Raphael tomar o sangue que quisesse, mesmo que ela sentisse sede depois, então estaria livre dele -... - sem nada dizer ela afastou os cabelos do próprio pescoço e abaixou o olhar novamente. Aquilo seria bem mais doloroso do que ela imaginava, tinha certeza de que Raphael não seria gentil ao beber seu sangue, ele a feriria o máximo que pudesse.

- Muito bom... - ele disse enquanto se ajoelhava diante da vampira, uma mão sobre a coxa dela enquanto a outra segurava sua nuca com firmeza. Ela não ia fugir, não tinha porque fugir.

O corpo de Sara estremeceu ao sentir o toque frio dos lábios de Raphael sobre a pele dela, suas unhas fincando-se ainda mais no colchão enquanto ela entreabriu os lábios. Aquelas sensações, as mesmas das noites anteriores. Ódio misturado ao desconhecido. E ela não queria desvendar o que era aquilo.

A língua dele passeou sobre sua pele, sobre sua veia e ela engoliu em seco ao sentir as presas dele deslizarem ali, afundarem, fazendo-a erguer a mão e segurar o ombro dele. Ela pretendia afastá-lo? Para que? Afinal o sangue dela agora era sugado pelos lábios dele num longo gole enquanto as presas dele afundavam ainda mais em sua pele.

A mão de Raphael subiu para a cintura de Sara, empurrando-a para trás enquanto ele se forçava mais para frente, sobre ela, obrigando-a a se deitar.
Sara deixou-se guiar, deitando-se na cama, o cheiro amadeirado de Raphael espalhado naqueles lençóis, fazendo mais uma vez ela se perguntar como não havia cheiro de fumaça ou tabaco ali, sendo que ele fumava praticamente o tempo todo.

Um calafrio interrompeu seu pensamento no momento em que Sara sentiu o peso do corpo de Raphael sobre o seu, a mão que segurava sua nuca a soltando, ele agora usava o braço para se apoiar na cama, mas a outra mão que estava em sua cintura subiu lentamente até alcançar o rosto dela e segurá-lo com firmeza.

Ele passou uma das pernas entre as dela e sorveu mais um longo gole de sangue, seu corpo praticamente a esmagando, fazendo-a respirar pela boca, fazendo-a ofegar e tentar empurrá-lo, mas ele não cedeu um milímetro sequer, pelo contrário, ele apertou-se ainda mais contra ela, um gemido abafado escapando dos lábios dele enquanto ele apertava sua coxa contra a dela.

A mão de Sara se fechou sobre o peito dele, as unhas arranhando a pele fria do outro vampiro, o cheiro do sangue dele se fazendo sentir um segundo depois, fazendo a garganta de Sara arder.

-... Não ela murmurou como uma prece, como se tentasse impedir que o que sentia ao sentir o cheiro do sangue dele, ao lembrar-se das sensações que lhe causavam -... - o polegar dele deslizou pelo rosto dela e parou sobre os lábios dela, como se quisesse silenciá-la e mais um longo gole do sangue quente e doce de Sara desceu pela garganta de Raphael.

Ela fechou os olhos, uma das mãos fechadas sob o peito dele e a outra no outro ombro, inúteis, tanto quanto a tentativa dela em conter aquele desejo que começava a queimá-la por dentro.

Ela virou o rosto, livrando-se do dedo sobre seus lábios, sua bochecha ficando colada a bochecha dele, sentindo cada movimento que ele fazia enquanto bebia seu sangue.

-... Por favor... - ela só queria se afastar dele antes que fosse tarde, queria que ele parasse antes que a vontade de fazer o mesmo que começava a despertar nela ficasse tão forte que ela não pudesse se controlar.

- cala a boca... - ele descravou as presas da pele dela e se afastou, encarando-a, seus olhos estavam azuis novamente, frios sobre o rosto dela, sobre os olhos que ela abria lentamente.

Ao contrário dele, os olhos dela estavam vermelhos, famintos e desejosos pelo sangue dele, mesmo sem estar com a menor sede.

Raphael sorriu, seus lábios vermelhos pelo sangue de Sara, satisfeito em ver a vampira daquele modo. Ele deixou os dedos correrem pelos cabelos espalhados no colchão e então tornou a se inclinar sobre ela, ajeitando-se melhor sobre seu corpo.

- Me morda - ele sussurrou no ouvido de Sara, a voz quente enquanto os dedos dele se enroscavam e puxavam levemente os cabelos dela - me morda e faça nosso laço ficar mais forte ainda - ele deslizou o nariz pela bochecha dela e então voltou a sugar o sangue dos dois furos sobre a pele da vampira.

Ele ergueu a mão, obrigando-a a virar o rosto em direção a ele, fazendo-a enterrar o nariz nos cabelos platinados dele. O cheiro amadeirado encheu seus pulmões e a mão que estava no ombro dele deslizou para a nuca dele, para os cabelos e em seguida ela abaixou o rosto.

Que diferença faria depois de tudo? Ela não sabia, ela sequer sabia o que estava sentindo, porque queria tanto o sangue frio e cheio de dor dele naquele momento.

Ela moveu o rosto, afastando os cabelos dele, buscando um modo de mordê-lo e logo sua boca encontrou o pescoço dele, logo sua língua sentia o gosto frio da pele dele e suas presas afundavam.

Raphael gemeu e mais uma vez ela arranhou a nuca dele, sua mão descendo pelas costas nuas dele, deixando cinco finas linhas vermelhas.
Ele apertou mais o quadril contra a coxa dela e dessa vez um gemido escapou de Sara. Todas aquelas sensações, toda a dor que agora ela sentia vir com o sangue dele, como se tudo a rasgasse por dentro.

Ela tomou um gole, seu corpo reagindo a cada toque de Raphael, parecendo queimar, a mão dele que estava em seus cabelos agora descia pela lateral do corpo dela, puxando a coxa dela, erguendo-a para a lateral do corpo dele. Não podia ser, mas ela mal podia pensar.

Outro gemido dele e ela ofegou, seu peito subia e descia rapidamente, mesmo com o corpo dele sobre o dela, mesmo que ela tentasse impedir de sentir qualquer coisa e tudo o que ela pode fazer foi abraçar às costas dele com os dois braços, tão largas, suas mãos mal podiam se encontrar.

Raphael afastou-se mais uma vez, lambendo e cicatrizando os furos no pescoço dela, se afastando o suficiente para que ela também entendesse que era hora de parar, mas ele não a deixou fechar o corte em seu pescoço, ele mesmo fez isso.

Ele apoiou o rosto no ombro dela e ficou ali, um estranho silêncio imperando sobre os dois, quebrado apenas pela respiração de Sara enquanto ele permanecia imóvel sobre ela.

Aos poucos a respiração de Sara foi se acalmando, em partes pelo fato dele estar imóvel, seu colo subindo e descendo lentamente, seus olhos fixos nas tábuas do teto.

Ela não sabia o que fazer, ela não sabia o que dizer. Ela deixou seu olhar vagar pelas tábuas, começando a contá-las, como se aqueles fossem os segundos para Raphael se levantar e expulsá-la do quarto aos berros, jogá-la pela janela ou qualquer coisa assim.

Longos minutos se passaram e o vampiro continuava imóvel sobre ela. Sara sentia seu corpo dormente, suas mãos desceram pelas costas dele até alcançarem a cintura dele e ela tentou se mover.

-... Raphael... - a voz dela saiu rouca, baixa e como se a voz dela o despertasse de um transe ele se levantou, os cabelos brancos caindo sobre os olhos, cobrindo-os, impedindo-a de vê-los.

Os braços dela escorregaram para o colchão e ele se sentou de costas para ela, levantando-se em seguida e indo para a janela.

Raphael enfiou as mãos nos bolsos, tirando seu cigarro e seu isqueiro dali, acendendo e tragando longamente, soltando a fumaça pela janela aberta.
Naquele momento Sara desejou ser como seu pai, poder ler mentes, apenas para descobrir o que Raphael estava pensando, mas talvez os pensamentos dele não fossem o que ela gostaria de ouvir.

Raphael se virou e foi até o guarda roupas, pegando a primeira camiseta que vira e se vestindo com ela.

- Eu já volto - ele disse, passando pela porta e apanhando a chave, trancando Sara dentro do quarto.

Ela se sentou na cama, ainda atordoada, perguntando-se onde ele estaria indo e porque havia trancado ela, mas ela logo se distraiu das próprias perguntas quando se virou e viu o celular.

Ela virou-se e engatinho sobre o colchão, estendendo a mão e apanhando o telefone. Estava descarregado, mas não tinha problema, finalmente estava com ela, finalmente ela não precisaria mais se humilhar para Raphael.

Ela havia se virado novamente quando a porta se abriu, Raphael entrou, mas havia outra pessoa com ele, outro vampiro.

-... Então ela é virgem? - Sara logo reconheceu a voz de Filipe Matrelli, um tom frio e cheio de maldade que a fez soltar o celular sobre o colchão e se levantar.

- É - Raphael respondeu seus olhos fixos na garota sentada na cama - ela é - ele desviou o olhar para o cigarro nas pontas dos dedos, abaixando a cabeça.

- Tudo bem - Filipe sacou algumas notas de dentro do bolso da calça e estendeu para Raphael - por ela e pelo quarto - ele disse enquanto Raphael apanhava as notas. Ele sequer contou quanto tinha, apenas enfiou nos bolsos e cruzou os braços enquanto se recostava na escrivaninha.

- Olá Sara - Filipe se virou para a vampira, mas Sara ainda tinha seus olhos fixos em Raphael, ela sentia o sangue gelado de Raphael ainda mais frio dentro dela, sentia seu corpo duro, mal conseguia se mover depois do que ouvira - Ela parece decepcionada com você Grifais - Filipe comentou enquanto se aproximava da vampira.

- Não tem porque, ela me conhece bem... - a voz dele saiu mortificada e ele desviou o olhar dela - eu não me importo com o que faça, terei prazer em assistir - ele colocou o cigarro na boca e ficou encarando os dois.

Filipe voltou a olhar a vampira na cama, uma mestiça, um rank inferior ao seu. Seria engraçado fazê-la de brinquedinho, ouvi-la gritar e pedir que parasse e saber que ela não poderia reagir.

Quando Filipe estava próximo Sara se levantou, os olhos vermelhos. Ela não deixaria, ela já havia entendido a intenção do vampiro nobre, mas ela ainda não conseguia entender porque...

A frase de Raphael foi como uma flechada, o suficiente para que Sara se distraísse o suficiente e para que a dor se espalhasse dentro dela. Era tão claro, o que ela estava esperando? Estava esperando que ele a protegesse de alguma coisa?

Ela se lançou contra Filipe, a raiva que sentia não era dele, embora a atitude dele fosse nojenta, mas o ódio de Raphael superava qualquer sentimento. Era ele quem ela queria destroçar, era ele quem fazia o ódio dela queimar.

- Maldito! - ela gritou suas unhas acertando o rosto de Filipe e deixando quatro longos rasgos na pele de Filipe.

Ele recuou, levando a mão ao rosto e rindo, olhando-a com desdém.

- Isso não foi gentil, ainda mais com alguém que está acima de você. Você tinha razão Raphael, ela precisa aprender a se comportar! - os olhos de Filipe se acenderam e ele partiu para cima de Sara, sua mão fechada acertando o rosto dela, fazendo-a cair para trás. Se Raphael era mais forte do que ela o que dizer de um nobre?

Sara cambaleou para trás, caindo sentada na cama e Filipe aproveitou o momento para atacá-la novamente. Ele lançou-se sobre ela e então acertou outro soco em seu rosto, pressionando o joelho sobre as costelas dela enquanto segurava o rosto dela com força, os olhos brilhando de raiva. Quem aquela mestiça achava que era para feri-lo? Seria uma honra abrir as pernas para ele, ela deveria fazer de bom grado!

- Baiazinha imunda, saiba que quando mais relutar com mais vontade vai me deixar - ele disse, a mão deslizando para a boca dela, impedindo-a de gritar - se tentar me morder eu arrancarei sua mandíbula e além de uma vaca usada você vai ser aleijada! - se a agressividade de Raphael a assustava, a agressividade de Filipe a destruiu. Ele sim seria capaz de matá-la sem pestanejar.

Encostado na escrivaninha Raphael continuava a assistir tudo com uma expressão impassível no rosto, tragando seu cigarro lentamente.
Então era aquilo que Raphael queria? Vê-la destruída por completo em um show macabro?

- Acho que agora você entendeu não? - Filipe tirou o joelho das costelas dela e então se inclinou sobre ela. Aquilo a destruiria por dentro, mas era claro que ela não daria o show que aqueles dois queriam. Se ele queria tomá-la então que fosse logo, ela não lutaria, não exporia seu desespero, ninguém a ajudaria afinal.

Os olhos dela se apagaram, o castanho fincando ainda mais escuro que de costume, a expressão de seu rosto não trazia raiva ou ódio, estava tão vazia quanto seus olhos fixos no teto. Ela sequer via o garoto sobre ela.

- Tão passiva, vamos ver se vai continuar assim quando eu começar - Filipe deitou-se sobre Sara, posicionando-se entre as pernas dela, suas mãos puxando as coxas dela para a lateral de seu corpo enquanto ele passava o nariz pela bochecha dela - você tem um cheiro quase enlouquecedor mestiça, pena seu sangue ser tão sujo - ele riu, mordendo-a ali.

Sara já sentia o cheiro de seu sangue no ar antes dele mordê-la, afinal os socos de Filipe havia feito pequenos cortes em seu rosto e ela sequer se dera o trabalho de se curar.

A mordida em seu rosto doeu, mas ela limitou-se a entreabrir os lábios feridos, nenhum som escapando deles, não daria o gosto de ouvi-la gemer de dor, de alimentar ainda mais a atitude doentia deles.

Seu estômago embrulho e ela apertou os lábios quando sentiu as mãos de Filipe descendo por sua camisa do uniforme, abrindo os botões, as mãos dele apertando e arranhando o colo macio e quente da vampira.

- Tão gostosinha como eu não notei isso antes, todas vocês mestiças deveriam ser assim, como prostitutas nossa. Afinal vocês são quentes como as humanas e resistentes como às vampiras. Com certeza vou me divertir mais com você do que com Cate - ele disse a voz rouca pelo desejo que começava a ficar explícito pelo volume em suas calças, volume que ele fazia questão de pressionar contra ela.

Ele deixou a mão deslizar até a coxa dela, passando-a por debaixo da saia, arranhando-a até seus dedos encontrarem a roupa íntima dela.

Os olhos de Raphael continuavam sobre a cena, agora estavam semicerrados enquanto ele apagava seu cigarro no cinzeiro que estava sobre a escrivaninha.

"Reaja vampira estúpida!" - ele trincou os dentes enquanto assistia a cena. Agora Filipe havia se afastado e abria as calças. Ela não faria nada? Não, ela simplesmente continuava olhando para o tento como se nada estivesse acontecendo.

- Agora vem a melhor parte - Filipe disse, acariciando o rosto de Sara - agora você vai gritar e sentir dor de verdade - ele disse enquanto voltava a se inclinar sobre ela.

- Chega - a voz de Raphael saiu baixa e ele deu um passo para frente - Saia do meu quarto - Raphael encarava Filipe que o olhava confuso - Está surdo Matrelli? Deixe essa cadela ai e suma daqui! - ele praticamente rosnou as palavras e Filipe se afastou de Sara, um sorriso doentio dançando em seus lábios.

- O que foi agora Grifftis? Ficou com dó da sua namoradinha? - ele comentou com desdém enquanto se virava para o outro vampiro.

- Dane-se nobre imundo, só quero que saia do quarto, se quiser arrastá-la com você faça isso, mas sumam da minha frente! - ele continuava a encarar Matrelli.

- Ora... - Filipe passou a língua pelos lábios - tudo bem, eu vou sair e sabe, não vou arrastá-la comigo, deixo o que sobrou dela para você.

- Foda-se - Raphael fechou as mãos em punhos, mas abriu e pegou as notas que Filipe havia lhe dado e estendeu para ele - Seu dinheiro de volta, afinal é o justo.

- Não quero, guarde para você, vai precisar para sustentar sua família de vampirinhos imundos com essa mestiça. É tão patético Grifftis, não consegue ver? Quando descobrir estará afundado numa vida medíocre. E eu que o considerei meu amigo e que achava que era um mestiço diferente

- Filipe riu e então deu as costas para Raphael - filho de um amor sujo, o que esperar de vocês? - ele disse indo rumo à porta e assim que saiu Raphael o seguiu.

- Maldito! - Raphael avançou sobre Filipe, empurrando-o e afundando a cabeça dele contra a parede do lado oposto. Ele não sabia porque o havia parado, mas aquilo não tinha importância, ele não falaria com ele daquele modo. Imundo, sujo, filho de humano! Aquelas frases que colocavam Raphael em seu lugar, ele nunca permitira aquilo.

De dentro do quarto Sara apenas ouvia a briga que se distanciava cada vez mais pelo corredor. Ela sentou-se lentamente na cama, suas mãos movendo-se de modo mecânico e abotoando a camisa novamente.

Se fosse mais forte talvez ela pudesse encarar Raphael e lhe dar os parabéns, afinal ele finalmente conseguira, ela estava destruída. Se fosse mais forte ela diria que ele tinha razão, era inútil. Mas ela não era forte e estava destruída, por dentro e por fora. Cada parte de seu corpo doía, capa parte de sua alma doía e se ele voltasse e a matasse não ia fazer nenhuma diferença.

A dor de todos aqueles momentos anteriores eram quase nada comparada ao que ela sentia naquele momento. Ela apanhou o celular e se levantou seus passos arrastados alcançaram a porta e seus olhos viram as manchas de sangue na parede rachada quando ela abriu a porta. Sequer se esforçou para saber de quem era o sangue, ela só queria chegar a seu quarto.

Era hora de por um ponto final naquilo, hora de se livrar de Raphael, não importava o que tivesse que fazer. O que havia acontecido havia sido o cúmulo de tudo afinal.

Tentando ignorar a dor que sentia Sara alcançou seu quarto, ela teria tempo para chorar no avião, no táxi de volta para casa, em qualquer lugar longe o bastante dali.

Uma mochila, seus cartões e dinheiro, seu celular descarregado, algumas roupas. Ela poderia mandar buscarem o resto de suas coisas depois, ela só queria sair dali o mais rápido possível.

Pensou em tomar um banho, livrar-se da sujeira sobre sua pele, mas isso seria perder tempo, a maior parte da sujeira já estava por dentro dela, de todos aqueles sentimentos e sensações que corriam em sua veia.

Ela limitou-se a trocar de roupa e pegar sua mochila com suas coisas. Apenas torcia para não encontrar nenhum dos dois no caminho, apenas torcia para que ao menos conseguisse sair daquela Academia. Aquele lugar havia arruinado quem ela era.

Pular o muro e chamar um táxi foram coisas automáticas. Se Raphael queria destruí-la com certeza dessa vez ele acertara, pois até mesmo o olhar de Sara perdera o brilho.

Dentro do táxi a jovem vampira abraçava à mochila, olhando a todo o momento pelo retrovisor do carro que se afastava lentamente, devagar demais para quem tinha urgência em se afastar.

Ela sabia que Raphael seria plenamente capaz de surgir em frente ao carro em movimento e causar um acidente, ou então atacar ao motorista e colocar a culpa nela e mais uma vez ela estaria presa às chantagens dele, mas para a sorte dela a estrada que ficava para trás estava vazia.

Os braços dela apertaram a mochila e ela se encolheu no banco, o taxista lançando o olhar curioso sobre ela, se perguntando o que poderia ter acontecido com a menina rica do famoso internato de Whistler, mas como bom motorista ele aprendeu a não se meter nos assuntos de seus passageiros. Ela estava com sua mochila, talvez tenha sido expulsa da escola e estivesse voltando para casa. Não era problema dele.

Ela lhe pedira apenas para levá-la ao aeroporto e era isso que ele faria, afinal era uma longa viagem e a corrida seria bastante lucrativa. Aquilo sim era um problema dele.

Sara sentia os olhos do motorista sobre ela através do retrovisor e aquilo a fez engolir a vontade de chorar, sabia que se chorasse ele entenderia que ela estava fugindo da Academia e poderia levá-la de volta. Se continuasse apenas com a expressão assustada e perdida talvez ele pensasse que ela estivesse em encrencas.

A viagem duraria por cerca de três horas e aos poucos Sara foi relaxando. A perspectiva de estar longe de Raphael Grifftis, fora do alcance em qualquer coisa que ele pudesse lhe fazer ajudava bastante, muito embora a cada moto que passasse ao lado deles na estrada Sara quase desse um pulo no banco.

Ela viajava com as janelas fechadas, isso impedia o cheiro das árvores de invadirem o carro, o aroma amadeirado da floresta em volta da estrada lhe lembrava o cheiro dele e aquilo era tudo o que ela não queria.

Ela lançou um olhar ao motorista e ele pigarreou, desviando o olhar dela. Será que ele havia reparado nos pequenos machucados que ainda havia em seu rosto? Talvez não. Ela tirou os cabelos detrás das orelhas e os deixou cobrir mais seu rosto, forçando um sorriso ao motorista.

- É uma longa viagem - ela comentou, talvez fosse melhor sanar logo a curiosidade dele com alguma mentira, assim ele não a ficaria encarando - Mas mamãe ficou doente e papai insistiu que eu voltasse para casa ainda hoje, para cuidar dela - sara apertou a mochila em seus braços - Estou muito preocupada.

O motorista assentiu, retribuindo o sorriso da menina. Então era aquilo o que havia acontecido?

- Sua mãe ficara bem - ele disse, assentindo com a cabeça e voltando a olhar para a estrada à frente. Ao lado, além das árvores, era possível ouvir o barulho da rebentação, baixo e reconfortante - Seu pai só deve estar exagerando na preocupação - ele completou, achando que a garota estava aflita por conta daquilo.

Mais um sorriso forçado de Sara, tinha que fingir que estava aflita por um motivo, tinha que mentir usando os próprios pais, tudo para omitir a real razão de estar tão destruída.

"Eu odeio você... faço questão de voltar para derrotá-lo um dia Grifftis..." - ela pensou, lembrando-se do olhar dele enquanto assistia tudo, segurando um rosnado.

Mais lembranças, como se dar motivos para justificar sua aflição ao motorista houvesse aberto uma porta e todas elas entrassem de uma vez.
O sorriso doentio que a assombrava, os olhos azuis que pareciam sugar-lhe a alma, pareciam descobrir cada recanto obscuro que havia em Sara, despertando sua natureza, seus instintos. O sangue que a cortava e feria tanto quanto as mãos dele. A presença esmagadora.

Desde o primeiro dia na cafeteria até aquele momento, os encontros inevitáveis causados pelo destino, quando tudo o que ela queria era nunca mais vê-lo, como o encontro na pista de patinação, a primeira vez em que ela bebera sangue dele.

Depois o encontro na sala de música e o ataque a Audrey, ele a transformara em cúmplice de assassinato naquela noite.

À noite na boate, embora sua mente pouco se lembrasse do que havia acontecido ela tinha certeza de que não havia sido algo bom, o sangue humano que corria em suas veias deixava claro isso.

"Eu odeio você..." - ela repetiu em sua mente, sentindo as lágrimas correrem pelas bochechas, um olhar de pena do motorista caindo sobre ela - "mil vezes..." - ela abaixou a cabeça, não queria ver aquele olhar, principalmente porque estava mentindo.

"Sabe o que mais odeio em você? Você é hipócrita!" - ela lembrou-se do que ele havia dito, fechando os olhos apertados. Ela não era hipócrita, ela só...

Ela lembrou-se então da sensação estranha que despertava quando ele se aproximava, quando ele a tocava, lembrou-se do peso do corpo dele sobre o dela, da mordida dele. Era tão dolorosa, mas ela havia desejado ela. Talvez ele tivesse razão.

"Não!" - um soluço escapou e ela assustou-se com o próprio descontrole, as lágrimas rolavam por seu rosto e faziam a pele arder, fartas, escorrendo por seu queixo para o pescoço, para dentro da blusa.

- Você está bem? - a voz do motorista era cheia de preocupação e ele chegou a diminuir a velocidade do carro, mas Sara pediu que continuasse.
- M-me desculpe, só estou preocupada com mamãe... - ela respondeu, sentindo-se suja pela mentira, por despertar preocupação àquele

desconhecido. Um humano, um humano desconhecido preocupado com ela, alguém que sequer imaginava o que ela era, do que era capaz. Por isso ela os amava - me desculpe... - ela falou novamente, secando o rosto nas mangas do casaco, sentindo-se nervosa, só quando tocou o rosto notou que as mãos tremiam. Raphael estava destruindo mais do que seus sentimentos, mas seu físico já começava a perder o controle.

Ela forçou a olhar pela janela, obrigando-se a prestar atenção à estrada. A placa anunciava que estavam chegando a Vancouver e como as árvores começavam a diminuir ela abriu a janela. Agora mais carros passavam pelo táxi e Sara limitou-se a prestar atenção em suas placas e montar palavras com elas.

Mais meia hora e o carro entrava na movimentada área de desembarque do aeroporto. Ela sacou a carteira enquanto o motorista manobrava e separou as notas. Havia sido uma viagem cara, mas ela não se importava, seu pai havia lhe dado um bom dinheiro, para que ela se divertisse.

Uma onda de remorso a invadiu enquanto ela entregava as notas e agradecia ao motorista.

- Obrigada e me desculpe pela longa viagem a esse horário - Sara disse enquanto desembarcava, secando o rosto mais uma vez e arrumando os cabelos desgrenhados por conta do vento da estrada.

- Se cuide e melhoras para sua mãe - o motorista desejou e logo partiu, precisava voltar logo para a cidade, precisava voltar para sua família.
Sozinha Sara olhou em volta, o aeroporto estava bem movimento, pessoas iam e vinham com malas, com suas famílias, sozinhas. Ela suspirou a respiração saindo entrecortada enquanto ela pensava no que fazer. Sentia-se cansada, suas mãos ainda tremiam e ela tratou de enfiá-las no bolso do moletom. Talvez fosse uma boa ideia tomar um café forte, comer algo, assim poderia se acalmar.

Ela entrou no aeroporto, seus olhos correndo sobre as pessoas ali, as inúmeras lojas e lanchonetes, escolhendo a mais movimentada de todas e entrando. Queria-se se distrair ficar sozinha não seria uma boa escolha.

Ela pediu um café forte, rosquinhas e um suco de laranja, descobrindo-se com fome quanto deu a primeira dentada no pão doce e bebeu um gole do café. A bebida quente foi bem recebida por seu estômago.

"Talvez tenha sido porque ele bebeu meu sangue..." - ela pensou, colocando a mão sobre o pescoço, a pele pareceu arder quando ela tocou onde Raphael havia mordido e ela estremeceu. Mais lembranças, nenhuma bem vinda.

Ela fechou os olhos tentando afastar a imagem de Raphael de sua mente, mas o momento em que ele a mordera naquela noite ia e vinha - "Não, por favor..." - ela envolveu o copo de isopor coma mão e suspirou. Era melhor terminar de comer e ir comprar a passagem. Só ligaria ao pai quando estivesse na Espanha, assim não teria como ele mandá-la de volta, ao menos não no mesmo dia.

Um raio forte atingiu o chão, surpreendendo não somente Sara como aos demais passageiros, afinal o céu estava limpo quando ela entrou no aeroporto.

As luzes piscaram, mas logo se estabilizaram, assim que o som do trovão se perdeu. Sara sentiu um arrepio quando olhou para a janela e viu a chuva que começava a cair do lado de fora, quando viu seu próprio reflexo.

"Zumbi..." - ela ergueu a mão e tocou a ponta do nariz do próprio reflexo, sorrindo, levantando-se e então saindo da lanchonete após pagar seu lanche.

Os guichês estavam praticamente vazios, a maioria das pessoas compravam a passagem por antecipação.

- Boa noite, em que posso ajudá-la? - a atendente perguntou com um sorriso no rosto e Sara retribuiu o sorriso, sentindo o alívio por estar a um passo de sua liberdade.

- Boa noite, eu queria uma passagem para Madri - sara remexia na bolsa em busca de sua carteira.

- Seus documentos, por favor? - a funcionária pediu e Sara sacou o passaporte e entregou, voltando a carteira e pegando o cartão de crédito - Seus pais estão com você? Ou você tem autorização?

A pergunta fez Sara parar, seu corpo congelando, toda a cor que havia voltado agora se esvaía de seu rosto.

- O que disse? - ela perguntou, ainda não conseguia acreditar no que seus ouvidos estavam ouvindo, sua mente processando a informação, lembrando-se de quando havia partido da Espanha, a autorização para deixar os pais sem os pais.

- A autorização de seus pais para deixar o país sozinha, ou você é emancipada? - a mulher perguntou e Sara abaixou a cabeça. Nenhum dos dois, ela não tinha nenhum dos dois.

Um balde de água fria caiu sobre ela, seus ombros caindo junto, a mochila quase escorregando por seus dedos.

- Não - Sara respondeu, erguendo o olhar para a funcionária. Seria possível que até mesmo longe Raphael a manteria como um ratinho na gaiola?

- Sinto muito senhorita, mas como é menor de idade só pode viajar com autorização de seus pais. Volte quando estiver com todos os documentos - a mulher lhe devolveu o passaporte.

Qualquer outro vampiro talvez tentasse usar sua lábia para convencer, talvez tentasse seduzir e até mesmo subornar, mas naquele momento Sara sentia como se estivesse desmoronando novamente, caindo e Raphael estivesse diante dela.

- Tudo bem - Sara murmurou, sua voz saindo num fio baixo enquanto ela apanhava seus documentos e saia da fila do guichê.

Para onde iria agora? O que iria fazer?

Talvez devesse passar a noite no hotel, em algum lugar longe da Academia. Sabia que seria punida ao voltar, talvez até avisassem seus pais, mas ela não queria voltar para aquele lugar, ao menos por aquela noite. Ela precisava ficar longe de Raphael, mesmo que fosse e por apenas algumas horas.
Seus pés se arrastavam pelo aeroporto, mais um balde e água fria caiu sobre ela. Que hotel a deixaria se hospedar? Menor de idade, menor de idade, ela não conseguiria hospedagem em lugar algum.

Fora do aeroporto, sentada em um dos bancos da área externa Sara não conseguiu mais conter o peso de sua própria derrota, as lágrimas descendo mais uma vez pelo rosto enquanto ela engolia e sentia um gosto amargo descer por sua garganta.

A chuva aumentou a água unindo-se ao vento, tornando-se uma tempestade ainda mais forte, passando a molhar a área onde os bancos estavam espantados todos que estavam ali. Todos menos ela. O que seria umas gotas de água para alguém que estava totalmente destruída?

- Particularmente eu gosto da chuva - alguém a cobriu com um guarda-chuva, não que fizesse diferença já que suas roupas estava ensopadas.

Ela ergueu o olhar para Raphael, não parecia surpresa ao vê-lo ali, na verdade tinha que admitir que fora derrotada, que era uma derrotada e aquele momento, ele ali perfeito e seco com seu cigarro no canto da boca e ela sentada encolhida e ensopada num banco, parecia ser perfeito, a imagem perfeita do que acontecia.

Ele deu um passo para o lado, um sedan preto e luxuoso estava estacionado atrás dele, o pisca alerta ligado. Sara piscou os olhos algumas vezes, a água que escorria por seu rosto incomodando a visão.

- Entre no carro Sara - a voz dele saiu baixa, letal e Sara sentiu o frio aumentar.

Sem esperar por agressões ela simplesmente obedeceu a ordem. A porta do passageiro estava aberta e ela se jogou no banco, molhando-o por completo.

Raphael deu a volta do carro e entrou, fechando o guarda chuva, largando-o no chão mesmo.

Sem dizer nenhuma palavra ele deu partida, o corpo de Sara batendo contra o banco por conta do empuxo, ela sequer havia colocado o cinto e Raphael já saia do aeroporto.

Sem dizer nenhuma palavra... Nenhuma palavra.


quarta-feira, 21 de março de 2012

..:: Breaking the Ice - Cap. III ::.. Losing Grip



Sara parou em meio ao corredor antes mesmo de ouvir as primeiras notas da música. Não, aquele não era o problema, ela até gostava da música, o problema era quem estava cantando. Ela podia sentir claramente a presença dele, ainda mais claro do que qualquer outra depois do encontro deles na pista de patinação, depois que Sara bebeu o sangue dele dando início a um laço que poderia se tornar poderoso.

Ela voltou a andar, respirando fundo. Quanto tempo o professor poderia demorar? Além disso Raphael Grifftis não estava sozinho na sala de música, Sara conseguia sentir a presença de algumas meninas, todas humanas, três ou quatro. Ele certamente estava se exibindo para que depois elas disputassem quem seria o lanchinho da noite.

Sara estremeceu. Ela sabia que aquilo era completamente errado e ela jamais caçara um humano, aliás ela jamais caçara, mas muitos alunos do turno da noite tinha aquele hábito e é claro que o vampiro inglês não seria diferente. Por sua vez, Sara tentava se manter com as pílulas e com as parcas vistas do pai, passando também a caçar pequenos animais na floresta, embora fosse tão desajeitada com isso que muitas vezes acabava ficando sem se alimentar.

Ela parou atrás das meninas que estavam diante da porta, eram três afinal, todas elas com uniforme do turno diurno e seus materias nas mãos, sequer sabiam do perigo que estavam, tão fascinadas com jovem de intensos olhos azuis e cabelos brancos que tocava violino para elas, o queixo pousado sobre a madeira lustrosa do instrumento. Ela sequer respiravam, temendo que o som de seus suspiros estragasse a apresentação.

Sara mordeu o lábio inferior e então deixou os ombros caírem, desanimada. Ia ter um preço alto, mas ela não podia deixar aquilo acontecer diante dos olhos dela. Como era mesmo que ele a chamava? Amante de mundanos.

Era exatamente isso o que Sara era, apaixonada por humanos, incapaz de feri-los porque sempre se lembrava de sua mãe, dos olhares destinados a ela, dos olhos mortos dos vampiros sobre os humanos. Como eles não podiam perceber?

- V-vocês não... - o tom saiu baixo enquanto ela erguia os olhos âmbar para as garotas, então ela recomeçou a frase, tentando colocar a intimidação que sabia que era capaz de por - Vocês não deveriam estar no dormitório? Eu vou chamar o monitor se continuarem aqui! - Sara cruzou os braços sobre o peito e ergueu uma sobrancelha - Como é? Querem que eu arraste vocês? - ela perguntou, estendendo os braços - Vamos!

As garotas reclamaram, mas havia algo em torno da outra que era um tanto assustador. Elas olharam para Raphael, ele havia parado de tocar e agora abria os olhos lentamente, como se acordasse de um transe e sua expressão mostrava que o que via diante dele não era exatamente o que queria ver. Tudo bem, Sara não se importava com aquele olhar cheio de raiva, ela o conhecia bem.

- Melhor irem garotas, eu posso tocar para vocês amanhã, posso tocar todas as noites que quiserem - ele sorriu, baixando o violino e o arco, um de cada lado de seu corpo e afastando os cabelos dos olhos com um gesto de cabeça - Não quero que tenham problemas por minha causa, principalmente você Audrey - ele olhou para uma das garotas, ela tinha longos cabelos cacheados e olhos azuis expressivos que ficaram ainda mais felizes por ser mencionada em especial.

- Tudo bem - ela retribuiu o sorriso de Raphael, corando e abaixando a cabeça, virando-se e olhando para Sara com um ar de desdém - Vamos garotas, depois a gente volta! - ela sorriu e acenou para Raphael, saindo com suas duas amigas pelo corredor.

Sara encostou-se na parede, cruzando os braços novamente, mas dessa vez ela não tinha uma expressão intimidadora, parecia mais travar uma briga consigo mesmo enquanto franzia o cenho, bufando em seguida.

Ela ergueu o olhar então a tempo de ver Raphael virar-lhe as costas e ir mais para dentro da sala de música, sua expressão enchendo-se de descrença. Ele não ia avançar no pescoço dela e nem lhe dizer nada? Ela ia escapar assim tão fácil depois de afugentar as garotas?

"Tudo bem então..." - ela pensou, caminhando para dentro da sala de música. Agora Raphael dedilhava notas sem nexo, como se estivesse afinando o violino ou qualquer coisa do tipo. Ela não entendia muito sobre aquilo e ela não perguntaria. Talvez se fosse qualquer outro ela sequer tivesse expulsado as garotas, mas ela sabia que ficar perto de Raphael Grifftis era algo perigoso demais e para piorar tudo ele parecia exercer uma grande influência principalmente nas garotas. Ele era sedutor, até mesmo no modo como falava, mas Sara sabia que tudo isso se desvaneceria quando estivesse sozinho com sua vítima, quando tivesse uma chance de fincar as presas no pescoço de alguma daquelas garotas, assim como ele fizera com ela, mas ao contrário dela, aquelas garotas não saberiam se defender.

Sara sentou-se num dos divãs, seus olhos correndo pela sala e por todos os instrumentos que havia ali. Um piano, um violoncelo, nada que realmente atraísse a atenção dela, no fundo ela só participava daquela aula para agradar ao pai, aprender algo mais "clássico" do que sua barulhenta guitarra. Ela suspirou desanimada, esperava aprender algo antes de morrer de tédio.

Ela se deixou escorregar pelo sofá, ficando praticamente deitada na poltrona, suas pernas quase completamente para fora do acento enquanto seus olhos vagavam pelo papel de parede florido do lugar. Papel de parede, aquele lugar deveria ser mesmo muito antigo.

"Saco..." - ela pensou, olhando então para as próprias mãos cruzadas sobre a barriga e batendo os pés no chão. Havia se desligado completamente da presença de Raphael, era tão fácil na maioria do tempo quando ele não estava sufocando ela com seu olhar ou então ocupando todo o espaço, como se quisesse contrariar alguma lei da física e provar que duas pessoas podiam ser ocupar o mesmo lugar. Oh sim, isso era bem típico de alguém tão egocêntrico, querer contrariar e forçar sua vontade.

- Pffff... - o ar escapou de seus lábios e ela se ajeitou no sofá, inclinando-se para frente e apoiando os cotovelos no joelho, seus olhos então notando o violão quase escondido por uma das poltronas. Um pequeno sorriso fez a pontinha de seus lábios se curvarem. Violão. Aquele instrumento lhe trazia tantas lembranças.
Ela se levantou e atravessou a sala com passos largos, sem se preocupar em manter elegância ou qualquer coisa como era típico das garotas da Night Class. Não havia ninguém a impressionar ali e ela sabia que sua atitude irritava Raphael e ela sinceramente achava que ele lhe dava importância demais, mas assim eram os vampiros porque ela também estava pensando em como cada movimento que ela fazia estaria irritando ele.

Sara inclinou-se sobre a poltrona e então tirou o violão de seu apoio, sentando-se no braço da poltrona e trazendo o violão para seu colo. A madeira tinha um cheiro forte e mesmo que ela não se interessasse por aquele tipo de coisa era tão óbvio que aquele violão era uma peça valiosa que ela quase se sentiu culpada por tê-lo arrancando de qualquer forma do apoio, mas a única coisa que ela sabia era tocar, não era nenhuma avaliadora ou nada assim, só fazia aquilo para se divertir.

- É quase patético ver você segurando isso - a voz de Raphael a interrompeu enquanto ela ajeitava o violão no colo e posicionava inconscientemente as mãos sobre as cordas.
Ela desviou o olhar para ele, a longa franja caindo sobre os olhos e ela deu de ombros. O que ela poderia dizer? Se ele achava patético era só se virar sobre os calcanhares e dar as costas, sair da sala e aproveitar o momento para deitar e morrer.

- Mas já que está se dispondo ao papel ridículo - ele estava em pé e limpava o violino com uma flanela amarela - Por que não mostra o que sabe? - ele propôs e Sara semicerrou os olhos.

Ela sabia que mesmo que tocasse o melhor que soubesse Raphael jamais a elogiaria, não havia porque fazer isso, mas mesmo assim ela passou a mão pelas cordas. Não estavam afinadas então ela dedilhou uma a uma enquanto apertava as tarrachas até que as cordas estivessem afinadas e então passou a dedilhar uma música, mas logo desistiu, olhando o violão no seu colo. O que tocar afinal?

Ela passou a língua pelos lábios e então voltou a posicionar os dedos sobre a corda e logo as primeiras notas de Sweet Child O'mine encheram a sala de música enquanto Sara fechava os olhos, deixando-se levar pela música.

Em sua mente ela estava em alguma praça da Espanha sentada na grama com os amigos depois de sete aulas chatas de assuntos que eles só decoravam para tirar boas notas. Eles estavam rindo, não havia porque ser diferente. Semana de prova, fora uma daquelas semanas chatas de prova mas era sexta feira e eles estavam todos ali com latas de refrigerantes e cadernos espalhados, alguém havia trazido um violão e logo eles cantavam desafinados, fazendo as pessoas que passavam à volta rirem. Ridículos, mas quem se importava?

Ela mesma tocara uma música, aquela mesma música que ela estava tocando naquele lugar tão distante de sua Espanha. Whistler era, na opinião de Sara, o lugar perfeito para a Academia, era tão frio quanto as pessoas que ocupavam o dormitório do turno noturno, estavam tão distante de Madrid e todas aquelas diferenças só faziam Sara sentir ainda mais saudades.

Os amigos que enchiam sua casa praticamente todas as tardes depois das aulas, o carinhoso caloroso dos pais que sempre iam espiar o que eles estavam fazendo no quintal dos fundos. Os pais, até eles haviam sido privados da Espanha pelas coisas que estavam acontecendo, coisas daquele mundo frio dos vampiros.
Agora Sara entendia perfeitamente porque eles passaram toda a vida tentando mantê-la distante daquela atmosfera. Era tão pesado, era demais e tinha tão pouco a oferecer.

Ela abriu os olhos, seus olhos castanhos lembravam a terra macia, quente e úmida e encontraram os olhos de Raphael, o azul frio que demonstrava tudo o que havia por dentro e por fora daquele vampiro, um iceberg pronto a esmagá-la. Ele tinha um sorriso dúbio e ela tornou a fechar os olhos antes que o modo como ele a encarava a fizesse desistir de terminar a música.

Mais lembranças, as amiga e os amigos que a esperavam todas as manhãs na porta do colégio, que não a olhavam como se ela fosse um alienígena, mas como se ela fosse a melhor de todos ali. Todos a adoravam, ela era popular, mas não se gabava disso. Fazia parte de alguns clubes do antigo colégio e mesmo que, graças a sua maldição, ela fosse uma das meninas mais bonitas da escola, ela nunca humilhou qualquer um por isso. Ela definitivamente não conseguia entender como eles podiam agir assim, como podiam recriminar o amor que os pais dela sentiam? Como podiam recriminá-la sem sequer conhecê-la e como poderiam haver outros como ela que aceitavam e achavam isso certo? Não, mas ela tinha que concordar que os humanos também tinha seus podres, ainda assim eram tão frágeis que...

Ela parou a música. Ela não queria mais pensar nisso, aquele lugar definitivamente a estava enlouquecendo. Sequer olhou para Raphael, tudo o que fez foi virar o violão para baixo e usando-o como mesa de apoio sacou o celular do bolso e o colocou sobre ele. Fazia uma semana que não postava nada em seu Facebook, as matérias da nova escola eram mais difíceis e tomavam mais tempo, mais uma vez ela tinha que decorar coisas que nunca usaria apenas para conseguir nota. Ela acessou à página da rede social e então se surpreendeu ao ver o número de notificações. Seus amigos haviam postado dezenas de fotos da festa de despedida dela, fotos que, com um sorriso doce no rosto, Sara via uma a uma, rindo sozinha, colocando a mão sobre a boca. Ela havia esquecido completamente de seu espectador, mas havia vezes em que Raphael ficava tão imóvel que poderia muito bem se passar por uma estátua.

Ela passou bons minutos olhando tudo, seus olhos úmidos pelo sentimento de saudade que agora se tornava maior. Quem era ela ali naquele lugar cercado de montanhas e gelo? Nada, uma mestiça como eles gostavam de deixar claro, mas quem ela era em Madrid? Sara, filha de Fernando e Clara, a melhor aluna do colégio Navarro, cheia de amigos que estavam cheios de saudades dela.

Ela deslizou os dedos pela tela e então passou a digitar uma mensagem, dizia que estava com saudades e que queria voltar o mais rápido possível. Estava ansiosa pelas férias e detestara a escola nova. Não, ninguém tão Canadá era tão divertido quanto qualquer um de seu grupo de amigos.

As respostas vieram em poucos segundos e logo haviam mais de cinqüenta comentários, todos perguntavam quando ela voltaria, porque havia ido tão repentinamente. Ela não pudera explicar, não pudera se despedir apropriadamente, a festa fora feita às presas numa lanchonete dentro do aeroporto.
Mas dentre todos os comentários um surpreendeu ainda mais a garota. Fernando Augustine.

Os olhos de Sara encheram-se de lágrimas e ela não acreditou quando viu a foto dos pais e o comentário: Estamos com saudades filhota, de você e da Espanha.
Seu pai havia aprendido a mexer no Facebook? Quando? Ela não pode deixar de rir enquanto passava as costas das mãos sob os olhos, sentindo o peito doer ainda mais. Como ela queria estar com ele ensinando tudo que podia ensinar sobre computadores e internet. Certamente sua mãe quem o incentivara a isso, afinal Fernando era do tempo que sequer existiam máquinas de escrever.

"Ah papai... como eu queria estar ai com você, você deve ser tão engraçado digitando..." - ela suspirou, talvez devesse ligar para eles. Se ele estava na internet então não estava ocupado.

Sara deslogou-se da rede social e então acessou ao teclado numérico do aparelho, seus dedos digitando rapidamente os números do celular do pai, o tom de toque deixando a menina ainda mais ansiosa, fazendo-a levar a unha do polegar à boca e roer.

- Hola, Fernando Augustine hablando - a voz do pai fez o rosto de Sara corar enquanto como uma menininha boba ela retirava o dedo da boca e começava a falar.

- Papa... - ela chamou e sua voz trazia não só respeito, mais uma feto desmedido. Ela se virou de costas para Raphael, falando em espanhol com o pai por alguns minutos, dizendo que não estava triste com a escola, mas que sentia falta dos antigos amigos. Mentira dizendo que não tinha problemas, pois não estava ali seu maior problema observando-a, ouvindo cada palavra que ela dizia ao pai. Talvez com sorte ele não soubesse espanhol.
Amigos? Ah sim, ela fizera amigos e estava se dando bem com todos claro, não, não estava com sede e não estava tendo problemas com os outros vampiros, eram todos amáveis. Sem exceção.

Mentir só não fora tão difícil quanto ter que desligar o telefone e despedir-se de seu pai sem poder falar com a mãe. Havia saído, voltaria dentro de algumas horas. Talvez Sara pudesse ligar mais tarde, ela certamente ligaria, ainda mais depois que o pai dissera que Clara visitava o quarto da filha todas as noites, tão saudosa quanto ela. Cada noite Sara desejava estar de volta naquele quarto, sob a proteção de seus pais, mas estava sozinha e tinha que se contentar com isso.

Quando desligou seus ombros caíram e ela deixou-se cair novamente no sofá, olhando o violão que havia deixado virado sobre o braço da poltrona a frente. Só então ela se deu conta que Raphael não estava ali. Onde ele teria ido? Ela sequer notara que ele saíra.

"Talvez seja melhor eu ir também, acho que a aula de hoje foi cancelada" - ela levantou-se do sofá e guardou o telefone no bolso. Teria cerca de uma hora ainda pela frente, uma hora vaga, então decidiu aproveitar o momento para ver as fotos que os amigos postaram com mais calma.
Sara foi até o terraço, o vento frio que soprou quando ela passou pelas portas duplas a fizeram estremecer e se encolher dentro do casaco do uniforme, mas não havia o que temer, não havia ninguém ali.

"É só o frio..." - ela pensou enquanto caminhava pelo piso e se aproximava da beira. O quarto andar do prédio principal dava uma visão privilegiada de toda a Academia e era um dos lugares preferidos de Sara, principalmente para ver o nascer do sol.

Ela foi para a ponta esquerda do terraço e então sentou-se num velho banco de ferro que havia ali, colocando as pernas para cima, ficando praticamente deitada enquanto via as fotos. Ela fez questão de comentar em cada uma das fotos que sua amiga Camile postara e mais uma vez as respostas vieram rápido. Perdera um bom tempo naquilo, sequer vira a hora passar.

"Quase duas da manhã, talvez seja melhor eu voltar para o dormitório..." - ela pensou enquanto se levantava do banco, guardando mais uma vez o celular que estava praticamente sem bateria e então caminhando em direção às portas duplas, mas mal as havia alcançado quando sentiu a presença de Raphael, mas ele não estava sozinho.
O instinto fez Sara se esconder atrás de uma das pilastras, vendo então o vampiro e a humana de mais cedo. A garota parecia um tanto zonza e Raphael a levantou e a apoiou diversas vezes. Daquele modo a jovem morena mais parecia uma boneca de panos do que qualquer outra coisa.

Demorou poucos segundos mas logo Sara sentiu o cheiro doce que se espalhava pelo ar, um cheiro que fez sua garganta arder e seus olhos se acederem. Ela arfou, colocando a mão sobre a boca e se apertando contra a parede.

"Não..." - a mente de Sara estava prestes a entrar em pânico. Raphael estava atacando a humana e era melhor Sara controlar sua sede e fazer alguma coisa, ela jamais poderia compactuar com aquilo.

- ... - ela saiu detrás da pilastra, as mãos fechadas em punhos, no exato momento em que o vampiro erguia a humana desmaiada nos braços e a jogava pela murada do terraço. Os olhos de Sara se arregalaram e ela cambaleou para trás da pilastra novamente, seus joelhos tremendo enquanto ela escorregava escorada pelo pilar de concreto - ...meu...Deus... - a voz saiu num fio. Raphael havia simplesmente jogado a garota de quatro andares, ele havia matado Audrey mesmo sabendo todas as conseqüências que aquilo poderia trazer. Logo o cheiro de sangue ia se espalhar, logo os outros vampiros seriam atraídos - ...não... - Sara conseguia ver os olhos vermelhos surgindo na escuridão do jardim, encarando o corpo sem vida. Seriam capazes de começarem um festim macabro? Ela estava morta afinal... Resistiriam ao sangue? Desperdiçariam aquela chance?

Ela fechou os olhos apertados, querendo afastar aquela imagem terrível da mente e quanto os abriu se deparou com um par de sapatos pretos que subiam por calças pretas e então aquela pesada jaqueta de couro. Sim, ela conhecia muito bem aquela jaqueta.

- O que está fazendo aqui? - a voz dele saiu baixa mas cortante enquanto ele se inclinava sobre ela e a puxava para o braço, obrigando-a a ficar em pé. Seria fácil, mas seus joelhos ainda tremiam - Está surda? - ela a sacudiu e ela o olhou, seus olhos enchendo-se de medo e raiva, aquela mistura que parecia atiçar ainda mais Raphael Grifftis, parecia satisfazê-lo.

- S-seu... monstro! - ela cuspiu a palavra, olhando então para a mão fria que apertava seu braço num aperto de ferro. Os dedos pálidos afundavam no tecido do caçado sem dó alguma - O...o que você fez...? - ela tornou a olhá-lo e ele limitou-se a empurrá-la contra a parede com força.

- O que você viu? - ele perguntou, se aproximando mais dela e segurando seu queixo. Mais marcas, da última vez seus dedos ficaram impressos no rosto dela por toda uma tarde. Ele deslizou os dedos pela bochecha dela, erguendo ainda mais seu rosto, num aperto nada gentil que a fez trincar os dentes - O que acha que viu? - ele aproximou o rosto do dela, seus narizes se tocando.

Ela ergueu imediatamente as mãos e segurou os pulsos dele, usando toda sua força para repeli-lo, para fazê-lo soltá-la, por sorte não era tão mais fraca do que ele, ou ele simplesmente não queria lutar, não naquele momento, pois soltou seu rosto.

Ainda assim Raphael Grifftis continuava próximo demais, de uma maneira perigosa. Seu corpo praticamente esmagava Sara contra a parede e agora ela matinha as duas mãos sobre o peito dele, tentando manter uma distância mínima entre os dois.

Ele a olhou e riu, mais uma vez seu brinquedinho estava desesperado e mal podia lhe responder. Era sempre assim, Sara sempre se desesperava com facilidade e isso a fazia agir de modo impensado, complicando-a ainda mais. Era definitivamente mais divertido enlouquecê-la como naquele momento do que matá-la. Talvez quando enjoasse, mas naquele momento não.

- Vem! - ele segurou o pulso dela com força e praticamente a arrastou. Ela tentou parar, mantendo os pés firmes no chão, mas com um puxão Raphael a trouxe para perto, seu braço livre envolvendo a cintura dela enquanto ele soltava se pulso e segurava seu pescoço.

- Como vai ser Sara? Eu posso machucá-la de verdade, de um modo que eu ainda não tentei com você. É o que quer? Como você vai voltar para seu papai depois? - ele a olhava nos olhos, deixando os longos dedos envolverem o pescoço dela, ficando as unhas na pele macia e quente, tão diferente da dele. Raphael não sentia o calor, ele não sabia mais o que era calor.
Sara ergueu as mãos mais uma vez para tentar se livrar do aperto dele, seus olhos agora perfuravam os de Sara, mas ainda assim ela insistia em encará-lo.

- Quer cuspir em mim de novo? Não, eu vou ocupar sua boca mais uma vez - ele disse, subindo a mão do pescoço dela sem sequer parecer afetado pela dor que os arranhões que ela fazia em seu pulso causavam. Ele agarrou o rosto dela, afundando as unhas na pele e puxando para baixo, deixando quatro longos risco vermelhos, dois de cada lado, olhando então os dedos sujos com o sangue quente da vampira, quase tão quente e tão doce quanto sangue humano, tão imaculado que Raphael sentia-se cada vez mais tentado. Ele queria destruí-la, mas faria isso aos poucos.

- Agora vem! - ele se afastou e então ergueu algo em sua mão, algo que calou qualquer protesto de Sara.

Reluzindo sob o luar, o aparelho celular de Sara brilhava na mão de Raphael, fazendo Sara encará-lo com a boca entreaberta, perguntando-se quando ele havia pego aquilo.

Era tão claro, seu rosto latejando e doendo a distraíra quando ele a abraçara e agora o bem mais precioso dela naquele lugar estava ali entre os dedos do outro vampiro.

- Vem... - ele sorriu, expondo uma parte de seu sorriso, os cabelos caindo sobre os olhos conforme o vento varria o lugar, mas Sara sequer reparava em sua imagem, seus olhos continuavam fixos no aparelho nas mãos dele, enquanto por dentro ela sentia-se quebrar.

- Por favor... - ela olhou então para ele, cambaleando para frente, tentando apanhar o celular, mas ele desviou para o lado, rindo da tentativa inútil da vampira.

- Vem e eu te dou, primeiro você precisa fazer algo, uma coisa que vai me dar a certeza de que você vai ficar bem quietinha sobre nosso segredinho - ele colocou um dos dedos sobre os lábios, notando então que ainda estavam sujos com o sangue da outra vampira. Sim, talvez ele até os lambesse se não soubesse do que Sara era capaz, mas ele não cometeria o erro duas vezes.

A Sara não restou nenhuma outra alternativa a não ser segui-lo, seus olhos ainda olhando uma última vez para o lugar onde ela vira Audrey ser arremessada, a sensação de fracasso tornando-se ainda maior, assim como a revolta. Por que ela não podia ser como os outros? Ter poderes como os outros?

Ela tratou de cicatrizar o rosto, limpando o que sobrara do sangue no casaco, tirando-o e o enrolando nos braços, ficando apenas com a camisa preta do uniforme. Onde estariam indo? O que importava afinal, ele certamente a deixaria a própria sorte como da outra vez.

Apenas os sons dos passos de ambos pontuou o caminho, Raphael acendera um cigarro enquanto cruzavam os cascalhos que ligavam o prédio principal ao dormitório noturno, pouco se importando com as regras do lugar.

Ele abriu a porta do dormitório e a esperou entrar, jogando a bituca de cigarro para fora antes de cerrar a porta.

- Lá em cima - ele apontou para as escadas que levavam aos quartos e Sara sentiu um nó se formar na garganta. O que ele poderia querer com ela? - O que? Não quer seu celular de volta? - Raphael sorriu de lado - Não seja tão estúpida, acha que eu vou querer o que com você? - ele passou a língua pelos lábios - Não, você sequer serve para isso, agora suba! - ele ordenou e Sara teria sentido o rosto queimar se não estivesse com tanto medo, tamanha a humilhação que as palavras dele traziam.

Ela subiu os degraus lentamente e ele pouco pareceu se importar com os passos lentos dela. Quando alcançou o andar superior Sara sentiu vontade de descer as escadas correndo. Não, naqueles meses todos ela não se aventurara fora do quarto em meio à madrugada, mas agora ela podia sentir o cheiro de sangue se espalhando pelos quartos, podia ouvir os gemidos cheios de luxúria, os verdadeiros alunos do turno noturno estavam sem máscaras, estavam sendo eles mesmos. Ela se abraçou, abaixando a cabeça e parando em meio ao corredor. Por que eles agiam daquele modo? O que havia de errado com todos eles?

- Anda! - um sussurro baixo soprou ar gelado em sua nuca e ela forçou a andar, mas os pés pareciam presos no chão - Vadia - ele a empurrou e ela bateu contra a porta de um dos quartos, afastando-se assustada, deixando o casaco cair, mas aquela era a porta do quarto dele - Entre - ele parou ao lado da porta e a abriu, puxando então Sara pelo braço para dentro.

Assim que entrou Raphael tirou a pesada jaqueta, jogando-a sobre a cama que estava totalmente bagunçada, o quarto em si estava totalmente revirado, como se houvesse acontecido uma luta ali e de certa forma houvera.

Sara conseguia reconhecer o cheiro de Audrey no quarto e agora imaginava o quanto a menina teria sofrido nas mãos do outro vampiro.

- O que Sara? Acha que ela sofreu? - ele riu, deixando-se cair de costas na cama - Ah Sara como pode ser tão ingênua? O que acha que ela veio procurar aqui? - ele se sentou num único movimento e apoiou os cotovelos sobre o joelho, encarando a menina que havia simplesmente se encostado na porta trancada - Ela teve o que queria e eu tive o que eu queria, uma troca bem justa, não acha? - ele sorriu, levantando-se e indo até ela, apoiando uma das mãos na porta atrás de Sara, deixando o braço se dobrar até que mais uma vez Sara não tivesse para onde correr, estivesse presa entre ele e a porta - E você Sara? O que você veio buscar aqui? - ele segurou o queixo dela, mas dessa vez sem feri-la, baixando o olhar até que seus olhos encontrassem os olhos cheios de mágoa dela.

- Sabe Sara o que mais odeio em você? - ele perguntou enquanto a encarava, o aperto começando a aumentar a pressão - Sua hipocrisia. Olhe para você, se tivesse visto como ficou ao sentir o cheiro de sangue. Olhos vermelhos, sedentos. Ah Sara, você queria aquilo também! Só não tem coragem de pegar, só fica tentando negar a você mesma quem é! Você é uma de nós Sara - ele se aproximou mais dela, sussurrando sobre os lábios trêmulos da garota - Você vai ceder mais cedo ou mais tarde Sara e seu papai não vai estar aqui para ajudar... Olhe para mim - ele se afastou e então aproximou ainda mais seu corpo, cada linha encaixando-se ao corpo de Sara, fazendo-a se apertar inutilmente contra a parede como um inseto esmagado - Cedo ou tarde você vai desejar...- ele ergueu a mão e a levou até a boca, mordendo a ponta dos dedos, os cortes logo começaram a sangrar - Desejar como nunca desejou - ele passou os dedos molhados pelo líquido púrpura sobre os lábios dela e os olhos de Sara se acenderam.

- Não! - ela tentou empurrá-lo, mas ele apertou ainda mais seu rosto e seu corpo.

- Shi shi... sem escândalos, ou vou tornar isso bem pior - ele afastou a mão e lambeu o próprio sangue, sua mão então descendo pela gola de sua camisa e abrindo dois botões - Venha, satisfaça seus desejos Sara. Você não vai matar ninguém, mas vai beber o sangue. Ainda está fresco, ainda está quente dentro de mim.

- ...não... - Sara fechou os olhos e virou o rosto, seus ossos estralando e causando uma dor intensa, mas ela não cederia dessa vez - não... - ela praticamente chorava, implorando que ele a soltasse, suas mãos passando a socar o peito dele, os sons ocos enchendo o quarto e o corredor.

Raphael soltou o resto dela e a segurou pelos dois ombros, batendo-a com força contra a porta, fazendo-a bater a cabeça, puxando-a então para o lado da parede e a batendo novamente contra o concreto.

- Vadia idiota! Acha que qualquer uma pode beber meu sangue? Beba logo ou vou enfiá-lo em você eu mesmo! - ele gritou contra o rosto dela. Pouco se importava se os outros ouvissem, o que fariam? Eles eram desprezados, quem viria salvar Sara? - Se não beber pode dar adeus aquela droga de celular, pode dar adeus a seus pais! Então, o que vai ser? - ele a soltou e Sara encolheu contra a parede.

Seus cabelos bagunçados cobriam o rosto ferido, um filete de sangue escapava pelos lábios, com as pancadas havia mordido a língua o mordido os lábios, agora eles sangravam espalhando o cheiro doce do sangue dela no ar, o cheiro sobrepondo-se ao cheiro de Audrey.

Então era por isso que ele a levara ali? Para encontrar as pistas?

Ela ergueu os olhos para ele, como um animal ferido e sem escolhas, tudo o que ela podia fazer era o que faria naquele momento. Suas mãos trêmulas subiram pelo peito de Raphael, os dedos enroscando-se na gola da camisa dele enquanto ela se aproximava lentamente, desviando o olhar para a veia.
Sara entreabriu os lábios feridos, passando a língua por eles, sentindo-os arder, assim como seu rosto ardeu quando as lágrimas passaram a descer. O que ela podia fazer afinal? Simplesmente morrer?

Os lábios dela tocaram a pele fria de Raphael e logo deslizavam sobre o pescoço dele, sua língua descrevendo uma linha horizontal, onde suas presas afundaram lentamente segundos depois. Por mais ódio que sentisse dele ela não conseguia feri-lo, não conseguia rasgar o pescoço dele com seus dentes e causar-lhe dor, simplesmente porque aquele era o único modo como ela sabia morder.

No instante seguinte os lábios dela sugavam a pele dele, puxando o sangue que logo vertia para sua boca. Um mistura confusa de imagens se desenharam em sua mente enquanto Raphael se aproximava mais, um dos braços envolvendo a cintura dela e a empurrando para trás, até que ela encostasse na parede novamente. Como se ela fosse capaz de fugir para qualquer lugar, até parece.

Ela afundou mais as presas na pele fria do outro vampiro e ele gemeu, o braço na cintura de Sara estreitando-se mais.

Mais cenas confusas, borrões que lembravam a imagem de Audrey, o caminho que ela fizera até ali, risadas abafadas, o momento em que a porta do quarto se fechara, o momento em que ela se deitara com Raphael, tudo em cenas confusas que deixaram Sara ainda mais confusa.

As mãos dela pareceram ganhar vida, subindo pelos ombros de Raphael, os dedos enroscando-se nos cabelos platinados do vampiro enquanto um gemido abafado escapava de Sara. Outra barreira rompida, um passo a mais no caminho da escuridão que a cercava, algo que cobraria um preço alto depois.

A mão dele subiu pelas costas de Sara e ela estremeceu quando ele passou a perna por entre as pernas dela e a apertou mais contra a parede. Era apenas impressão ou ele havia virado o rosto?

Ela descravou as presas do pescoço dele, inclinando a cabeça para trás, seria aquela sensação gelada sobre sua pele os lábios dele? Os dedos dela se fecharam com mais força, arranhando a nuca dele, arrancando mais um gemido de Raphael.

Que sensação era aquela? Algo tão desconhecido que a fazia se sentir zonza enquanto o sangue dele descia por sua garganta, molhava seus lábios, e ele estava ali, tão próximo ao pescoço dela.

- ... - como se acordasse de um transe Raphael se afastou dela, empurrando-a contra a parede, fazendo-a encará-lo assustada. Os olhos vermelhos fuzilavam Sara e a respiração dele saia praticamente em bufadas - Vadia! - ele disse entre os dentes trincados, segurando-a então pelo braço enquanto abria a porta - ...vagabunda! - ele praticamente cuspiu o xingamento enquanto a jogava para o corredor, fechando a porta com força em seguida, o estrondo ecoando por toco o corredor enquanto a parede estremecia.

Sara olhou em volta assustada, mas não havia ninguém do lado de fora. Ela abraçou-se, ainda atordoada com tudo o que havia acontecido e sem opção melhor ela rastejou seus passos até seu quarto, parando em meio ao corredor para pegar seu casaco caído, seu quarto era do outro lado do dormitório, longe o suficiente de Raphael, mas talvez nem o lugar mais isolado do mundo fosse ser longe o bastante agora.

Seu peito doía como se algo ali estivesse quebrado, cada respiração a feria mais, mas ela sabia que era apenas o sangue de Raphael misturando-se ao seu, mesclando-se de uma forma que jamais poderiam ser separados novamente.

Ela entrou no quarto, seu dedo deslizando pela maçaneta como se ela fosse pesada demais, mas ela cedeu mesmo assim. Por sorte sua colega não estava, ou se assustaria ao ver praticamente um zumbi passando pela porta.

Sara jogou-se na cama e puxou o cobertor, cobrindo até sua cabeça, logo o som de seus soluços povoaram mais uma vez o quarto. Havia bebido o sangue dele mais uma vez, havia desejado aquilo e havia descoberto mais uma nova sensação, algo que queria que saísse de sua mente, mas a pele de seu pescoço ainda ardia onde os lábios dele havia tocado. Por que? Por que aquilo estava acontecendo?

O pior de tudo era que fora totalmente despropositado, afinal ela fora expulsa do quarto dele e ele não lhe devolvera o celular.
Sozinha, embalada pelos próprios soluços, Sara acabou adormecendo, exausta pelas sensações que agora corriam em seu sangue, exausta pelo peso de seu próprio pecado. Agora ela estava perdendo o controle.

terça-feira, 13 de março de 2012

..:: Breaking the Ice - Cap II ::.. Por que?


Então a morte era fria? Ela corria por suas veias e ao invés de impulsionar seus orgãos ela simplesmente congelava cada centímetro que percorria de seu corpo, levando tudo que você podia guardar dentro de você, levando você.
Sara sentia que sua existência estava se esvaindo a medida que o sangue de Raphael corria por suas veias, preenchendo-a, entrando em cada parte de seu corpo, em cada parte que ela queria manter oculta dele, mas o destino parecia que a expunha do pior modo possível, sempre colocando Raphael em seu caminho como se fosse algo inevitável.
No fundo seria mais justo morrer de arrependimento, afinal se ela pudesse escolher, ela nunca teria esbarrado nele na entrada da cafeteria, ela não teria dito nenhuma palavra sobre o quanto ele parecia idiota parado ali olhando a outra garota ir. Por que ele simplesmente não fora atrás dela?
Há quanto tempo aquilo acontecera? Um mês? Ela não sabia ao certo porque no fundo tudo o que ela queria era esquecer aquele episódio, esquecer que Raphael existia e que todas as noites ele era o ator principal numa série de pesadelos que ela tinha. Por mais que ela fingisse que ele não estava lá ela tinha a plena consciência de que ele estava, ela podia sentir no ar frio, ela podia sentir em tudo o que tocava, como se ele tivesse tocado antes apenas para deixar sua presença ali.
Naquela noite não foi diferente, enquanto calçava seus patins e encarava o gelo que fazia um vapor gelado subir, deixando a ponta de seu nariz e suas bochechas vermelhas, ela sabia que ele estava ali, sabia que estava a assistindo como um amante espectador, mas com certeza seus olhos não exprimiam nenhum sentimento relacionado ao amor.
Por que ele estava ali? Não era ela quem o estava procurando, não era ela quem estava querendo cruzar o caminho dele ao menos uma vez por noite desde o primeiro encontro. Ela queria ao contrário, ela queria que seus caminhos seguissem paralelos para sempre e que nunca mais se encontrassem.
Ela fechou os olhos e respirou fundo, tentando deixar sua expressão o mais neutra possível, fingindo que não havia sentindo a presença dele desde o instante em que entrara no rinque. Ela sequer precisava sentir, ela sabia que ele estaria ali.
Ela se levantou, sentindo os joelhos vacilarem e mordendo o lábio inferior, praguejando-se por dentro por deixar-se intimidar tão cedo pelo seu espectador. Tudo bem ele estava ali como todas as outras noites, o que isso poderia ter de diferente? Ele continuava a odiar ela do mesmo modo e ela tinha certeza que ele estaria se perguntando porque ela insistia em andar sobre o gelo. Provavelmente na mente egoísta e egocêntrica dele o único motivo para que ela fizesse alguma coisa assim era simplesmente o fato de poder pisar e riscar a perfeição gelada da pista, poder se sobrepor a ela, deixá-la sob seus pés, assim como ele provavelmente achava que ela gostaria de fazer com ele.
Era melhor esquecê-lo, ela estava ali para relaxar e não para deixar-se envolver por ele. O gelo que a envolvia nada tinha a ver com Raphael e ela não podia pensar nele por mais tempo do que já havia pensado.
Aos poucos ela ganhou velocidade e então alcançou o centro da pista, as luzes dos postes iluminando-a por completo, holofotes em seu palco de gelo. Ela pegou um novo impulso e fechou os olhos, deixando a sensação de praticamente voar a envolvê-la, esquecendo-se de Raphael, exatamente como desejava, mas ele estava ali e fazia questão de lembrá-la disso.
A pergunta dele fez o frio da pista subir para seu corpo, a sensação de uma pontada em seu estômago enquanto ela tornava a abrir os olhos e se virar nos patins, freando bruscamente, uma fina camada de gelo subindo na pista reta. Tudo o que ela via na arquibancada era apenas o ponto vermelho da ponta do cigarro, na posição em que estava os holofotes praticamente a cegavam para o resto, mas ela já conhecia o olhar dele. Ela odiava ao olhar dele.
- Quando você vai me deixar em paz? Seu egocentrismo barato já está me cansando! - ela sentiu o ódio queimar nas veias quando ele a chamou de amante de mundanos. Quem ele pensava que era? Ele era o filho de uma humana, como ela, mas ele não podia aceitar isso.
Sara passou as mãos pelos cabelos, tetnando se acalmar com aquele gesto, sua mão caindo distraidamente para o pescoço, exatamente no ponto onde ele a havia mordido naquele fatídico primeiro encontro. Ela sentiu a pele arder, como se mais uma vez os lábios dele passeassem ali e ela sentiu vontade de passar as unahs pela pele, de ferí-la novamente apenas para se livrar daquela sensação.
Outra frase dele e Sara sentiu uma onda de desânimo invadí-la, deixando as mãos cairem ao lado do corpo enquanto tentava encará-lo, sentindo o frio arder em seu rosto numa estranha espécie de febre. Ele estaria fazendo algo ou era só o fato do contraste entre a luz quente e forte dos holofotes da quadra e do frio contra o corpo dela?
Ela deixou um suspiro cansado escapar por seus lábios, mordendo o lábio inferior em seguida. Ela não queria respondê-lo, ela não queria dizer que o culpado de tudo aquilo era ele com toda sua arrogância. Ela queria dizer que eles eram iguais e se ele queria respeito das pessoas ele também teria que dar respeito e isso era algo que ele não parecia disposto a fazer.
Talvez se ela tentasse naquele momento pedir as desculpas que pensou em pedir. Não, ela pensava naquilo toda a vez que amanhecia e quando chegava na metade do dia o ódio por ele já estava queimando em suas veias a tal ponto que ela só conseguia pensar em como ofendê-lo.
"Papai... mamãe... me perdoem... você vão ficar tão decepcionados..." - ela deixou a franja cobrir seus olhos castanhos, talvez tivesse mais chances se Raphael não conseguisse ver todas as grosserias que ela estava pensando em lhe dizer em seus olhos.
"Você... quem é você Raphael? Quem é você se não o filho de uma humana e um vampiro? Um mero mestiço, assim como eu? Quem é você afinal que acha que tem o poder de um puro? Como eu gostaria que você mordesse a língua e se engasgasse com seu próprio veneno... como eu gostaria de te matar!" - seus pensamentos gritavam e ela fechou as mãos em punho. Apesar de tudo sabia que nunca seria capaz de matá-lo, Sara era incapaz de ferir alguém, ela não fora criada para viver no mundo em que Raphael vivia. Ela respirou fundo mais uma vez, era melhor responder vossa majestade.
- Eu não faço parte da sua vida, nunca vou respeitá-lo! - fora o melhor que conseguira afinal, estava muito longe de tudo o que queria realmente dizer, estava muito perto da realidade. Ela não fazia parte da vida dele, do mundo dele e ela nunca entenderia um mundo tão injusto quanto aquele.
Ela se virou, era o fim da entrevista, seu rosto doía pela sensação de quente e frio e seu peito ardia pela raiva que sentia dele, era melhor parar enquanto ela ainda estava sobre as próprias pernas, enquanto ele não descia até ela e tentasse colocá-la no lugar que ele achava que ela deveria estar.
- Quem é você afinal? - ela deixou o sussurro escapar de seus lábios, mas ele com certeza não ouvira.
Seu corpo estremeceu, mesmo de costas ela podia sentir o olhar dele, ela podia imaginar como ter virado as costas havia ferido o ego daquele ecogênctrico idiota e como ele deveria estar contando até dez para pular ali na pista e arrancar as respostas da boca dela, do pior modo possível.
Ela tornou a fechar os olhos, deixando seus passoa a guiarem sem rumo pela pista. Sabia os limites, já havia decorado cada esquina daquele lugar, sabia onde tinha que virar e até onde poderia ir para ficar longe o bastante dele, longe o bastante para que ele simplesmente deixasse de existir e ela pudesse se fechar em seu próprio mundo.
Mais uma vez, como se adivinhasse exatamente o momento em que os pensamentos de Sara se desprendiam dele, ela ouviu a voz de Raphael, próxima, a fazendo estacar, abrir os olhos assustadas enquanto o via surgir em meio a névoa que sobria a pista. Ela engoliu uma longa golfada de ar, sentindo o peito doer pelo frio. Ela encolheu os ombros, ela sempre se encolhia quando ele estava assim tão próximo, o medo inconsciente que tinha de morrer e decepcionar os pais, o medo inconsciente que tinha da dor que o simples toque de Raphael provocava. Ela nãoe scapou aquela sensação.
As mãos dele envolveram seus braços e mesmo sob a pesada blusa de lã que usava ela sentiu a pele arder, como se estivesse em contato com o gelo da pista, como se estivesse em contato com a pele dele. Tão frio, tão doloroso. Um gemido baixo escapou de seus lábios, a dor parecia avançar até seus ombros e depois até as pontas de seus dedos. A próxima frase dele deixou claro o quanto ele estava irritado, o quanto estava cheio de ódio por ela.
– O que você quer de mim? Para de me infernizar, se quer me matar, porque não mata logo? Idiota! - ela tentou num movimento inútil erguer as mãos, agarrando as abas da jaqueta que ele usava, era a mesma jaqueta do primeiro dia, ela nunca esqueceria aquilo. Seu corpo todo tremia, tanto pela dor quanto pela raiva. Por que ele simplesmente não terminava com aquilo de uma vez? Por que não aproveitava que estavam apenas o dois e então arrancava o coração dela. Em poucos segundos ela seria apenas um monte de cinzas no chão.
Ela o encarou, engolindo toda a saliva que se juntava em sua boca. Ah como queria cuspir naquele rosto,a quele rosto que tantas garotas achavam perfeito e ela só conseguia repudiar.
Ela recuou o rosto quando ele se aproximou para responsdê-la, para dizer que ela era o brinquedinho dele, como se ela não soubesse disso, como se não fosse humilhante demais saber disso.
O hálito dele bateu frio contra o rosto dela, fazendo-a fechar os olhos por um segundo para abrí-los em seguida, o encarando com raiva. Ele tinah razão, não importava quanto ela escondesse, ele sempre conseguiria ler no olhar dela o que ela sentia por ele.
Ela sentiu seu estômago se apertar quando encontrou o olahr dele, sentiu que todo o ódio que sentia parecia se juntar em sua garganta,fazendo-a arder, fazendo-a se esquecer de tudo por um momento. Ela não queria mais ser o brinquedo dele, ela queria colocar um fim atudo aquilo. Um mês, um longo mês com ele a cercando de todas as formas, sem nunca atacar, sem nunca atacar de verdade.
Ela recuou o rosto e então o impulsionou para frente, cuspindo no rosto dele com toda a força que conseguia, sentindo os lábios rachados pelo frio arderem pela saliva quente, tão quente quanto o ódio que ela sentia por ele. Ela sabia que aquele seria seu fim, se ele nunca atacara, agora com certeza ele iria atacar, mas ao menos aquilo teria um fim.
A pressão do aperto em seus braços aumentou, fazendo seus ossos estralarem, sua carne parecendo ceder ao aperto do vampiro, ao gelo de seu toque, a dor subindo em uma única vez, fazendo seus joelhos fraquejarem.
Os gritos de dor escparam antes mesmo que ela pudesse contê-los, afinal dar a Raphael o gosto de ouví-la sentir dor era a última coisa que ela queria.
Ela escorregou nas lâminas dos pastins, seu corpo sendo deitado lentamente sobre o gelo, sentindo então ele prender as pernas dela com uma única perna e prender seus pulsos com facilidade, como se ela não fosse como ele, agora que ele estava ali sobre ela ela tinha certeza de que ele não era.
Ela o olhou aterrorizada, toda a coragem que a impulsionou ao ato agora havia se esvaído e dado lugar ao frio que ela sentia envolvê-la e que tornava tudo pior.
- Não! Não! - ela gritou desesperada, implorando para que ele não lhe fizesse nada, para que lhe desse ao menos uma chance, se é que ela tinha alguma chance.
Ele se aproximou, prendendo o olhar dela ao seu, impedindo-a de virar o rosto. Silêncio, ele sequer respirava enquanto a encarava daquele modo, enquanto a raiva e o ódio que ele tambéms entia por ela dançavam em seus olhos infinitamente azuis. Eles seriam capazes de encantar qualquer garota, mas para Sara eles significavam apenas a morte. No fundo, uma aprte dela desejou ler a mente dele, o que estava passando pela cabeça de Raphael agora que ele estava prestes a matá-la.
Ela estremeceu quando os lábios dele finalmente se moveram e ele a chamou de vadia. No fundo aquilo não a surpreendeu, na verdade era algo até mais leve do que ela esperava, seu rosto ainda estava intacto afinal, seu coração ainda estava dentro de seu peito.
Ela respirou pelos lábios entreabertos, sentindo o ar frio entrar-lhe pela garganta enquanto uma idéia louca surgia em sua mente. E se ela o mordesse? Se ela o atacasse e o surpreendesse talvez tivesse uma chance de fugir. Ela passou a língua pelos lábios, sentindo as presas arranhá-la. Ela nucna havia feito aquilo, ela nunca havia atacado alguém antes.
Seu pai sempre lhe dera sangue e Sara sequer chegou a sentir sede em sua vida, estava sempre cercada de cuidados, estava sempre protegida pelo abraço do próprio pai, um vampiro muito acima do que ela e Raphael jamais seriam, um vampiro que nascera vampiro.
A pergunta dele deixou claro que ele notara as intenções dela. Como ele era capaz? Era como se ele a conhecesse muito mais do que ela jamais imaginara que alguém fosse capaz, além de seu próprio pai.
- Não! - ela tentou negar, sentindo as lágrimas encherem seus olhos. Como pudera pensar em algo tão estúpido como aquilo? O que ela achava que conseguiria afinal?
Ela sentiu Raphael congelar seus pulsos, prendendo-a na pista e num esforço inútil ela tentou se livrar do gelo, ralando a pele fina, manchando o gelo com um vermelho claro que logo se escureceu por conta da temperatura.
Ela o olhou, sentindo o pânico aumentar quando percebeu o que ele estava fazendo, quando o viu morder o próprio pulso e se aproximou. Laços, laços de sangue que não podiam ser quebrados com facilidade. Ela nucna beberia o sangue dele.
Ele precionava o pulso com tanta força que logo o rosto de Sara começou a doer, marcas vermelhas sobressaindo na pele que começava a ficar azulada pelo frio, mas ela não engoliria nenhuma gota, ela não...
Ela não teve alternativa, ela esperava algo quente e aconchegante como o sangue do pai, mas tudo o que Sara sentiu escorrer por sua garganta foi um líquido frio, amargo, tao cheio de dor que só a fez chorar mais. Ela queria cuspir aquilo, aqueles sentimentos, mas sua garganta pareceu arranhar ainda mais quando o sangue de Raphael a tocou, numa sensação que ela nunca sentira antes.
Ela ouviu as palavras dele, chorando ainda mais porque sabia que aquilo era verdade, que agora ela estaria tão ligada a ele que o sentiria ainda mais quando estivessem próximos.
A mão fria dele correu por seus cabelos, mas ela mal podia sentir seu toque, a sensação de pela primeira vez ter sede parecia algo que anulava qualquer outra sensação, inclusive a de medo dele e todas as coisas que ela sentia no sangue que agora descia por sua garganta. Como alguém poderia sentir tanta dor e ainda continuar em pé como ele?
Ela afastou-se, tinha que parar com aquilo. Fechou os lábios mas logo os abriu, suas presas os ferindo sem dó, expostas, desejosas por mais sangue, por sentir ainda mais a pele fria dele contra seus lábios.
"Não... por favor..." - a mente dela suplicou quando ele lhe perguntou se ela queria mais, mas tudo o que seu corpo conseguia fazer era pedir por mais, sem se importar com o peso dele sobre ela, seus olhos fixos no pescoço pálido, na veia que pulsava sob a pele, fazendo as presas dela doerem. Que tipo de sensação era aquela afinal? Por que ela nunca sentira aquilo antes? Seus olhos estavam vermelhos, seu corpo estava rijo, suas unhas estavam fincadas contra as palmas das mãos. Ela sentia-se totalmente sem controle.
O sangue dele agora se espalhava dentro dela e ela queria sentir mais daquela dolorosa sensação que era tê-lo invandido todo seu ser de uma única vez, ela queria desvendá-lo e matá-lo, ela queria que o fim viesse logo.
Seus lábios tremiam pela febre e pelo frio que se misturava dentro dela enquanto ela sentia Raphael prendê-la entre suas pernas. Talvez qualquer outra desejasse estar ali, mas ela...
- Eu não quero... - ela praticamente chorou aquelas palavras, fechando os olhos, tentando apagar a imagem dele de sua mente, tentando fazer com que todo aquele turbilhão de sensações dentro dela cessassem. Ela mal conseguia sentir o próprio corpo sob o corpo dele, mas sentia que ele estava próximo, muito próximo e num impulso tolo ela ergueu uma das pernas, sentindo a pressão nada gentil das pernas dele contra a coxa dela.
Ela abriu os olhos, sua visão enchendo-se totalmente com ele, coms os cabelos brancos que caiam sobre o rosto dele, sobre sua nuca, com o pescoço dele a milímetros de seus lábios. Ela deveria repudiá-lo, mas o cheiro que escapava da pele dele a envolvia de uma forma que ela nunca conseguiria explicar.
Seus lábios tocaram a pele fria dele, mordiscando-o, arranhando-o. Ela queria ferí-lo tanto quanto ele a estava ferindo, mas ela sequer sabia como fazer aquilo. A única pessoa que mordera em toda sua vida fora seu pai e ela sempre fazia aquilo com todo o carinho do mundo, pois ela o amava e entendia a honra que era o fato dele lhe ceder sangue.
Ela deixou sua língua correr pela pele de Raphael, estremecendo ao sentir o gosto dele, suas mãos se movendo, seus pulsos tentando se soltar, ela queria tocá-lo, ela queria ferí-lo, ela simplesmente o queria e ela não sabia exatamente porque.
Suas presas deslizaram pelo pescoço dele, o frio deu um breve instante para uma sensação quente quando o perfume dele pareceu tomar todos os seus sentidos, quando o sangue dele pareceu dominar novamente sua razão.
Suas presas afundaram lentamente na pele de Raphael e quando o sangue invadiu sua boca seus lábios colaram-se a pele dele, sugando com vontade dessa vez, sem mais negar a sede que sentia, sem mais se importar com toda a dor que o sangue dele lhe trazia. Ele gemeu e mais uma vez os pulsos dela se feriram nos gelos enquanto suas mãos tentavam se libertar.
Aos poucos a sensação que sentia de desejo foi diminuindo, a medida que o sangue dele preenchia cada veia dela, a medida que ele deixava o peso de seu corpo praticamente sufocá-la e aos poucos sua consciência foi voltando, enchendo-a com perguntas confusas, enchendo-a com uma sensação incrível de vazio. Por que ela havia feito aquilo?
– Por que...? Por que você faz isso? – ela afastou as presas do pescoço dele, ainda deixando seus lábios tocarem a ferida, cicatrizando-a num cuidado que ele não merecia, mas era algo quase inconsicente que ela fazia.
Ela deixou a cabeça pender para trás, trocando o chão frio enquanto encarava o apr de olhos azuis, sentindo a visão turvar, sentindo que agora estava totalmente a mercê dele. Sem resposta, ou ela não ouviu a reposta, pois logo sua mente se desligou, assim como seu corpo, o frio a vencera finalmente, a dor de todos aqueles sentimentos a esgotara como nunca.
Seu corpo ficou inerte enquanto os olhos de Raphael corriam por ela, os sons à sua volta chegavam como se ela estivesse afundando na água, confusos e sem sentido e tudo o que ela conseguia sentir era algo frio descer por seu pescoço.
A madrugada seguiu sem que ela sequer se movesse, lapsos de consciência a faziam mover a cabeça de um lado para o outro, os olhos mortos não se fixavam em nenhum ponto.
Suas mãos estavam ao lado do corpo, as algemas de gelo que a prendiam estava partidas, machadas de sangue, mas ela não sabia de onde tirara forças para rompê-las.
Os primeriso raios de sol encontraram Sara virada de lado sobre o gelo com uma mancha escura sob o rosto, uma mancha formada pela sangue de Raphael, pelo sangue que agora corria em suas veias.
Ela primeiro sentou-se, pingos de água escorrendo por seus cabelos, por sua roupa totalmente enxarcada. Seu corpo tremeu convulsivamente e ela se abraçou, sua mente tentando buscar as lembranças da noite passada.
As lembranças da noite passada, elas só vieram quando ela estava encolhida no canto do box no banheiro, enquanto um jato de pagua quente lavava completamente o gelo dela, de suas roupas. Ela sequer tivera forças para se despir, ou ela não queria se despir, não queria se sentir mais indefesa do que estava se sentindo agora.
As lágrimas desciam por suas bochechas que exibiam um tom vermelho alarmante pelas queimaduras do frio, mas ela mal sentia a dor dos machucados. O que doia era por dentro e doia de um modo que ela nunca imaginou que pudesse doer.
AS lembranças de Raphael misturadas dolorosamente em seu sangue, o ódio que ele sentia por ela e ela por ele dançando em suas veias, misturado aquela sensação estranha que parecia queimá-la por dentro e congelá-la em seguida. Por que o havia mordido? Por que havia desejado o sangue dele?
Ela abaixou a cabeça, afundando o rosto nas nãos feridas cobertas pelas mangas da blusa de lã, seus dedos se enroscando nos cabelos que caiam sobre o rosto, puxando-os.
Aquela sensação, aquela sensação de que estava sendo partida ao meio, aquela sensação dele sobre ela, cada parte de seu corpo encontrando o corpo dele enquanto o sangue dele vertia para dentro de sua boca. Aquilo era doloroso, era humilhante e ela torcia para que a água quente lavasse aquelas sensações, ela torcia para que fosse capaz de expelir todo o sangue dele de dentro dela, mas ela sabia que era impossível. E aquilo doía.
- Por que...? - ela soluçou num fio de voz, tossido, engasgando-se com a água do chuveiro, se encolhendo ainda mais. Por que ele havia feito aquilo? Por que a odiava tanto? Eles eram iguais não eram? Por que eles simplesmente não poderiam se dar bem e... ela poderia ajudá-lo com toda aquela dor - Por que... ainda está em pé?... - ela soluçava cada palavra. Quem era Raphael Grifftis afinal? O que ele queria afinal? Por que ele havia empurrado toda aquela dor para cima dela?
- Por que?... - ela ergueu o rosto, encarando as gotas de água quente como se ele estivesse ali, como se ele fosse responder. Mas ela sabia que ele nunca responderia e talvez naquela noite ele resolvesse tomar o sangue que lhe dera de volta, talvez ele quisesse espalhar aquela dor ainda mais.
Era tão intenso que fez Sara abraçar-se ainda amis ao se lembrar. Era doce e amargo, era frio e quente e doía e por um momento ela desejou toda aquela dor e elmbrar disso fez seu rosto arder e seu peito doer. Que tipo de pessoa ela etsava se tornando? Que tipo de pessoa ele a estava tornando?
-... espalhar toda essa dor... por que?.... - ela abaixou a cabeça, deixando os braços caírem pelo chão de ladrilho, as gostas de água se jutnando nas palmas viradas de suas mãos.
- Por...que? - seus lábios se moviam sem emitir nenhum som enquanto ela fechava seus olhos. Quantas noites ela levaria para descobrir? Quantos noites ela ainda teria?

Essa postagem é o segundo capítulo da Fic escrita por minah Amiga Fran, quem quiser conferir o primeiro capítulo basta clicar aqui. O primeiro capítulo conta os fatos na visão de Raphael Grifftis, um vampiro nada gentil!