domingo, 22 de abril de 2012

..:: Breaking The Ice - Reckless ::..



"Eu não tenho mais motivos para chorar, ele está de volta, mas ainda assim... eu não consigo parar!
Me sinto tão estúpida e com tanta raiva... Eu não consigo entender!
Por que ela? Por que?!
Já faz quase um mês... eu não suporto mais fingir, o tempo todo fingindo, o tempo todo ouvindo e ouvindo ela dizer o quanto ele mudou!
Por que ele tinha que mudar?!
Ele parece feliz com ela, isso machuca, machuca muito...
Eu queria esquecer tudo isso, exatamente como ele esqueceu, ou melhor, alguma vez ele se lembrou?
Eu sei que não, eu sei que eu sou muito burra por tudo isso!
Acabou, exatamente como eu queria...
Acabou..."

Um longo mês havia se passado. Os pais de Sara haviam visitado a filha como o prometido, retornando à Espanha sem conseguirem entender o porque Sara parecia ainda mais triste, ao invés de feliz pelo fato de seu amigo ter voltado. Raphael Grifftis não havia morrido, mas para Sara aquilo não fez nenhuma diferença.
Ela podia vê-lo, mas ele não dispensava nenhuma olhar para ela, podia ouvi-lo, mas ele limitava-se a dizer ou comentar algo quando Florensce praticamente o obrigava a falar com Sara.
O mais doloroso era ouvir todos os dias o quanto o namoro dos dois estava indo bem, o quanto Raphael era carinhoso (ele era carinhoso?!), o quanto ele estava sendo gentil(Gentil?!) e o quanto o sorriso dele fazia Florensce se derreter em seu gelo.
Naqueles momentos, em meio a roda de garotas que praticamente idolatravam Florensce por ela ter conquistado Raphael, Sara sentia-se quase doente, seu rosto perdia o calor, mas suas orelhas ficavam vermelhas, latejando e ela inventava qualquer desculpa para se afastar, principalmente quando Raphael chegava.
Ela passou na se isolar ainda mais, muito além do que se isolou quando ele havia desaparecido e era claro que todas as afiadas e maldosas línguas daquele lugar diziam que ela invejava Florensce.
Era mentira, ou talvez não, mas Sara nunca desejaria mal a sua amiga. Apesar de tudo, apesar de toda a dor que aquilo lhe causava, Sara até mesmo se arriscava a dar conselhos, nunca comentando tudo o que havia acontecido entre Raphael e ela. Era algo que ela teria que manter somente com ela, para sempre, porque só importava a ela.
- Sara - ela estava na biblioteca agora, fazia mais um dos trabalhos extras. Um mês e suas notas ainda eram tão ruins que ela estava surpresa por ainda fazer parte do meio de alunos. Fernando deveria ser realmente influente - Sara, pare um pouco de estudar, quero te mostrar uma coisa! - a voz de Florensce que antes era apática, agora tinha notas doces e seus olhos tinham um brilho quase indecifrável. Ela apertava as mãos nervosamente enquanto se inclinava sobre a mesa.
Sara soltou o pesado livro de história sobre a mesa e ergueu o olhar, parecia cansada por tanto estudar, seus olhos castanhos pareciam mais escuros. Aquilo lhe dava uma beleza excentrica, típica a todos que carregam uma grande dor, deixando seu olhar misterioso, quase taciturno.
Ela separou os lábios para dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas assim que seus olhos caíram sobre as mãos nervosas de Florensce a voz sumiu-lhe da garganta.
Um fino anel prateado com um brilhante. Os lábios de Sara se fecharma numa linha reta e as mãos apertaram as beiradas do livro, quase rasgando o papel.
- O que achou? - Florensce ignorava a todos os comentários que ouvia sobre Sara, sabia que a mestiça era sua amiga e nas condições de Florensce, uma ex-humana, se aliar a mestiços era tudo o que sobrava - ele me deu hoje! Nós saímos para almoçar e ele me pediu em namoro! - Florensce exultava e vibrava, mal contendo a alegria.
Sara sorriu, mesmo que o impacto tivesse a sensação de um soco no estômago e estendeu a mão, torcendo para que Florensce não notasse o quanto seus dedos tremiam.
- Me deixe ver? - ela pediu, tentando manter a voz calma, alegre, mas o tom saiu algo parecido com uma súplica.
Florensce estendeu a mão e entrelaçou os dedos com Sara, exibindo de maneira orgulhosa o anel que havia ganhado. Sara sabia que Florensce se apaixonara por Raphael desde o primeiro instante, mas ela nunca soube quando eles se aproximaram, ela nunca havia notado muito de Raphael, mas aquilo havia mudado tardiamente.
Sara tocou o diamente, frio, duro, pálido e ao mesmo tempo brilhante, exatamente como Raphael, como seus olhos. Ela deixou-se encantar pela peça, esquecendo-se por um momento o que ela significava.
- É lindo - ela expressou de maneira verdadeira - é perfeito - ela soltou a mão de Florensce sobre a mesa - Estou muito feliz por você, sei que eles dizem coisas...
- Não! Por favor, Sara! Não comece com esse assunto. Eu acredito em você, sei que vocês dois tiveram um começo difícil, mas estou quase o convencendo de que vocês podem ser amigos. Eu ficaria tão feliz!
Sara olhou para a mesa, parecia buscar alguma coisa, alguma resposta em meio aos livros e aos cadernos, as coisas com as quais estava quase se familiarizando novamente, mas eles não lhe disseram nada.
- Seria bom, mas não se esforce tanto - Sara sorriu mais uma vez, afagando os cabelso curtinhos de Flor - Pense no seu namoro agora, só nisso. Vocês merecem ser felizes depois de tudo - a voz de Sara morreu no final da frase.
- Sim - Florensce concordou de imeditado - Raphael queria se vingar de quem matou o pai dele, ele me contou sobre isso, ele tem me contado muito sobre ele, é uma pessoa que eu não poderia imaginar que fosse. A cada dia que passa eu o amo mais!
Sara fechou os olhos e passou a mão pela testa, sentia-se desconfortável, sentia vontade de se levantar e deixar Flor falando sozinha, queria que um buraco se abrisse e a puxasse, qualquer coisa do que ouvir que outra amava Raphael.
- Ele me contou uma história muito triste, eu vou te contar, mas não diga a ela, não quero que ele fique bravo, mas eu confio em você Sara! - Florensce sentou-se diante de Sara, tomando novamente a mão da amiga entre as suas - Ele me contou como descobriu o que era... - ela sussurrou e Sara por um momento esqueceu-se da dor, surpreendendo-se com as palavras de Florensce.
Sara ouviu sem interromper o relato de Flor, como Raphael havia atacado seu amigo de infância, como o pai havia lhe revelado sua verdadeira natureza, a discussão com a mãe, o gelo que tomou todo seu corpo e passou a circular por suas veias desde então. Toda a dor que Raphael carregava agora estava ali diante de Sara, pelos lábios de Florensce.
- ... ele é tão parecido comigo afinal... - Florensce finalizou sua narrativa, suspirando - Vamos fazer bem um ao outro, eu vou me esforçar para que ele mude, que seja bom.
Sara deixou um suspiro escapar pelos lábios, apertando então a mão de Florensce e soltando-a, virando e começando a recolher seu material.
- Você não diz nada? - Florensce perguntou - Agora eu consigo entendê-lo perfeitamente Sara. Aquele jeito esnobe e medíocre, é tão clara a explicação!
Sara deu de ombros, para ela não se encaixava. Raphael sofrera, mas todos poderiam sofrer. Ela sabia que algo muito ruim havia acontecido, mas não podia ser aquilo, ou talvez fosse e era ela quem era errada por não entendê-lo.
- Sara... - Florensce se levantou, franzindo o cenho ao perceber que a outra vampira parecia mais apressada em guardar seu material do que em lhe dar uma opinião - Você é minha melhor amiga aqui, por favor, diga alguma coisa! O que você acha dele?
Sara deixou a alça da mochila que havia acabado de colocar no ombro escorregar, seus olhos fixando-se em Florensce como se quisesse se certificar de que ela era real, de que não era sua mente cheia de culpa lhe causando mais e mais dor, mas Florensce estava bem ali e exigia respostas.
- Ninguém nasce bom ou mau Flor, é só isso que acho - ela respondeu num tom vazio, voltando a ajeitar a alça de sua mochila - Me desculpe, eu não estou bem, estou preocupada com meus pais - Sara usava aquela desculpa tantas vezes que as pessoas à sua volta deveriam achar que seus pais estavam sendo caçados, ou algo assim.
- Tudo bem - Florensce pareceu se chatear, mas Sara realmente se importava com os pais, talvez Florensce estivesse ouvindo opiniões demais - Eu não vim aqui só lhe mostrar o anel, eu vim lhe fazer um convite.
Sara segurou-se, mais uma vez seus lábios fechados numa linha reta. Esperava ter uma boa desculpa para se livrar de Flor e se trancar em seu quarto. Era necessário citar que depois de tantas noites insones e de tantos soluços abafados agora Sara tinha o quarto só para ela? Sabrina havia mudado de quarto, não suportara os altos e baixos da companheira.
- Eu disse que esotu convencendo Rapha, sobre você e ele, então ele me disse que lhe fizesse um convite - Florensce tinha um sorriso amplo - E você não venha me dizer que vai estudar ou qualquer outra desculpa, eu te ajudo depois, te prometo!
- Um convite? - as palavras saíram dos lábios de Sara uma de cada vez. Seu instinto parecia ter aflorado novamente, sugando-a da areia movediça. Não parecia ser algo bom, afinal quando se está numa bolha de dor e se sai dela, o que se pode encontrar pode ser uma dor ainda pior.
- Sim! Ele quer que saiamos hoje a noite, mas calma! É claro que você não vai ficar de vela nem nada - Florensce respirou fundo - Vamos você, eu, ele e Filipe Matrelli!
Uma risada, Sara mal conseguiu se controlar, uma risada quase histérica escapando por seus lábios, fazendo seu corpo tremer de maneira nervosa. A dor agora era cortada pela raiva, pelo ódio que queimou como ácido em suas veias.
- Sara... - Florensce franziu o cenho indignada, sem entender porque Sara ria daquele modo, era estranho, mas como se ouvisse a piada mais divertida Sara se debruçava sobre a mesa - Sara, o que há de errado?
Sara tentou controlar a própria histeria, sentindo que havia chegado ao limite, a todo o limite daquele mês. Ela parou de rir e então encarou Florensce, seus olhos tinham um brilho assustador.
- Obrigada, mas eu declino - era respondeu, recolhendo os livros que deveriam ser devolvidos - Eu tenho que estudar, sei que Raphael - o nome queimou em seus lábios - ele quis fazer isso na melhor das intenções Flor, mas eu não seria uma boa companhia. Eu adoro você e não estou negando por causa dele ou de Matrelli. É por mim - ela respondeu, o tom mais calmo do que esperava depois de todo aquele ataque.
- Mas... - Florensce começou a argumentar, mas Sara simplesmente lhe deu as costas. Ela não queria ser mal educada, mas precisava ficar sozinha.
Depois de um mês de silêncio, aquilo havia sido um golpe cruel de Raphael. Ele queria deixar claro que não só a desprezava por completo como também a entregava de bandeja ao outro.
A imagem das notas ensaguentadas sobre a cama do hotel preencheu a mente de Sara e pela primeira vez depois de tudo o que aconteceu ela sentiu-se suja, ela sentiu ódio de si mesma por tudo o que sentia por ele.
Caminhava com raiva pelos corredores, magoada, destruída, seus pensamentos convergiam-se no desejo de que ele tivesse mesmo morrido e de que ela não desejava realmente aquilo. Uma parte pequena mas esmagadora, ainda mais fragilizada com a história que Florensce lhe contara, gritava, se esgoelava dentro dela, dizendo que ela o amava e que por isso o correspondera.
Ainda movida pela raiva ela caminhou sem rumo, saindo da biblioteca após praticamente jogar os livros na mesa de Arashi, a bibliotecária.
Ela passou como um raio pelas portas de madeira, deixando para trás expectadores estáticos que não compreendiam o que poderia ter acontecido.
Sara não se importava, pela primeira vez ela não queria ser boazinha, ela havia se esquecido da culpa, exatamente como naquela noite do baile, exatamente como quando tudo aquilo começara na cafeteria.
Irritada, ela sentiu as lágrimas encherem seus olhos, sentindo-se estúpida por mais uma vez desperdiça-las com alguém tão cretino e ordinário, alguém que queria que ela se danasse e sobrevivesse apenas para se danar ainda mais. Como ele mesmo havia dito, a morte não servia para ela.
Querendo se afastar o máximo possível e sabendo que não podia deixar o prédio ou certamente os professores alertariam seus pais mais uma vez, Sara tratou de subir para o terraço, sabia que naquele horário haveriam poucas pessoas ali, a troca de turnos estava próxima, então todos estariam no andar de baixo. Além disso, havia um lugar por onde quase ninguém passava, uma passagem entre os prédios que poderia ser feita de forma interna, por isso era pouco usada.
Ela precisava de um tempo sozinha, sozinha de verdade depois do que ouvira, por isso ficou amsi do que satisfeita quando não viu ninguém no terraço.
Um vento frio soprava e ela olhou para os céus com uma expressão irada, indagando-se se aquilo era uma irônia ou era de propósito para que ela nunca se esquecesse de como era ter Raphael por perto.
"Não pense nele, não pense nele, não depois de tudo!" - ela secou aquelas lágrimas teimosas e sentou-se no chão, largando sua bolsa ao lado, os pés batendo nervosamente no chão - "Suas notas... seus pais... seus amigos..." - ela dizia a si mesma como se fosse outra pessoa falando, forçando-se a pensar em coisas que não se relacionavam a Raphael, mas infelizmente era algo que ela não controlava.
Mais um filme onde ele era o protagonista, no centro da sala, com um garotinho nos braços. As cenas descritas por Florensce agora desfilavam na mente de Sara, como sal sobre as feridas. A morte e a dor que Raphael sentia pareceu correr pelas veias de Sara, ativada pelo laço que tinham e que nunca seria quebrado.
Ela se encolheu, escondendo o rosto entre os braços e os apoiando nos joelhos. Como podia sentir pena dele? Como podia sentir tanto por ele? O que seria preciso que ele fizesse para que ela entendesse que ele a odiava? Para que ela também odiasse ele?
- Saia do caminho - congelando o coração de Sara, a voz que ela não ouvia a quase um mês falar diretamente com ela a fez erguer a cabeça e encará-lo.
Raphael vestia um moletom com capuz e suas costumeiras calças jeans. Estava com um cigarro apagado na boca e parado diante dela, como se fosse chutá-la do caminho, afinal Sara havia se sentado nos degraus da passagem, travando quem quer que fosse usá-la - Está surda? - Raphael se inclinou, mas antes que pudesse tocá-la Sara se encolheu o máximo que pode contra a parede, lhe dando espaço para passar.
Uma parte dela sabia que aquela atitude defensiva fora exclusivamente para não sentir o toque dele, sabia que ia ser mais uma lembrança dolorosa e ela não queria.
Por um segundo Raphael permaneceu parado, inclinado em direção a ela, seus olhos pareciam buscar alguma coisa que não encontrou. Ele se levantou dandod e ombros e então passou por ela, caminhando pela passarela de modo despreocupado.
Quando ele estava longe o bastante Sara virou-se para olhá-lo, sentindo um aperto no peito ao ver as costas dele se afastarem.
Ela fechou os olhos e virou o rosto lentamente, encostando-o na pedra fria da parede, seu coração saltava dentro do peito e ela apertou as mãos entre os joelhos, obrigando-as a parar de tremer. No fundo havia sido bom que ele ficasse distante por todo aquele mês, afinal ela quase se desfizera com a simples possibilidade de um toque dele.
O toque dele... Sara levantou-se de repente, seguindo pela direção oposta, por onde ele tinha vindo. Mais uma vez ela perderia as aulas, mas ela prometera para si mesma que seria a última vez.
Ela tinha que esquecer Raphael, mas antes disso ela precisava fazer uma coisa.
Sara voltou apressada para o dormitório, largando sua mochila sobre a cama e correndo para o banheiro, retirando seu uniforme e voltando para o quarto totalmente bagunçado. Ela revirou um monte de roupas que estava sobre a cama que fora de Sabrina e então retirou uma blusa de lã e calças leggins de lá, as duas peças pretas, depois foi até o armário e apanhou seus patins.
Ela não sabia exatamente o que queria indo na pista de gelo onde pela primeira vez provara do sangue dele, mas ela apenas queria estar lá, em meio ao frio, ao vazio, ao silêncio. O silêncio que caia sobre os dois quando Raphael a abraçava e parecia se desligar do mundo.
Ela queria pensar sobre a história que Flor havia contado, queria pensar sobre Raphael, com ódio ou com amor, com qualquer coisa que lhe viesse, uma última vez.
A névoa densa envolvia o local, Sara teve que driblar a segurança pois a pista estava fechada, mas ela já havia se acostumado a fazer aquilo. Não fora assim no dia em que ele a mordera?
Sara calçou os patins e deixou as lâminas se firmarem, deslizando então pelo gelo, sentindo o frio envolvê-la, sentindo o corpo se arrepiar, fechando os olhos e entreabrindo os lábios.
Ele a estava observando em algum lugar? Ele apareceria de algum lugar?
Sara sorriu, o frio parecia cortar seu rosto, como se os dedos dele deslizassem por sua pele e agora ela sentia tanto frio que parecia estar novamente sob o corpo dele, deitada no gelo.
Ela sorriu ainda mais, respirando fundo o ar gelado, sentindo seu peito pesar, cada dolorosa batida de seu coração impulsionava o sangue dele por suas veias, enchia sua mente com todos os jeitos e trejeitos dele. Perfeito e imperfeito, cruel e amável. Ela se sentia como uma onda em direção ao recife. Sabia que se arrebentaria por cada um daqueles pensamentos, por cada lembrança que passava em sua mente, mas ela não se importava. Se ela iria se acabar então que fosse por ele.
Ela não eprcebeu quando suas pernas perderam o equilíbrio e seu corpo flutuou no ar, seu rosto estava contra o gelo e seu sangue quente escorria por sua bochecha, suas mãos ardiam, raladas e feridas pelo gelo. Estúpida, ela havia caído, mas mal sentia a dor, tão entorpecida estava.
Depois de alguns minutos, quando seus lábios passaram a tremer, adormecidos, Sara virou-se e ficou de costas no gelo, esperando. Não havia o que esperar, certamente aquela altura ele estava com Florensce e Matrelli e qualquer outra garota em algum lugar, estava se divertindo, estava sendo uma nova pessoa.
Arrasada, Sara levantou-se, cicatrinzando a ferida em seu rosto, os olhos secos lhe dispensaram do esforço para não chorar.
Como passos lentos ela deixou a pista, sentando-se e sentindo-se exausta enquanto trocava os patins por seus tênis.
Como numa parada macabra, seus passos lentos a guiaram de volta para o dormitório, para sua última noite deixando-se sonhar com algo que nunca teria, com alguém que nunca seria.
Mais ela não havia sido dele? Nâo havia tido ele? Sara sentia a cabeça latejar. Não importava as repostas, elas não levariam a lugar nenhum.
O ar escapava pesado por seus lábios quando ela chegou ao dormitório, caminhando pelos quartos vazios, ou não totalmente vazios.
Estaria alucinando? Não, não podia ser. Seu sangue vibrava, seu corpo reagia, então ela sabia que ele estava ali... e estava sozinho.
Como que atraída por um imã, Sara caminhou, parando diante da porta daquele quarto no qual ela nunca mais estivera, suas mãos tocando a maçaneta, girando-a, empurrando a madeira. Por um motivo que ela não sabia ele não parecia surpreso ao vê-la ali e ela não se culpava por estar ali.
Raphael estava apoiado no parapeito da janela, fumando seu cigarro. Aquele era o único ponto de luz no quarto escuro, a lua estava escondida por trás de nunvens que encobriam o céu e até mesmo a pele de Raphael que costumava a refletir a mais tênue luz estava apagada.
Ele estava sem camisa e Sara sentiu-se doente quando o desejo de tocá-lo fez suas mãos se aquecerem.
Ela se aproximou, puxando a cadeira da escrivaninha e a arrastando atrás dela, até ficar próximo a janela, sentando-se ali.
Ele continuou a olhar para fora e Sara ficou o observando em silêncio por longos minutos, virando-se então para frente e fazendo como ele, encarando a noite.
- No que está pensando? - os lábios dela se separaram, a voz saiu baixa, como se temesse que a intromissão fosse o suficiente para acabar com aquele momento.
- Na morte - ele respondeu no mesmo tom baixo, olhando-a de lado - No que acontece com as pessoas depois dela, no quanto elas se destroem... - ele franziu o cenho, fechando os lábios numa linha reta.
Sara apenas concordou com um gesto de cabeça. Ela entendia bem o que era se destruir ao pensar que havia perdido alguém.
- Eu sinto muito - ela deixou escapar e Raphael virou-se para ela, um sorriso afiado surgindo em seus lábios.
- Como pode sentir algo por alguém que não conheceu? Estou casando de ouvir essas estupidez de que sentem muito pela morte de meu p... - Raphael começou, mas calou-se quando Sara ergueu o olhar para ele.
- Eu não sinto por ele, eu sequer o conheço - Sara franziu o cenho e então desviou o olhar dele - Eu sinto por você - ela completou, abaixando a cabeça, deixando os cabelos cobrirem seu rosto, suspirando. Era verdade, ela sentia tanto por ele, mais do que jamais poderia dizer - Mas agora você está bem, não deveria pensar na morte... - ela ergueu a mão, tocando o braço dele que estava apoiado no parapeito.
O que havia acontecido com ela? Havia enloquecido de vez? Talvez sua mente achasse que estivesse num sonho ou algo assim, num lugar onde tinha direito de sentir a pele dele sob seus dedos.
Ele afastou o braço, desviando o olhar para fora e negando com a cabeça, exalando lentamente a fumaça que tragara do cigarro.
- Você não sabe do que está falando, eu não tenho ninguém - a voz dele tornou-se amarga, a morte do pai realmente parecia tê-lo afetado, mas não haveria de ser de outro modo - Mas isso não vai ficar assim - ele tirou o cigarro dos lábios e encarou a brasa, seu olhar vazio.
- O que pretende fazer? - ela perguntou, deixando a mão cair do braço dele para o próprio joelho.
Outra vez ele a encarou, como se não reconhecesse a pessoa que estava ali. Sara parecia entorpecida e era exatamente assim que ela se sentia.
- Eu não sei, eu estava pensando sobre isso quando você apareceu. Pensando sobre a morte, sobre como será a morte do desgraçado que fez isso, ah... tantas coisas... - ele fechou os olhos como se estivesse se deliciando com as cenas que imaginava - Ah Sara... você não faz ideia sobre o que eu estava pensando - ele inclinou a cabeça para trás.
- Então me conte - a voz dela parecia calma, quase sem emoção. Ela se inclinou para frente e então debruçou-se sobre a janela, seus olhos se perdendo na escuridão das árvores ao longe. O que importava para ela o que ele faria?
- ... - Raphael apertou a bituca contra a madeira, exalando a última baforada e deixando-a cair, se perder no escuro do lado de fora - Meu pai, ele era como um ponto de referênia para mim. Depois do que houve, quando eu descobrir quem era, eu me senti sujo, nunca seria como ele e também nunca seria como aquele humano que matei - a mandíbula de Raphael trincou-se, mas ele obrigou-se a continuar - Sabe Sara, eu não me importei de verdade com o que fiz, talvez naquele momento, mas depois que descobri quem era... Isso me deu prazer Sara, a dor me deu prazer, sempre e eu aprendi a conviver com isso. Ao contrário de você eu nunca tentei ser algo que não era, eu nunca lutei. Até meus quinze anos eu vivi uma ilusão, mas então eu despertei e nada voltou a ser como antes. Eu nunca mais senti calor, eu nunca mais me senti fraco e isso era tudo o que mais queria.
Sara sentiu um calafrio percorrer o corpo, mas continuou calada, apenas ouvindo o desabafar de Raphael, as palavra duras sobre o passado que Florensce achava que o fizera fraco demonstrava que era exatamente ao contrário. Raphael havia se transformado no que queria. Aquilo a fez suspirar de modo decepcionado, ela queria se sentir mais forte com tudo o que havia acontecido com ela.
- Talvez você tenha razão - ela deu de ombros, ainda com os braços apoiados no parapeito, o queixo sobre eles - Talvez não, eu gostaria de ser mais forte com tudo o que aconteceu, com o que houve no meu passado. Não importa... - ela cortou antes que ele fizesse qualquer pergunta, erguendo uma das mãos.
Raphael ficou analisando Sara por um momento, a expressão dela parecia compenetrada, os olhos dela tinha um brilho frio. Ele reconheceu seu próprio olhar ali, sua expressão há anos atrás negando a própria dor, as próprias fraquezas.
- Por que está aqui? - ele perguntou de repente e Sara retirou os braços do parapeito, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e abaixando a cabeça.
- Por que? - ela se perguntou, sentindo a dor se remexer dentro dela. Por que ela havia ido ao encontro de quem lhe causava tanta dor? Não sabia, talvez fosse estúpida, talvez fosse uma vadia, talvez fosse qualquer coisa, mas ela só estava cansada de fingir ser o que não era. Se queria vê-lo, simplesmente decidira vê-lo - Estou cansada... - ela se virou para ele e ele assentiu, como se compreendesse perfeitamente a frase dela.
- Eu também - ele desviou o olhar dela para fora - Estou casando, foi um longo mês sendo quem não sou - ele pigarreou e então virou-se de costas para fora, cruzando os braços sobre o peito e então agaichando-se até ficar da altura dela na cadeira, as costas apoiadas na parede.
Ele ergueu a mão, deixando os dedos gelados correrem pela bochecha dela. Era impressão ou a pele estava áspera, como tivesse acabado de cicatrizar? Ele não se importou em perguntar, seus sentindos se atentaram ao coração de Sara que dera um salto no peito.
Ela havia fechado os olhos, apreciando o gelo que um dia a aterrorizou, o gelo que deveria odiar mais do que qualquer outra coisa no mundo, mas não conseguia.
Os lábios entreabertos deixavam escapar o ar. A onda e o recife, agora não havia como voltar para o oceano, não havia como se perder no mar uma vez mais. Ela morreira na praia do toque dele.
De olhos fechados ela sentiu ele se aproximar, o nariz dele correndo por seu pescoço, fazendo-a ofegar, fazendo-a erguer as mãos e apoiá-las nos ombros dele, puxando-o para si.
- Sara... - ele sussurrou com os lábios sobre os dela - Você vai fazer isso? Você vai trair sua amiga? - a voz dele tinha um tom de nervosismo e de algo que Sara não soube identificar - Você vai trair Florensce? - ele repetiu, os dedos enroscados nos cabelos dela, a respiração quente da mestiça parecia se derreter contra a pele dele.
Como se acordasse de um transe ela se afastou, abrindo os olhos, parecendo assustada e então se levantou da cadeira no mesmo instante em que ele se levantava da parede.
Ele a encarava, os olhos azuis parecendo devorá-la enquanto a mão dele se fechava sobre seu ombro.
- Fique! Você veio até aqui e agora só vai sair quando eu deixar! - ele vociferou e então a puxou para perto dele, franzindo o cenho enquanto a encarava. Ela não sabia como reagir e isso o fez sorrir daquele modo que só ela conhecia, assustador, como um predador - Estou cansado Sara, cansado de fingir ser quem não sou. Eu quero fazer algo essa noite, algo que não faço há muito tempo... e você vai vir comigo.
Sara apoiou as mãos no peito de Raphael, erguendo o olhar para ele ainda sem conseguir acreditar em toda aquela situação, as lembranças sobre a noite na boate despertando dentro dela. Mais uma vez ele a levaria para aquele lugar?
Ela abriu a boca para negar, mas o olhar dele sobre ela tinha um peso tão grande que tudo o que conseguiu foi assentir. Não era aquilo que ela queria? Uma última noite de lembranças antes de desistir de tudo?
- E-eu vou me trocar... - ela tentou se afastar, mas ele ainda segurava seu ombro, mantendo ela no mesmo lugar.
- Não temos tempo, temos que ir antes que Florensce e Matrelli venham - ele a soltou e então olhou em volta, virando-se para a cama e pegando sua jaqueta - Você vestir isso - ele praticamente jogou a peça nela e então foia té o guarda roupas, pegando a primeira jaqueta que encontrou.
Sara vestiu a pesada jaqueta de couro, perdendo-se completamente dentro da roupa, as mangas cobriam suas mãos e a roupa lhe chegava quase aos joelhos. Raphael era bem maior do que ela, mas isso não importou quando o cheiro amadeirado da roupa encheu-lhes os pulmões, lhe dando uma sensação estranha de conforto.
- Vamos! - ele a puxou pelo braço, empurrando-a em direção a porta. Mais uma vez, e dessa vez por sua própria escolha, ela estava a mercê de Raphael, praticamente arrastada pelo corredor por seus passos largos e seus puxões, até saírem do dormitório, até alcançarem ao estacionamento.
Eles caminharem por alguns minutos, Raphael correndo os olhos pelos carros estacionado ali, até se aproximar de um que lhe agradasse e mais uma vez usando-se de suas artimanhas abriu a porta do veículo.
- Entra - ele ordenou e Sara não espeoru que ele a puxasse e a empurrasse para dentro, ela sentou-se no banco e colocou o cinto antes que ele desse a volta no carro e se sentasse no banco do motorista.
Quando Raphael pisou no acelerador e o carro seu moveu ela estava pronta e seu corpo não bateu contra o encosto do banco e ela não se sentiu assustada quando, antes mesmo de sair do estacionamento, o ponteiro do velocímetro marcava quase noventa.
Ela deixou o olhar correr por ele enquanto ela dirigia, olhando para a  estrada, sério, o cenho franzido. Talvez ele estivesse se perguntando o que havia dado nela, mas nem ela sabia como explicar e talvez ele realmente achasse que ela havia enloquecido quando ela dissesse que queria lembrar dele antes de esquecê-lo.
O carro ganhou a estrada, fazendo uma curva e cantando pneus, levantando a poeira e a terra atrás deles. Agora estavam fora dos limites do internato, não haveria ninguém para socorrê-la.
- Vai ser do seu jeito hoje - a frase de Raphael a pegou de surpresa, principalmente pelo fato de que ele não olhava mais para a estrada e sim para ela.
- A-a estrada... - ela se virou e apontou um tanto assustada, fazendo ele rir da expressão dela, afinal se nada a havia surpreendido até então aquilo com certeza a surpreenderia.
Raphael virou-se para frente no exato momento de desviar de um carro, fazendo Sara se jogar contr ao banco e cobrir o rosto, enquanto ele ria, praticamente gargalhava, pisando ainda mais no acelerador.
- Eu sabia que isso não ia durar - ele comentou, ainda sorrindo largamente, as presas expostas - Você não poderia ter mudado tanto assim - ele voltou a olhar a estrada, agora o velocímetro havia chegado ao máqximo, duzentos e trinta por hora e toda a estrada havia se transformado num borrão. Raphael estava tentando matá-los?
Sara segurava a porta do carro como se aquilo fosse capaz de salva-la caso batessem o carro naquela velocidade, mas quando se aproximaram da cidade Raphael foi obrigado a diminuir, para alívio da garota.
Pálida, Sara sentia-se totalmente trêmula, a pele do rosto brilhando com o suor frio que escorria. Outra risada de Raphael e ela se encolheu dentro da jaqueta, tentando encará-lo com uma expressão fechada, mas isso apenas o divertia mais.
- Vamos matar, vamos beber sangue fresco essa noite - ele disse, guiando o carro por ruas de Whsitler que Sara não conhecia, ruas estreitas e escuras que pareciam ter sido esquecidas. Sara conhecia somente o centro de Whistler, portanto aquela parte da periferia era desconhecida dela.
Eles passaram por bares decadentes e alguns bordéis, mulheres se atirando em frente ao carro, tirando sorrisos maliciosos e enojados de Raphael. Sara conseguia sentir o desprezo dele por aquelas pessoas, mas de certo modo ela também os desprezava.
- Aqui, é disso que você gosta Sara? - ele apontou as prostitutas, os carros que paravam para apanha-las - É dessa raça que você tem pena Sara? Eles sequer se respeitam - Raphael então acelerou, saindo daquele lugar - Você temt anto a aprender ainda garota - ele disse num tom de desgosto.
Naquele momento Sara se perguntou qual seria a real idade dele, quantos anos Raphael Grifftis teria? Ela conhecia tão pouco dele, ela não conhecia nada na verdade. Tudo o que descobria sobre Raphael eram fatos que o destino ia jogando para ela e que ela não tinha nenhuma outra escolha além de absorver.
Agora estavam numa parte melhor da cidade, um barrio onde havia em sua maioria casas residenciais e pouco comércio. Sara sentiu-se mais confortável, as ruas vazias eram abstante arborizadas e das casas escapava ainda um pouco do calor das famílias que dormiam tranquilamente.
Como se quisesse deixar Sara aproveitar a paisagem, Raphael dirigia lentamente, a pouco mais de trinta, até que parou o carro.
- Desça - ele se virou para ela e Sara o olhou espantada - O que? Acha que eu te trouxe aqui para ver essas casinhas? Eu disse que vamos matar e vai ser aqui! - ele não esperou reação, debruçou-se arrancando o cinto dela e esticou o braço, destravando a porta e a abrindo, empurrando Sara para fora.
Assustada, a vampira olhou em volta, imaginando qual daquelas casas Raphael invadiria, imaginando as pessoas lá dentro. Haveria crianças? O coração de Sara apertou-se, acelerando-se de modo dolorido. Ela jamais poderia concordar com aquilo.
Num impulso Sara se atirou para frente, correndo para Raphael que saia do carro, segurando os braços dele como se aquilo bastasse para lhe impedir de sair do veículo.
- Raphael, não, por favor! - ela pediu e ele afastou as mãos dela com um safanão, a expressão fechada enquanto se erguia do banco. Sara havia recuado alguns passos, as mãos trêmulas de nervoso. Lutaria com ele se fosse preciso, mesmo que aquilo só fosse adiar o sofrimentos daquelas pessoas.
- Não seja estúpida! - ele praticamente cuspiu as palavras em direção a ela e bateu a porta do carro com força. O que estaria passando na cabeça dela para estar tão desesperada?
- Vamos logo! - Raphael agarrou o pulso que ela ergueu para se defender quando ele se aproximou e então a puxou atrás de si. Sara tentava firmar os pés no chão, mas isso só fazia Raphael se impacientar ainda mais, puxando-a para frente. Desse modo eles chegaram até o fim da rua e foi então que Sara ouviu um grito desesperado, o que fez os cachorros das casas prpoximas começarem a latir.
Raphael soltou a mão de Sara e como uma sombra delsizando na noite sumiu de seu campo de vista. Outro grito, como se acordasse de um transe Sara passou a correr na direção de onde vinha o som e encontrou Raphael segurando um homem pela garganta, encostada na parede, uma mulher se encolhia, desesperada, tetnando fechar sua blusa rasgada. Demorou alguns segundos para que Sara entendesse o que estava acontecendo.
Apertando ainda mais sua mão, Raphael quebrou o pescoço do assaltante, pouco se importando com a faca fincada em seu ombro, um sorriso quase diabólico nos lábios enquanto encarava os olhos esbugalhados do homem que morria.
A mulher sequer viu acena, chorava encolhida, tentando se esconder, tentando fechar as roupas rasgadas. Sara se aproximou dela de modo cauteloso, ajoelhando-se no chão e estendendo a mão para tocá-la, mas a mulher recuou.
- F-fique calma - Sara ficou de um modo que ocultasse o que quer que Raphael estivesse fazendo - N-nós vamos ajudá-la - Sara apanhou então a bolsa e os documentos da mulher que estava caídos no chão, sentindo toda a agonia que aquela mulher sentia. Aquele homem estava tentando violentá-la.
Sara fechou os olhos por um segundo, sentindo-se estranha, a visão turva. As cenas do hotel se misturaram em sua cabeça e ela sentiu-se fraca. Ao contrário daquela mulher que beirava o desespero ela havia aceitado Raphael. Por um segundo ela se questionou o porque daquilo, mas um novo soluço da desconhecida a fez abrir os olhos.
Num impulso Sara tirou a jaqueta, oferecendo para vestir a mulher, mas antes que a outra apanhasse a peça de roupa Raphael a puxou das mãos de Sara.
- Se quer fazer caridade faça com as suas roupas - ele disse num tom frio, olhando com desprezo a mulher caída no chão. sara não conseguiu entender aquele tipo de atitude, afinal havia sido ele quem ajudara a desconhecida.
- Mas... - Sara começou, mas a expressão de Raphael era impassível. Indignada e sem pensar duas vezes, Sara retirou a blusa de frio que vestia, bem como as botas e a calça legging. Esperava que servisse.
A mulher olhou confusa, sem entender quem eram aqueles dois e porque estavam fazendo aquilo.
- Aceite! - Sara disse num tom quase de ordem enquanto estendia as roupas dobradas para a mulher que murmurou um obrigada, afinal ela não se encontrava em condições de recusar.
Raphael virou-se de costas e entrou no beco onde antes estavam os dois, estuprador e sua vítima, retornando com outra bolsa da mulher, jogando-a na calçada ao lado das duas.
- V-vocês são... policiais? - a mulher perguntou enquanto se vestia, a expressão mostrava o quanto estava em choque, o corpo trêmulo,mal conseguia colcoar as peças de roupa.
- Não, mas vai ficar tudo bem, vamos chamar a polícia e explicar tudo. Se você qusier ir embora... - Sara não sabia como agir, ajudando como podia a mulher, mas ela se retraía a cada toque seu. Um medo subconsciente? Sara não podia dizer.
- Se puder deixe seu telefone - Raphael surgiu mais uam vez atrás dela - Vamos chamar a polícia e se eles nãoa creditarem na nossa versão vamos ter que procurar você.
A mulher assentiu, constrangida com o olhar de Raphael sobre ela, revirando então a bolsa e entregando um cartão para Sara.
- É-é do meu serviço - ela disse num sussurro e Sara apanhou o pedaço de papel. A mulher era enfermeira numa casa de idosos ao que indicava, aquilo fragilizou ainda mais Sara. Uma pessoa tão boa e agora suas memórias estariam maculadas por algo terrível. Os olhos dela se encheram de lágrimas.
- Venha - Raphael estendeu a mão para a mulher, impaciente com a recusa inicial - Oras, eu te salvei sua vagabunda, acha que eu vou matá-la? - a agressividade de Raphael assustou até mesmo Sara, mas por algum motivo fez a mulher reagir e se erguer - Você mora perto, eu vou levá-la - ele desviou então o olhar para Sara que ainda estava sentada no chão - Fique ai, chame a polícia! - ele ordenou, jogando a jaqueta de volta para Sara enquanto negava com a cabeça, como se ela estivesse fazendo alguma coisa errada ou ridícula demais.
Pouco depois Raphael voltou. Sara havia saído da calçada, se ocultado no beco ao lado do corpo. Das sombras, Raphael saiu caminhando com passos pesados em direção, de cabeça baixa.
- Infelizmente chegamos tarde - ele disse, trincando a mandíbula em seguida - Há dias que estou observando esse cara, eu sabia! - ele fechou a mão em punho, respirando pesadamente, socando a parede - Humano imundo.
Sara não entendeu a princípio e isso pareceu deixar Raphael muito mais irritado. Ele a levou até perto do corpo e então com um chute virou o cadáver de barriga para cima, colocando o pé próximo a virilha dele.
A cena do órgão sexual exposto pelo zíper parcialmente aberto e o líquido viscoso manchando o tecido deixava claro o que Raphael queria dizer. O homem havia conseguido o que queria.
Sara sentiu-se enojada, virando o rosto de lado, por um segundo se virou em direção a Raphael, como se fosse procurar apoio, mas sabia que ele era a pessoa errada para isso.
Ela apoiou-se na parede, fechando os olhos com força, tentando controlar o próprio mal estar. Raphael realmente precisava mostrar aquilo para ela?
- Esquece Sara - a voz dele tinha um tom mais brando - Ao menos vamos tirar algum proveito disso - ele se ajoelhou e sem hesitar lançou-se sobre o homem, como um animal sedento, as presas afundando no pescoço dele, sorvendo o sangue que ainda estava quente.
Sara olhou com verdadeiro horror para a cena, encolhendo-se contra a parede,s entindo as lágrimas lhe escaparem dos olhos. Que tipo de monstro Raphael era?
O cheiro do sangue se alastrou pelo ar, fazendo a garganta de Sara arder, fazendo-a gemer baixinho, quase como um súplica. Ela deslizou contra a parede até sentar-se no chão, encolhendo-se, ouvindo as sucções de Raphael enquanto sorvia o sangue.
Monstro? Ele era mesmo um mostro? Sara sabia que não, sabia que ele havia feito por aquela mulher muito mais do que ela faria. Provavelmente se ela tivesse chegado ali antes dele não saberia como reagir, poderia acabar sendo culpada pela morte da enfermeira, podia acabar se tornando vítima. Lembrou-se da noite na qual fora atacada com sua babá, de todo o desespero que sentia, impotente em defender a humana que quase morrera.
Raphael não era um monstro por beber o sangue daquele homem, ao contrário, ele tinah todo o direito de fazer aquilo. Afinal ele havia matado aquele homem para salvar uma mulher inocente e se Raphael precisava de sangue para sobreviver não havia nada mais justo.
Sara ergueu a cabeça, olhando para os dois, engatinhando em direção ao corpo, puxando um de seus pulsos. Ela também tinha direito naquele sangue.
Ainda sentindo o estômago embrulhar Sara afastou a manga da camisa daquele homem imundo, rasgando-lhe o pulso sem dó alguma, fincando as presas com força na carne que começava a endurecer. Ela sugou, deixando que todo o ódio que sentia naquele momento fluísse, um pequeno rosnando escapando de seu peito.
Foram longos goles até que as veias do homem não fornecia mais nada. Sara sequer preocupou-se em cicatrizar a ferida, largando o pulso com força contra o chão, fazendo os ossos estralarem.
Raphael afastou-se da jugular do homem, erguendo-se e o segurando pelo outro braço, arrastando-o para o fundo do beco. Com facilidade ele ergueu o corpo e o atirou dentro de um conteiner de lixo, pegando um jornal e colocando fogo nele com seu isqueiro, atirando lá dentro. Em pouco tempo o fogo consumiria o corpo, aumentado pelos gases do lixo, não deixando nenhuma pista do que havia acontecido ali.
Sara ainda estava sentada no chão, sentindo as pernas geladas pelo frio, sentindo-se perdida em tudo o que havia acontecido. Ela passou as costas da mão sobre a boca, limpando o sangue de seus lábios enquanto se levantava.
Raphael se aproximou dela, deixando-a praticamente presa entre a parede e ele, o rosto baixo, os olhos fixos nos dela. Ele ergueu a mão e deslizou o polegar pelas bochechas de Sara e ela não entendeu o porque da atitude dele, entendendo menos ainda quando aquilo pareceu acalma-la.
- Vamos tirar o gosto ruim da boca - ele disse num tom baixo e virou-se de costas para ela, caminhando para fora do beco.
Apenas de regata e calçando as botas, fechando a jaqueta de Raphael, Sara seguiu atrás dele correndo um pouco para alcançá-lo e quando fez ela segurou sua mão.
Não sabia porque havia feito aquilo, mas ficou surpresa por ele não tê-la repelido, ao contrário, seus dedos estavam entrelaçados enquanto caminhavam em direção a um posto de gasolina.
Sara não se sentia constrangida por estar sem as calças, afinal a jaqueta de Raphael lhe cobria o bastante, quase como um vestido, mas seu rosto tinha um tom rosado que teimava em colorir suas bochechas.
- Fique aqui fora - ele disse, parando diante de um banco do outro lado da rua, soltando a mão de Sara e lhe dando às costas. Num estranha obediência cega Sara simplesmente sentou-se no banco e aguardou.
Alguns minutos se passaram e logo Raphael voltava, parandoa trás do banco onde ela estava e estendendo uma lata de refrigerante, na outra mão ele tinha uma lata de cerveja, mas a bebida ali dentro tinha um cheiro muito mais forte, quase de alcool puro.
Assim que ela apanhou o refrigerante virou-se novamente para frente enquanto ele dava a volta no banco e se sentava ao seu lado, um pouco distante, mas ela não esperava que ele se aproximasse mais.
Sara abriu sua lata, tomando um longo gole da bebida doce e gelada, abaixando a cabeça pensativa em seguida. Tanta coisa havia acontecido naquela noite, naquele dia todo. Tanta dor e decepção e agora... agora ela não sabia mais o que pensar. Raphael disse que observara aquele homem por vários dias, então ele de certa forma estava cuidando de alguém, fazendo algo bom. Será que Florensce estava mesmo ajudando ele a mudar? Sara sentiu uma pontada de ciúmes no peito.
Ao contrário dela, fraca e tola, Florensce era forte e se Raphael estava mudando certamente era por causa dela.
Além daquele sentimento, haviam outros que ocupavam sua mente, deixando-a confusa com tudo o que havia ocorrido. Se ele estava sendo bom por causa de Florensce então porque havia chamada Sara para ir com ele?
Era tudo tão confuso, ainda mais Raphael ajudando alguém, ajudando a uma humana. Ela suspirou, deixando os ombros caírem. Não conhecia nada dele, definitivamente e quanto mais via sobre ele, mais sentia que nada sabia e ao mesmo tempo mais sentia por ele.
Ela relembrou o momento do grito, sem hesitação ele a soltou e foi atrás, sem sequer saber o que poderia estar ali, o que poderia acontecer. Atirou-se e corajosamente salvando uma vida, algo que Sara não conseguiria.
Ela o olhou de relance. Com o braço estendido sobre o encosto do banco, a outra mão segurando a lata de bebida, ele parecia igualmente pensativo.
Sara apoiou-se no encosto, sentindo o braço dele em suas costas, novamente não houve reclamação, a proximidade dela não foi repelida.
- Você acha certo o que fizemos? - Raphael largou a lata de cerveja sobre o banco e tirou um cigarro do bolso, retirando em seguida o isqueiro e acendendo-o.
- Acho - Sara respondeu sem hesitar, virando o rosto em direção a ele. Raphael negava com a cabeça.
- Nós matamos um humano, Sara. Bebemos o sangue dele e ateamos fogo ao corpo. Isso é certo Sara? - ele perguntou e ela não entendeu onde Raphael queria chegar.
- Mas ele... ele fez uma coisa terrível - Sara rebateu, franzindo o cenho, olhando com indignação para Raphael.
- Eu sei Sara, mas quem somos nós para julgá-lo? Ele merecia morrer pelo que fez? Eu não fiz o mesmo com você Sara? - as apalvras dele a atingiram como um soco no estômago e por um momento a lata de refrigerante vacilou, escorregando dos dedos de Sara - O que quero dizer Sara é que não somos ninguém para julgar. Me diga você, você que adora humanos, bebeu o sangue dele. Por que? Por que achou certo vê-lo morto?
Sem resposta. Sara sentia que a voz havia sumido da garganta. Seus pensamentos giravam em espiral e ela sentia o rosto latejar. O que ela poderia dizer?
- Às vezes matar é necessário Sara, é por isso que matamos, para sobreviver. Precisamos de sangue e isso não é culpa nossa. Nascemos assim Sara. Eu queria que entendesse isso e parasse de negar quem é. Você é uma vampira Sara, não uma humana. Então porque se tem um motivo é certo matar? É certo beber o sangue até secar?
Aos poucos Sara entendia o que ele dizia. Uma situação, muitos pontos de vista. Ela bebera o sangue daquele homem porque estava com ódio dele, porque ele havia morrido por algo ruim, mas só aquilo justificava a morte? então se todo o sangue viesse de pessoas ruins ela poderia matar impunemente?
- Não somos deuses apesar de tudo Sara - ele completou, aproximando-se dela, deixando o braço apoiar-se nos ombros da menina. Sara mantinha a cabeça baixa, ainda perdida em seus pensamentos. Raphael tragou o cigarro e ficou em silêncio, esperando que ela absorvesse aquela situação, até que ela finalmente ergueu o olhar para ele.
-... - nenhuma palavra, seus lábios pareciam cerrados com tudo aquilo, demoraria um tempo para que ela conseguisse entender o que ele queria dizer.
- E agora? O que você quer fazer agora Sara? - ele perguntou, tragando novamente o cigarro, a mão sobre o ombro de Sara deslizava com suavidade os dedos, encontrando a nuca, os cabelos dela e depois seu pescoço.
Ele se aproximou depois de soltar a fumaça lentamente, seus anrizes quase se tocando, então ele ergueu o olhar para ela.
- O que quer fazer de verdade Sara? Você estaria traindo Florensce? eu e você, isso começou muito antes de Florensce me conhecer - Raphael passou a língua pelos lábios - O que você vai fazer sobre isso?
Num impulso Sara ergueu a mão, segurando o rosto dele. Seus dedos estavam gelados, ela se sentia quase tonta quando seu rosto foi para frente e seus lábios se colaram ao dele. Ele era dela, exatamente como ela havia dito no baile e não importava mais nada. Era um ponto de vista.
No mesmo instante a língua de Raphael invadiu sua boca, passando sobre as presas dela, os lábios dele sugando os dela enquanto as mãos dele se apressavam em abrir a jaqueta que ela usava. ele não era gentil, não era paciente, mas ela não se importava, ela não se importava com nada.
Por aquela noite ela iria ficar, ela iria jogar tudo para o alto exatamente como havia se prometido. Pensaria nele, amaria ele, odiaria ele com tudo o que tinha e depois conviveria com suas próprias dores.
As mãos dele corriam por seu corpo, apertando suas coxas, subindo sob sua regata e tocando-lhe os seios, fazendo-a ofegar em meio ao beijo, fazendo-a perder o controle sem que sequer percebesse, mais uma vez ele parecia querer decorar cada curva do corpo dela, mas dessa vez ele queria que ela fizesse o mesmo.
Raphael agarrou a mão dela e a puxou, colocando-a sobre o volume em suas calças, apertando-a ali, gemendo em meio ao beijo.
Sara sentiu uma onda de calor correr por todo seu corpo, os olhos fechados apertados enquanto o beijava, enquanto o tocava, como se ela estivesse em queda livre.
Raphael afastou-se, ofegando, os olhos azuis corriam pelo corpo de Sara até finalmente encontrarem os olhos dela, fazendo-a prender o ar naqueles breves segundos. Ele se levantou e estendeu a mão.
- Venha - ele disse num tom rouco, puxando-a pela mão - Vamos para o carro - ele completou e agora Sara mal sentia o frio da noite. Seu rosto estava quente, seu sangue corria rápido pelas veias, impulsionando seus passos apressados, ansiosa. Tudo o que havia acontecido parecia ter ficado para trás.
Raphael abriu a porta detrás do carro, sentando-se no banco, indo para o lado para que Sara também entrasse.
Ela fechou a porta e antes que tivesse tempo de respirar sentiu os lábios dele novamente sobre os seus, as mãos dele agora puxavam a jaqueta dos ombros dela, deslizando-as por seus braços delicados. Ele parecia afoito, como se tivessem pouco tempo para ficarem juntos.
Sara o ajudou a tirar a regata que ela vestia e logo as mãos dele apertavam os seios delicados e macios, arrancando mais gemidos dela.
Raphael desabotoou o jeans e abriu o zíper, mais uma vez puxando a mão de Sara e colocando-a ali.
Sara não sabia o que fazer, na primeira vez ele havia tomado as rédeas de tudo, mas agora ele cobrava algo que ela não conhecia. Corada, sentindo as bochechas latejarem, ela passou a acariciá-lo, sentindo toda a rigidez dele com a mão enquanto ele apressava-se em tirar-lhe o situã. Sem paciência, sem gentilezas, mais uma vez aquilo não importou.
Separando os lábios dos dela, Rapahel inclinou-se sobre seu colo, provando a maciez de seus seios com a boca, mordiscando-os, fazendo Sara ofegar e pender a cabeça de lado, mal conseguindo acariciá-lo daquela forma.
As mãos dele desceram pela cintura dela, até os quadris, apertando-os, os dedos se enroscando na calcinha dela, puxando-a para baixo. Sara ergueu uma das pernas por vez, deixando-o retirar sua peça íntima e no mesmo movimento ele a puxou para o colo, usando a mão livre para libertar seu membro.
Sara passou uma das pernas em torno dele, sentindo-se estremecer quando ele se roçou contra ela. Raphael puxou Sara com força contra seu corpo, penetrando-a e mais uma vez a sensação de dor a invadiu, não tão intensamente, mas ainda assim doeu.
Como se estivesse dando tempo a Sara para se acostumar com ele dentro dela, Raphael passou a beijá-la, as mãos deslizando, tateando as costas dela até chegarem mais uma vez aos quadris, incentivando-a a se mover.
Aos poucos Sara deixou-se guiar pelas mãos dele, os movimentos lentos, a dor cedendo ao desejo e a sensação de prazer. aos poucos ela descobria qual era o melhor modo para fazer aquilo, o modo que lhe dava mais prazer ao se mover sobre ele.
Ainda de olhos fechados, ela pendeu a cabeça para trás, sentindo as mãos dele apertarem seu corpo, deixando marcas vermelhas em sua pele. As unhas dela deslizavam suavemente pelos ombros dele, até seus braços se entrelaçarem no pescoço de Raphael e ela apertar mais seu corpo contra o dele.
Em resposta a cada movimento seu, ela sentia o corpo de Raphael tensionar, o ar escapando pelos lábios dele, frio, batendo contra seu colo, fazendo sua pele se arrepeiar.
Sara aproximou-se dele, abrindo os olhos e o encarando pela primeira vez desde que ele a penetrara, sentia o rosto queimar, ainda mais ao ver a expressão dele.
Os lábios entreabertos, os fios caindo sobre os olhos azuis que a olhavam com desejo e malícia. Ela conseguia despertar todos aqueles sentimentos nele?
Seu coração pareceu explodir em seu peito e antes que ela percebesse a frase lhe escapou pelos lábios, um sussurro cheio de temor, ams ao mesmo tempo cheio de desejo,
- Te amo... - a frase fez Raphael parar por um momento - ...te amo... - os lábios dela mais uma vez repetiram aquilo, para surpresa dele.
Ele não soube o que responder e não teve tempo de responder. Os olhos castanhos que o encaravam tornaram a se fechar e ela agora o beijava, movida pelo próprio desejo, o quadril com movimentos mais rápidos, mas ainda sim lentos.
A sensação da frase dela, o modo como ela se movia sobre ele, tudo aquilo causou uma explosão dentro de Raphael, algo que ele nunca experimentara, algo que ia além da luxúria que cercava aos vampiros. Se dá primeira vez ele não imaginara que pudesse sorver tanto de uma noite com Sara, agora ele simplesmente não podia acreditar.
Lentos, os movimentos quase enlouqueciam Raphael, seu corpo próximo ao auge enquanto ela parecia apenas brincar, apenas se deliciar com a sensação de tê-lo ali. Mesmo que o jeans machucasse as coxas dela, mesmo que ela ainda sentisse dor com aquilo.
Raphael estremeceu, os gemidos dela eram abafados pelos beijos, mas ainda sim eram altos o suficiente para incendiá-lo. Ele se virou e a deitou sobre o banco do carro, ainda mantendo as pernas dela em volta de sua cintura.
Afastou-se, seus olhos correndo pelo corpo dela, pelas curvas, o pequeno vale ente os seios, a barriga lisinha, a pele perfeita e a expressão dela. Raphael fechou os olhos por um segundo, apertando as mãos nas coxas dela, mordendo o lábio inferior com força.
Reabriu os olhos lentamente, vendo o colo dela subir e descer por conta da respiração. O olhar dela exprimia todo o desejo que ela sentia naquele momento, não havia malícia em seus olhos, apenas o prazer de estar com ele, apenas aquele sentimento que ela havia expressado tão abertamente.
Ele inclinou-se sobre ela, passando a mover o quadril, impulsionando o corpo dela para cima e para baixo. Envergonhada, ela tornou a fechar os olhos.
Raphael ergueu uma das mãos, passando-a sobre os deodos sobre os lábios entreabertos de Sara e num estranho instinto ela os envolveu com os lábios, passando a língua por eles, fazendo o ritmo dos movimentos de Raphael aumentarem enquanto ele gemia mais e mais.
Onde ela havia aprendido aquilo? Raphael sentiu-se estranhamente enciumado, possessivo, como se Sara fosse algo dele e só dele. Fora o mesmo sentimento estranho do primeiro dia em que havia voltado e havia sentido o cheiro do sangue de Edgar nela.
Raphael subistituiu os dedos pelos próprios lábios, sugando os lábios de Sara, deixando suas presas roçarem neles, ferindo-os, logo o gosto doce e quente do sangue dela misturavasse à saliva dos dois.
Suas mãos deslizaram pelo corpo dela, parando sob os quadris, erguendo-os, arrancando um gemido alto dela. Ele tornou a se afastar apenas para apreciar a expressão dela enquanto intensificava ainda mais os movimentos, deslizando dentro dela o mais fundo que conseguia ir.
Sara tentou encará-lo, mas seu rosto queimava, seus lábios entreabertos se moviam, como se procurassem pelos dele e suas mãos tentavam alcançá-lo, mas ele não lhe deu chances, assim como na primeira noite.
Com apenas uma das mãos ele agarrou os pulsos dela e os colocou sobre sua cabeça, contra a porta do carro, segunrando-a firmemente pelo quadril, quase a enloquecendo com o ritmo que impunha, deixando o corpo de Sara próximo ao limite.
- Ra...pha... - ela gemeu o nome dele em meio a respiração ofegante e ouviu sua risada baixa, rouca, o sorriso afiado que ela temia e ao mesmo tempo amava estava ali, os olhos azuis tinham um brilho divertido quando ele de repente parou.
Sara o encarou, Raphael respirava pelos lábios entreabertos, ofegante, a respiração fazia com que os fios de cabelos caídos no rosto dele se movessem, caindo novamente sobre seus olhos.
- Implore... - ele ordenou numa voz rouca e Sara arfou, apenas o modo como ele a olhava a incendiava, mas dessa vez seu rosto se aqueceu por outro motivo.
- ... - o peito dela subia e descia, seu corpo sentia todo o frio e todo o calor que Raphael lhe causava. Ele moveu-se lentamente dentro dela, fazendo-a gemer e virar o rosto de lado. O que era aquilo agora?
- Vai Sara... - ele fechou os olhos, passando a língua pelos lábios e os abrindo novamente em seguida, deixando o ar escapar numa respiração ruidosa - Peça... implore! - ele abriu os olhos e puxou o quadril dela contra ele, esticando ainda mais os pulsos que estavam presos.
- ... não... - ela fechou os olhos, seu quadirl movendo-se involuntariamente quando ele a puxou. Implorar? Por que ele estava brincando daquele modo?
Outra risada baixa. Raphael soltou os pulsos de Sara e se deitou sobre ela, sem se importar se seu peso a machucaria ou não. As mãos dele agarraram com força ao quadril da vampira, no exato instante em que ele a beijou de modo furioso, tornando a se mover de modo intenso.
As mãos de Sara agarraram os cabelos dele, puxando-os levemente, arranhando sua nuca enquanto ela inclinava a cabeça para trás de gemia.
Raphael deslizou seus lábios pelo rosto dela, o gosto adocicado do sangue que ainda ardia nos lábios de Sara era semelhante ao gosto do suor sobre sua pele. Raphael a beijou, alcançando então seu pescoço, sugando a pele clara da vampira, deixando uma marca arroxeada. Ela era dele, nenhum outro teria o que só ele tinha com ela. Ninguém teria aquele sentimento recém descoberto, mesmo que para ele ter descoberto que sentia alguma coisa não significasse nada.
Outra marca, aos poucos o pescoço de Sara ficava completamente marcado, para finalmente sentirem as presas de Raphael se enterrarem na carne dela.
O corpo dela não aguentou, a onda de prazer que a invadiu foi muito maior do que a da primeira noite. Seu corpo estremeceu, suas pernas se apertaram contra a cintura dele enquanto ela abraçava as costas dele, o puxando ainda mais para si, enterrando os lábios nos cabelos brancos dele, abafando seus gemidos.
Um longo gole de sangue e Raphael atingiu seu limite também, o gozo preenchendo Sara por completo, os gemidos dela o fizeram se apertar ainda mais contra cada linha dela, praticamente a esmagando. Ele ofegava quando afastou os lábios do pescoço dela, seu corpo tremia levemente e ele deixou-se cair sobre o colo dela.
Sara praticamente arfava, as sensações do sexo, o peso dele, milhares de pensamentos passavam por sua cabeça, as imagens do hotel, as imagens daquela noite, as lembranças dolorosas de todo um mês.
Ela fechou os olhos, tentando se ajeitar do melhor modo possível sob ele, as mãos pousadas com cuidados sobre as costas dele, sentindo os pulmões dele se encherem e se esvaziarem.
O silêncio, mais uma vez o silêncio caia sobre os dois e tudo parecia caminhar devagar ou deixar de existir. O que ele estaria pensando? Sara o abraçou com um pouco mais de força, forçando seu rosto contra os cabelos brancos dele, sentindo o cheiro amadeirado que a fez suspirar. Ela nunca o entenderia, mas no fundo ela sentia que não precisava entender.
Lembrou-se da frase que deixara escapar, seu coração batendo mais forte. Ela realmente sentia aquilo? Ele sequer a respondera, ele nunca responderia afinal, mas ela não esperava uma repsosta. Ela só queria que ele soubesse, mesmo que não mudasse nada.
Mais silêncio. As respirações de ambos havia se acalmado, o prazer que sentiram minutos atrás agora dava espaço para os pensamentos de cada um. As mãos de Sara deslizavam pelas costas de Raphael enquanto ele afagaca a coxa dela com uma das mãos em resposta.
Depois de algum tempo Raphael se afastou, separando-se de Sara sem dizer uma palavra, sentando-se na outra ponta do banco e fechando o zíper do jeans, tateando os bolsos em busca de seus cigarros.
Sara sentou-se no banco, cobrindo-se um tanto envergonhada, mas Raphael sequer a olhava, parecia mais preocupado em acender seu cigarro enquanto abaixava o vidro.
Ela recolheu suas peças de roupa e se vestiu, tornando-se a se abraçar em seguida, olhando para Raphael, esperando qualquer reação dele, mas nada veio.
Ela desviou o olhr dele para os próprios joelhos, abaixando o olhar para as mãos sobre os joelhos. Ela havia decido que pensaria naquela noite, com amor ou com ódio, mas ela nunca imaginou que ele estaria ali com ela.
Sara ergueu a mão, hesitante e então virou-se, tocando na coxa de Raphael, só então ele desviou o olhar para ela, os lábios entreabertos deixando a fumaça do cigarro escapar, serpentear pelo rosto dele até sumir no teto do carro.
Ela se inclinou, ainda olhando nos olhos dele e entã abaixou o olhar, deitando-se no banco e apoiando a cabeça sobre a coxa dele. Ele não a rejeitou, simplesment epousou a mão sobre o ombro dela enquanto Sara fechava os olhos.
"Te amo..." - Raphael não sabia muito de espanhol, mas aquela frase estava martelando em sua mente desde que escapara dos lábios de Sara. como era possível?
No fim das contas Sara deveria odiá-lo, deveria ter nojo dele. Ele era tudo o que Sara nunca seria, o que mais repudiava, no entando ela fora procurá-lo, ela entrara em seu quarto com uma coragem que ele nunca julgou que ela seria capaz.
"Você deveria me odiar..." - a respiração da vampira deitada sobre sua perna era lenta e quando ele baixou o olhar percebeu que ela havia adormecido - "ainda assim... você pe tola o abstante para sentir alguma coisa. Não muda nada Sara, não muda nada..." - ele desviou o olhar e tragou o cigarro longamente, deixando a fumaça escapar lentamente por seus lábios.
Seus dedos correram pelos longos cabelos de Sara, afastando-os do rosto ainda corado da mestiça. A expressão dela era delicada, tranquila, como se estar adormecida ao lado dele fosse algo bom, algo certo. Ele poderia matá-la e ela sequer sentiria.
Ele pendeu a cabeça para trás, trocando o cigarro de mão e colcoando a mão livre sobre seu joelho, encarando então o teto escuro do carro.
Do que adiantava ela sentir tanto por ele? Para ele era tarde demais para que qualquer outro sentimento fosse despertado dentro dele.
Tantos pecados acumulados ao longo de um século de existência, amor seria apena suma camuflagem para esconder toda a raiva que Raphaels entia, ainda mais depois que Alexander Grifftis fora morto.
Amor. Aquilo soava como uma piada de mal gosto, ainda mais escapando dos lábios de Sara. Ele sabia o que aquilo tudo despertara dentro dele, mas o coração dele não se importava, ele não se importava com o fato de sentir algo por ela.
Provavelmente ele a destruiria se os dois passassem a conviver, ele destruiria a inocência dela ainda mais, era melhor que só ele carregasse os próprios pecados. Sara seria incapaz de odiá-lo, todo aquele tempo apenas comprovava isso, então ela também não poderia amá-lo, porque aquilo a mataria.
No fundo ele apenas desejava que não tivesse se envolvido, assim ele poderia destruí-la no final e não apenas deixá-la para trás.
Outra tragada. As lembranças do apssado enchiam sua mente assim como o sangue de Sara corria por suas veias agora. As únicas pessoas que haviam sentido algo verdadeiro por ele, assim como a vampira, agora estavam mortas e ele não tinha mais ninguém.
Aquele era um pensamento bastante amargo, ainda mais quando Sara estava bem ali ao alcance de seus dedos. Ela deveria fugir dele, ir para longe sem deixar notícias, assim ele se entregaria ao seu destino, sentindo-se traído o suficiente para ser mais forte.
Ele jogou o cigarro pela janela, deixando a última numvem de fumaça escapar, olhando para a garota em seu colo, seus dedos voltando a acariciar os cabelos dela, deixando-se perder mais uma vez.
Silêncio, Sara não sabia, mas ela conseguia calar tanta coisa dentro dele quando estavam daquele modo, em silênio, quando ela o abraçava e ficava ali, certamente se perguntando no que ele estava pensando.
A verdade era que ele simplesmente não pensava em nada, ele apenas sentia e foi assim que ele descobrira que ela era diferente para ele, mas ele não diria aquilo, ele precisava ficar sozinho.
Os sentimentos dele foram levados há muito tempo, quando ainda tinha quinze anos, quando o gelo tomou seu corpo, congelando qualquer sensação.
Se as coisas poderiam ser de outro modo ele simplesmente não tinha vontade de saber. Sentia-se bem daquele modo, a esperança dentro dele já havia morrido, fora necessário para que ele deixasse seu passado ir.
"Te amo..." - Não, Sara não deveria amá-lo, ela deveria esquecê-lo, ela deveria cuspir seu ódio nele - "Nós somos uma mentira, Sara..." - ele disse, enrolando uma mecha dos cabelos da vampira em seus dedos frios, segurando então a cabeça dela e abrindo a porta com a mão livre.
Ele saiu do carro, precisavam retornar para o internato, já haviam ido longe demais por uma noite e ele achava que aquela seria uma lembraça justa depois de tudo.
Raphael fechou a porta com um cuidado que nunca teria e então deu a volta no carro, tomando o lugar do motorista e dando partida, olhando para Sara pelo retrovisor. Ela ainda dormia, mas havia esticado a mão, como se procurasse por algo.
Ele negou com a cabeça, sua expressão tornando-se dura, fria. Ele não poderia deixar aquilo atrapalhar seus planos, ele havia decidido tudo o que havia de fazer. Muitas pontas soltas teriam que ser amarradas e Sara não fazia parte de nenhuma delas.
Acendeu outro cigarro enquanto dirigia, sentia falta de sua garrafa de whisky, talvez teria sido uma boa idéia trazê-la, a bebida quase não fazia efeito em seu corpo, mas lhe deixava o suficientemente relaxado para que pudesse pensar, ou não pensar me nada.
O carro corria pela estrada, passando por uma parte da Sea to the Sky. Os ondas se arrebentavam contra o penhasco e aquilo encheu Raphael de nostalgia, não tinha um porque, ele sabia que aquele sentimento, assim como o que descobrira por Sara, não traria nada de bom, nem nada de mal. Não traria nada afinal.
Em menos de meia hora ele adentrava ao estacionamento, o funcionário que abria o portão não lhe fez perguntas ao perceber que eram dois estudantes do turno noturno. Eles sabiam o que vampiros faziam à noite, não precisavam perder tempo com algo que poderia lhes custar a cabeça.
Raphael estacionou o carro, mas não desembarcou de imediato. Ele olhou mais uma vez para o retrovisor, Sara havia se abraçado mas continuava adormecida. Ele deveria acordá-la?
"Você está fraquejando..." - ele pensou para si mesmo, abrindo a porta do motorista e caminhando até a porta do passageiro após fechá-la. Ele inclinou-se para dentro do carro e envolveu Sara da melhor forma que podê, puxando-a para seu colo, erguendo-se com cuidado para não bater a própria cabeça, ou bater as pernas de Sara.
Ela não acordou, estava tão exausta pelas emoções daquela noite, por tudo o que havia carregado durante todo aquele mês, que dormir tranquilamente pela primeira vez em tempos fez sua inconsciência se sobrepor a tudo mais. Sara finalmente sentia-se em paz, mesmo que depois as lembranças fossem ser mais dolorosas.
Raphael caminhou sem ser incomodado com a vampira em seus braços, agradecido quando a sala de estar do dormitório estava vazia. Era claro que estaria, àquela altura todos os vampiros já haviam saciado sua sede, seus desejos, e agora estavam recolhidos esperando o amanhecer, assim como ele estaria em breve.
Ele subiu a escadas, seus olhos caindo vez ou outra pelo rosto de Sara, sua expressão parecia ter se agitado, talvez por estar sentindo as auras à sua volta. Ela não gostava daquele lugar, ele sabia disso, mas tampouco ele. Fora até lá obrigado pelo pai, já que estava criando problemas demais em Londres, mas agora nada o impedia de voltar e havia sido isso que ele decidira.
O segundo proprietário da casa não havia aparecido até então para clamar sua herança, nem ao dinheiro, portanto Raphael voltaria a Londres e se instalaria na casa, se prepararia para o que tinha que fazer. Aquela uma semana não fora o suficiente para ir atrás de cada um dos inimigos de sua família. Eram muitos por conta do erro tolo de seu pai, ele bem sabia. Casar-se com uma humana... Até mesmo Raphael o odiava por isso.
Ele caminhou pelo corredor, se aproximando da porta do quarto de Sara, abrindo-a e entrando. O lugar estava uma completa bagunça, a mochila dela estava caída no chão, bem como o uniforme que ela despira. Na cama de sua ex-colega de quarto haviam montes de roupas e livros estavam espalhados pela escrivaninha.
De certa forma aquilo refletia exatamente como Sara se sentia, seu interior e seu exterior numa espiral de confusão onde ela não conseguia por ordem no menor detalhe que fosse. O que seria o dia seguinte dela? Até mesmo Raphael surpreendera-se com a coragem dela, como uma suicida louca pulando de um abismo, se atirando nos braços dele e dizendo coisas que não deveria dizer, que ele nunca esperava ouvir dela.
Ele caminhou entre a bagunça e a deitou sobre a cama, retirando seus braços de sob o corpo dela, mas mal havia se afastando quando a mão dela segurou firmemente sua camisa.
Sara abriu os olhos lentamente, os lábios deixando o ar escapar enquanto ela encarava a expressão severa e confusa de Raphael.
- Fica... - ela pediu num tom baixo, os olhos cheios de súplica. Enlouqecido, Sara Augustine só poderia ter enloquecido.
Raphael segurou o pulso dela, pretendia afastar a mão da mestiça, mas algo dentro dele pediu aquilo, uma trégua, uma última trégua, afinal ele partiria para sempre então talvez guardar algo dela não fosse tão ruim.
Ele afastou a mão dela e então fez um gesto de cabeça, os fios platinados caindo sobre o rosto, refletindo a luz do poste acesso do lado de fora. Até o amanhecer, talvez fosse tudo o que os dois precisassem.
- Me dê espaço - ele disse e Sara afastou-se enquanto ele sentava na cama. Ele apoiou as costas na cabeceira e apoiou uma das mãos na coxa, fechando os olhos e respirando longamente. Parecia lutar consigo mesmo e era exatamente isso o que acontecia.
Ele virou o rosto em direção à Sara, ela havia se sentado na cama também e parecia olhar a bagunça, talvez também tentando se encontrar, talvez por não esperar que ele aceitasse ficar, então agora ela não sabia o que fazer.
Ele estendeu o braço, tocando o ombro dela, puxando-a para perto de si. Sara se aproximou, cautelosa, os olhos fixos nos olhos de Raphael ainda sem acreditar naquele simples gesto dele.
Ela apoiou a cabeça em seu peito, usando o braço para envolvê-lo pela cintura, fechando os olhos. Se ele fosse um sonho numa noite em que finalmente dormia, ela aproveitaria ao máximo.
Seu corpo estremeceu ao sentir a respiração gelada dele sobre sua cabeça, ao sentir os dedos dele correrem por seu braço, mesmo sobre a jaqueta ela ainda conseguia sentir o frio de seu toque e então ele se inclinou sobre ela, puxando o cobertor que estava atrás dele, cobrindo-a.
O frio não fazia nenhuma diferença para Raphael, mas ele sabia que incomodava Sara. Se aquilo era uma despedida então que sobrasse algo bom daquilo.
Sara encolheu-se contra o corpo dele, sentindo o calor do cobertor encher o ar com o cheiro dela. Era adocicado, como o cheiro de mel, mas não enjoativo. Ela continuou de olhos fechados, sentindo os dedos dele se enroscarem em seus cabelos.
Mesmo que ela desejasse naquele momento ver a expressão dele acima de qualquer coisa ela não teve coragem, mas podia imaginar o olhar compenetrado, podia imaginar a expressão séria. Quando ela aprendera a conhecê-lo tão bem, mesmo com ele tão longe?
De olhos fechados, ainda acreditando estar num sonho, Sara tornou a adormecer, os dedos dele massageavam seus cabelos, seu rosto, seu pescoço e mais uma vez a tranquilidade que precisava para dormir se fez presente. Ela precisava dele, não importa o quão ruim ele fosse, como uma droga, ao menos por aquela noite, pelo fim daquela madrugada.
Raphael ficou em silêncio, sentindo a respiração calma e quente de Sara contra seu peito, seus dedos se perdendo no rosto dela, no pescoço, na depressão suave da clavícula, sua mão praticamente envolvia todo o ombro dela. Tão delicada, sua expressão, seu cheiro, ele nunca poderia deixar se envolver mais.
Ele entreabriu os lábios, soltando um suspiro decepcionado consigo mesmo. Aquele era o quadro de uma vida medíocre que Filipe lhe desenhara. A mestiça em seus braços, um quarto bagunçado, o amor camuflando o ódio que ele sentia por ser exatamente o que não queria. Se apegar a Sara lhe daria apenas o que ele não queria, uma vida sem significado, sem glória alguma.
Amor não significava nada entre os vampiros, certamente seu pai fora assassinado por isso, por alguém que detestava a mistura entre as espécie e ele sabia que era sorte estar vivo.
Seus olhos correram pela bagunça do quarto até ele olahr para o lado, para a mesa de cabeceira. Um diário inchado e de páginas abarrotadas estava ali, com uma caneta presa a uma de suas páginas. Estava quase no fim, até mesmo algumas folhas avulsas de outros cadernos estavam ali dentro.
Curioso, ele estendeu a mão até apanhar o objeto, retirando o elástico que o fechava e passando a ler algumas das páginas, até mesmo as folhas avulsas.
Sara falava de sua vida na Espanha, a vida em uma família que ela deixava claro em suas palavras amar incondicionalmente. Falava sobre os amigos e sobre o quanto estava triste por ter que viajar nas férias e não poder ir ao acampamento com eles.
Havia relatos sobre brigas no colégio, discussões com as amigas que pareciam fazê-la sofrer de uma forma que ele não entendia. Tão humana, Raphael simplesmente teria ignorado aquelas pessoas.
Algumas festas, algumas paixonites, Sara mal sabia lidar com garotos e acabava fugindo da maioria deles. Ele sorriu de lado, sentindo-se estranhamente lisonjeado por ela estar bem ali. Rapahel apertou seu rosto contra o topo da cabeça dela, continuando a ler as páginas que contavam sobre o dia a dia da garota, sobre a tristeza que sentiu ao saber que viria ao Canadá, a festa com os amigos.
Havia fotos e cartas pregadas em algumas das páginas, Sara sempre trazendo um olhar tão radiante quanto o sorriso, mas ambos haviam sumido de seu rosto e ele sabia o porquê.
Então as páginas desde que ela chegara, a discussão com ele, as primeiras confissões confusas sobre a sensação que a presença dele lhe causava, o relato sobre " um sangue tão frio e cheio de dor... eu queria entender...".
Entender? Ela queria entendê-lo? Aquilo o fez pensar imediatamente em Florensce, a ex-humana nunca tentara entendê-lo, ela apenas estava feliz porque ele havia "mudado".
O que Sara sentia por ele era assim tão incondicional? Ele continuou a ler, as páginas agora tinham uma letra tremida, como se ela estivess nervosa ao escrevê-las, falava exatamente da semana em que ele ficou em Londres. Então era aquilo que ela havia sentido?
Ele passou a língua pelos lábios, pareciam secos de repente. Aquelas eram lembranças dolorosas. O enterro do pai, a despedida da única pessoa que sentia algo por ele, a única pessoa que ele tinha.
O ar escapou lentamente e ele sentiu vontade fumar, mas não queria sair dali para isso. Estava quase terminando de ler, estava curioso pelo resto.
Ele continuou, a próxima página era a última, as poucas que faltavam estavam em branco. A letra estava mais firme, mas isso não siginifcava nada, afinal ainda havia dor, muito dor nas palavras dela. Sara havia ficado quase um mês sem escrever, exatamente o tempo em que ele estivera com Florensce, como se o mundo dela tivesse parado.

"Eu sinto que vivi nesses dias o que eu não viveria em anos, me sinto quase envergonhada por sentir tanto por alguém que só me fez mal. Eu devo ser tão burra e estúpida, como poderia esperar algo afinal?
Não importa o que eu faça, acabou... na verdade isso nem começou, mas eu me sinto... Esse mês foi como se o tempo parasse, como se as coisas fossem acontecendo e eu não fizesse parte delas. Era como se a esperança fosse se esvaindo cada dia que eu o via sorrir daquele modo. Talvez eu não o ame, porque se eu o amasse de verdade, eu iria querer vê-lo feliz...
Eu queria ele aqui, mesmo com todas as coisas ruins, porque haviam coisas boas... ao menos... eu acho que houveram coisas boas... eu não sei explicar quais foram, nem quando começaram... mas o desprezo dói acima de qualquer coisa.
É engraçado eu sei, ele sempre me desprezou afinal, mas agora é um desprezo diferente, é como se eu deixasse de existir e é assim que me sinto. Talvez seja melhor sentir dor do que não sentir simplesmente nada.
Algumas vezes eu me pergunto se ele pensou em mim em algum momento, porque fazer isso sozinha e o tempo todo parece muito idiota.
às vezes fico olhando para a porta do quarto, esperando que ele entre e arrebente tudo, que me faça sofrer... acho que estou enlouquecendo, mas eu preciso de você..."

Raphael apoiou o diário na perna, olhando então para a vampira em seu abraço. Sara o amava de verdade, amava sem entender quem ele era, amava mesmo que ele a magoasse o mais profundo possível. Ele suspirou, bufando em seguida, ele precisava ir para Londres e ele não sabia se voltaria.
No fundo ele não sabia o que estava fazendo quando pegou a caneta presa à página e apertou o mecanismo para abrir a ponta. ele esperou que alguma coisa viesse, ele não voltaria atrás em suas decisões, mas havia alguma coisa que ele queria que ela soubesse. Ele sentia que iria morrer, que encontraria seu fim naquela viagem por vingança.

"Acho que você sabe o que sente quando tudo a sua volta desmorona, então talvez eu não preciso dizer muito. É estranho saber que você me ama, mesmo sem saber quem sou. Eu não estou indeciso sobre isso e sobre a vida que levo, então é melhor me deixar ir. Neste mundo existe o real e o faz de conta, eu encaro você dessa forma, como o faz de conta e eu não posso viver no faz de conta.
Eu estou indo exatamente para o destino que sempre esperei, mas sinto que viro as costas toda a vez que você interfere, eu não quero uma vida medíocre, consegue entender isso? Eu sei que sim, mesmo que não aceite.
Eu sei o que estou passando e sei que o que sinto não é uma coisa boa e você deveria perceber o mesmo. O que espera de mim afinal?
Eu não quero mudar, mesmo se eu pudesse mudar. Não importa o quanto eu tente, o que há dentro de mim não me deixa escapar, ainda mais agora com o que houve. Meu pai, ele era a única pessoa que eu tinha.
É estranho perceber que você entende, que é a única pessoa que sabe... ou quem sabe?
Agora eu sinto que esse poderia ser meu lugar, mas depois eu sinto que não, eu sei que não. Há muitas questões, muitas amarras e nenhuma delas vai ficar bem presa se eu continuar aqui.
Você entende isso, eu sei, estou repetindo o tempo todo isso. Sobre o que você me disse no carro essa noite, eu também, mas do que adianta? Eu estou indo embora, espero que aprenda alguma coisa com tudo o que houve, seja forte ou continue sendo sonsa e fraca. Você tem escolhas já que eu não estarei por perto. Se bem que eu também sei quais foram suas escolhas, é eu também sei.
... ou quem sabe?"

Ele releu o que escreveu, era mais do que pretendia afinal, na verdade não sabia porque sentira vontade de deixar algo para ela. Fechou o diário e o recolocou no lugar, antes que arrancasse a página. só então ele percebeu que o dia havia amanhecido, que a luz que entrava pela janela não era mais a luz fria da lâmpada, mas sim a luz d sol.
Ele ajeitou melhor a coberta ao redor de Sara, tomando cuidado ao se afastar dela. Olhou para sua ajqueta que ela ainda vestia e deu de ombros, outro presente de despedida para ela porque ele sabia que no fundo não queria se despedir, mas ela não deveria esperar nada dele e ele não viveria das expectativas dela, como estava fazendo com Florensce.
Ele estava saindo do quarto quando quase tropeçou sobre as coisas de Sara no chão, a camisa preta do uniforme se enroscando em seu pé. Raphael se abaixou e apanhou a peça, trazendo-a para perto do rosto. Ainda tinha o cheiro dela.
Ele deixou o quarto levando a peça de roupa enrolada em sua mão, quem o visse pensaria que estava ferido, ninguém perguntaria de quem era aquela camisa.
Uma trégua, o fim dela chegou com os raios de sol, com uma página de diário e peças de roupas. Tão estúpido, como se fosse um garoto qualquer e não um vampiro centenário.
Ele se trancou no quarto, seu colega dormia como uma pedra na cama e ele sentiu-se grato.
Raphael tirou a camiseta que usava e a jogou no chão, ao lado de sua cama, jogando então a camisa de Sara sobre seu travesseiro, caindo de bruços sobre o colchão e enterrando o rosto no peça de roupa.

O dia havia amanhecido e a tarde chegara. As notas que saiam do violino eram desafinadas, perdidas, ele não conseguia começar nenhuma música. Floresnce também não o ajudava. A expressão cheia de mau humor da ex-humana o irritava profundamente, esperando explicações dele sobre a noite passada.
- Você sabe onde eu estive - ele abaixou o violino sobre a perna, erguendo os olhos azuis para Florensce - Eu estive com outra, não consegue sentir o cheiro dela?
Florensce conseguia, ela só não queria acreditar. O cheiro de Sara estava impregnado em cada parte do corpo de Raphael, no sangue em que corria por suas veias.
- O que? Está decepcionada? Eu não fiz o que esperava de mim, ou o problema todo foi o fato de ter sido com sua amiga? - ele provocou, sorrindo de lado enquanto largava o violino sobre a mesa e se aproximava de Florensce. Ele ergueu a mão e segurou o rosto dela, obrigando-a a olhá-lo - Não acredita, nãe é? Por que não pergunta para ela o que fizemos essa noite?
Florensce empurrou a mão dele, sentindo a palma formigar, segurando-se para não acertar um tapa em Raphael. Por queele estava fazendo aquilo? Por que estava sendo tão cruel?
Ele se afastou dela, negando com a cabeça enquanto passava a língua pelos lábios. O fim da trégua havia chegado, aquele era seu real presente de despedida afinal.
- Eu passei a noite com ela Florensce e ela é muito mais quente que você, cada gemido dela me fazia sentir tesão, ao contrário do que sinto com esses sons roucos que você faz. Nem para isso você serve, mas afinal o que eu estava esperando de uma ex-humana? - ele riu, aproximando-se da janela, seu sorriso sumindo com a cena que viu.
Sara estava sentada próximo a fonte do pátio, estava com um violão que pegara de qualquer um daqueles imundos humanos. Ela sorria despreocupada enquanto dedilhava qualquer coisa. Ela estava cercada por alunos do turno diurno e aquilo o irritou profundamente.
Florensce se aproximou, ainda atordoada pelas palavras de Raphael, seguindo o olhar dele para a janela, seus olhos caindo sobre Sara. Não ela não conseguia acreditar.
- Por que? - ela perguntou num tom baixo, seus olhos cheios de lágrimas. Estava tão decepcionada que o ódio que deveria sentir com a frase dele havia esfriado como o gelo que ambos compartilhavam.
- Porque ela precisa acreditar em mim - ele respondeu simplesmente, ainda com os olhos fixos na cena - Porque se ela me amar, ela vai me apresentar para o pai dela, ela fara tudo por mim e em consequência ele também. Eu preciso matá-lo - ele desviou então o olhar para Florensce - Eu preciso me tornar alguém poderoso e ela pode me oferecer isso - ele completou, os olhos azuis não expressavam a menor emoção.
Florensce fechou os olhos e então virou-se de costas, saindo a passos apressados da sala de música, mal vendo o corredor através de seus olhos de visão turva. Era mentira não era? Sara não poderia ter feito isso com ela?
No pátio, Sara continuava a tocar o violão, ainda sorrindo, tentando canatar alguma coisa em seu tom desafinado, mas assim que viu Florensce seus lábios se fecharam numa linha reta.
- Flor... - ela começou, levantando-se e colcoando o violão de lado - O que houve? - Sara perguntou, mas antes que Florensce respondesse ela pode imaginar o que era. O olhar magoado da vampira, as mãos trêmulas.
- Como você podê? - Florensce perguntou, novamente sentindo suas mãos formigarem enuanto Sara simplesmente abaixava a cabeça, negando o que era inegável - Você dormiu com ele? - a voz de Florensce saiu carregada de raiva.
Sara respirou fundo, erguendo o rosto lentamente, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa a mão de Florensce a atingiu com força.
- Sua vagabunda, depois de tudo o que você disse ele! - Florensce sentiu a boca se encher por um gosto amargo - Vagabunda, mentirosa! Agora eu entendo porque você esteve toda cabisbaixa essemês, não foram seus pais, foi por causa dele! - Florensce gritou, atraindo a atenção de todos ali.
- Florensce, se acalme - Sara ergueu as mãos, tentando impedir que Florensce falasse mais. Já estava sendo doloroso ouvir aquilo, ainda mais sabendo que nunca mais teria nada com ele, afinal ela havia desistido dele.
- Me acalmar? Como eu vou me acalmar quando sei que minha única amiga nesse inferno foi abrir as pernas pro meu namorado?! Ah, mas tudo bem Sara, o que me conforta é que você vai pagar mais caro do que pensa por isso - Florensce sorriu com maldade - Traição só gera traição minha querida e você vai sentir isso quando seu querido papai estiver se transformando num monte de cinzas bem diante do seus olhos! - ela riu, rouca, transtornada pela própria dor. Estava perdendo alguém novamente, alguém que aprendera a amar - Acha que Raphael ama você? - ela pwrguntou, afastando a franja de sobre os olhos - Você é tão estúpida Sara, sempre foi. Sabe o que ele me disse? Ele vai matar seu pai, é só isso que ele quer com você!
Sara estacou, a frase de Florensce a fez sentir o gelo, sim, mas o gelo que a feria, que a machucava, muito mais do que as risadas maldosas de outros vampiros e até mesmo de humanos, aos os gritos incitando a briga.
Sara recuou um passo, quase caindo para trás, erguendo os olhos para Florensce como se não estivesse acreditando na irrealidade daquilo tudo.
- Ele me disse que você precisava acreditar nele, só então ele conseguiria chegar até seu pai e você seria incapaz de reagir contra ele! - Florensce continuou, ainda com um sorriso cruel.
Sara colocou a mão sobre o rosto, onde Florensce havia batido. Sua pele latejava enquanto tudo dentro dela parecia desmoronar. Ela sempre soube que ele nunca a amara, mas aquilo não fazia sentido.
- Por que não pergunta a ele? Ele é tão sincero, não faz sequer idéia de como ele pode ser sincero! - a voz de Florensce saiu mais uma vez cheia de rancor.
Perguntar, sim era aquilo que Sara faria, ela tinha que perguntar, tinha que saber! Não podia ser verdade, tudo não podia passar do sonho ao pesadelo tão rapidamente.
Sem se importar com os comentários maldosos, principalmente de algumas garotas do turno diurno, aquelas que sempre o seguiam à sala de música, sem se importar com Florensce, Sara simplesmente se levantou e atravessou o pátio correndo, seus coração aprecia esmagado, prestes a sair pela boca.
Ela subiu as escadas do prédio principal, mas Raphael não estava mais na sala de música. Onde ele estaria?
Como se houvesse enlouquecido, Sara saiu correndo, gritando o nome dele, sentindo a garganta arder enquanto o ar entrava em seus pulmões como lufadas de fogo. Seu pai, o que ele tinha a ver com isso? Raphael a odiava tanto assim?
Cega, Sara alcançou o prédio dos dormitórios, passando pelas portas num rompante, sentindo a aura de Raphael ali. Ele estava ali, o que ele estava fazendo ali?
Não importava. Sara subiu as escadas, encontrando-o no exato momento em que ele parava diante da porta do seu quarto. Findingo não vê-la ele girou a maçaneta e entrou.
Os pés de Sara faziam um barulho alto ao tocar o chão, os passos lentos e pesados, o gosto amargo de seu próprio sangue enchendo a boca. Florensce não poupara forças naquele tapa.
Quando ela entrou no quarto ele estava de costas para ela, a jaqueta nas mãos, os olhos azuis sobre o diário na mesa de cabeceira.
- N-não é verdade - ela conseguiu dizer e ele se virou lentamente para ela, vestindo a jaqueta preta de couro sobre a camisa preta do uniforme - Me diga Raphael, isso não é verdade! - todo o nervosismo que ela contera com Florensce agora parecia vir em enxurrada e cair sobre o outro vampiro.
Sara lançou contra Raphael, esmurrando seu peito, empurrando-o, mas ele segurou seus pulsos com força e os torceu.
- O que foi? - a voz dele saia em meio a respiração pesada e logo Sara pode sentir as mãos frias endurecerem ainda mais em seus pulsos, praticamente quebrando os ossos. Ela não havia lido o diário, ele estava exatamente do mesmo modo como Raphael o deixara - O que achou Sara? - ele a olhou nos olhos, seu sorriso afiado surgindo - Achou que eu me apaixonaria por alguém como você? Alguém que eu estupro e ainda sente prazer? Alguém que eu ofereci de bandeja a outro? Até uma ex-humana serve mais do que você para estar ao meu lado! Uma pena ela ter descoberto, não? - ele a empurrou e Sara bateu as costas na porta.
Sara sentiu os olhos se encherem de lágrimas, a visão turvando enquanto ela escorregava pela porta. Por que aquilo estava contecendo? O que ela havia feito para ele afinal?
- Por... que? - ela gemeu em meio ao choro. Ele já havia a destruído, por que tirar o pai dela? Por que ela não bastava? - Por que não termina o que começou? Você e eu, nós dois! - ela se levantou, tentando desafiá-lo, mas tudo o que conseguiu foi arrancar uma risada dele.
Raphael se aproximou, segurando os ombros dela. Seu sorriso havia sumido, os ohlos fixos a perfuravam como lascas de gelo.
- Você nunca conseguiria me matar Sara, mesmo que desejasse isso do fundo de sua alma. Você é burra demais, tola demais - ele a soltou, erguendo a mão e segurando no rosto dela, vendo então as marcas deixadas pelo tapa de Florensce. Ele se afastou e abriu os braços - Mas se quer tentar Sara, se quer mesmo tentar então venha. Arranque meu coração com as mãos - ele parou em meio ao quarto, apenas esperando.
Sara forçou-se a limpar as lágrimas, trincando os dentes. Ela se aproximou dele, mas ficou ali, parada, apenas o observando.
Num impulso Raphael agarrou a mão dela e a colocou sobre seu peito. A mão dela ardeu ao tocar a pele fria que a camisa aberta revelava, a palma de sua mão sobre um coração que batia lentamente.
Os olhos dele ainda estavam sobre ela, esperando uma reação, qualquer ação, esperando as unhas dela ficanrem em seu peito, esperando que ela parasse seu sangue e o transformasse em agulhas, mas Sara apenas abaixou a cabeça.
- Eu não disse? - ele soltou a mão dela e Sara deixou seus dedos deslizarem pelo peito dele, até sua mão cair. Ele se aproximou mais e a envolveu em um abraço. Aquilo era loucura, sim com certeza era.
Sara deixou-se abraçar, seu rosto encostando no peito dele. O que era aquilo afinal? O que estava acontecendo? Então ela seria incapaz de defender seu pai se Raphael fosse matá-lo?
- Vai embora... - ela se afastou, erguendo apenas o olhar para ele - Por favor, me deixe em paz... - ela pediu, como se ele fosse uma assombração que a atormentasse.
Raphael a soltou e então passou por ela, esbarrando em seu ombro. Ele iria embora, ele não voltaria mais, exatamente como ela queria, como ele  queria.
- Sara... - ele a chamou enquanto abria a porta, sem se voltar para ela. Era a última vez que a veria e ele não sabia porque queria pedir algo para ela - Quando eu me for, você... leia seu diário, leia ele inteiro e compare quem você era e quem você é.
- Vai embora! - ela não respondeu, tapou os ouvidos numa atitude infantil e esperou ele passar pela porta. Ela sabia muito bem quem ela era e quem estava se tornando. Não importava se ele iria embora, ou se ele morreria. Havia chegado ao limite com aquela terrível constatação. Não era amor, não podia ser. Era doentio demais para ser!
Sara apanhou o celular, tirando a franja do rosto molhado pelas lágrimas, discando nervosamente diversas vezes até acertar o número. Não ligara para seu pai, Fernando não a permitira voltar, então ela ligara para Clara.
- Mama... eu quero voltar para a Espanha, quero voltar ainda hoje! - ela disse numa voz seca - Por favor, faça de tudo para papai autorizar. Eu não suporto mais esse lugar - Sara não esperou resposta, apenas desligou o telefone.
Não mais saiu do quarto durante toda a tarde, suas malas tinham que ser feitas. As oito em ponto o táxi a levou para o aeroporto e a dez horas ela estava embarcando rumo a Madri, deixando Raphael Grifftis para trás, sem sequer ler seu diário.


Para quem quiser acompanhar a Fic na Integra basta acessar ao link: https://www.fanfiction.com.br/historia/208866/Breaking_The_Ice/ageconsent_ok

Nenhum comentário:

Postar um comentário