sábado, 17 de dezembro de 2011

Neverending Shadows - Pt II


{Prefácio}

Êxodo

Julia ergueu os olhos mirando o caminho à frente. Suas asas estavam baixas e recolhidas, seus cabelos longos cobriam o rosto, ela estava suja de cinzas e sangue, ferida da batalha. Seus braceletes estavam rachados e suas mãos estavam presas por cordas. Exagero, eles sabiam que ela não iria a lugar algum, a única coisa que tentara evitar já havia acontecido e ela não tinha mais motivos para lutar ou se rebelar, não seria ouvida.

Os anjos abriam caminho conforme ela passava, sendo empurrada vez ou outra para frente por Kasyade, a expressão de satisfação no rosto do Anjo Vingador era inegável, agora ele teria a posição que tanto almejava.

Ela reconheceu vários rostos que ainda a miravam indignados e desacreditados de que alguém como ela havia desobedecido à vontade de Deus, ainda mais por um motivo tão pequeno, por um humano.

Haniel e Leniel vieram ao seu encontro, mas o olhar de advertência de Kasyade foi o suficiente para afastá-los novamente. Os dois deram espaço para a passagem da dupla e em seguida para o pequeno contingente que os acompanhava.

Haniel ainda estava com sua armadura, igualmente suja de cinzas. Era prateada com detalhes em azul claro, tão claro quanto seus olhos, seus cabelos loiros estavam bagunçados e acinzentados e ele segurava seu capacete próximo ao corpo, sua espada embainhada e seu escudo invisível. Ele continuou a acompanhar o cortejo seguido por Leniel.

Ao contrário do anjo guerreiro, o guardião vestia uma túnica imaculadamente branca, assim como seus longos e lisos cabelos, com detalhes dourados e o desenho de um falcão à frente.

A expressão de Leniel ficava mais infeliz a cada novo passo em direção à escadaria que levava aos arcanjos. Julia seria julgada pelo príncipe dos céus, o arcanjo Miguel e eles sabiam que a sentença seria o inferno.

Em certo momento da subida, Laniel, irmão de Félix, deteve-o. Ele sabia o quanto Leniel considerava Julia, mas ela havia feito uma escolha e Deus designara o livre arbítrio apenas a seus queridos bonecos de barro, os quais criara sua imagem e semelhança e dissera aos anjos que cuidassem deles.

- Não irmão, não deve interferir na decisão de Miguel – Laniel encarou aquele que era praticamente seu reflexo, não fosse o fato de seus cabelos serem castanhos e seus olhos verdes, ao contrário dos olhos azuis de Félix – Julia fez sua escolha e eu tenho certeza que ela não gostaria de dividir a culpa com nenhum de nós – ele disse em seu tom baixo e reservado.

Leniel franziu o cenho e engoliu em seco. Era verdade que Julia estava ciente do que fazia quando se ergueu contra seus próprios comandados, contra seu próprio povo, para defender um humano. Mas não teria ela apenas desejado justiça?

- Não é justo Laniel – Leniel disse, colocando a mão sobre a mão de seu irmão – Julia nada fez de errado! Não foi Deus quem ordenou que cuidássemos de seus filhos? Que assistíssemos e os afastasse do caminho do mal em direção ao grandioso pai? – ele murmurou com o olhar suplicante.

- Não diga tolices! – Laniel replicou de modo ríspido – Não quer ter o mesmo fim quer? Lutar contra seu próprio povo, contra seus irmãos! Não vê que foi o próprio Deus quem disse a Miguel para destruir aquele lugar? Ainda sim foi justo e mandou muitos de nós convivermos entre eles, para tentar salvá-los e você mesmo viu no que resultou!

Leniel voltou a olhar o triste cortejo que se seguia sem mais nada dizer. Atrás de Kasyade dois combatentes seguiam, suas longas asas vermelhas também sujas de cinzas estavam abertas, estendidas, um claro sinal de vitória e de orgulho pela mesma. Eles carregavam bandeiras vermelhas com as bordas douradas, uma cruz negra desenhada no centro, seguidos por mais dez guerreiros, todos exibindo suas armas de batalha, suas espadas sujas de sangue, do sangue de Julia.

Leniel suspirou, olhando para o chão, vendo o rastro vermelho que Julia deixava ao passar, mas o que mais lhe doía era sentir a aura da guerreira tão resignada e sem força, como se houvesse perdido o amor por sua existência, por Deus, ou por qualquer coisa que a cercasse. Havia algo estranho e ele sentiu um frio na barriga quando ela virou a cabeça de lado e o olhou por cima do ombro.

O olhar dela trazia algo, algo que ele entenderia muitos milênios mais tarde, algo que ninguém ali seria capaz de entender porque ninguém jamais sentira. Os olhos dela sustentavam uma verdade que seria escrita muitos anos depois por um homem e que ela mesma ouviria em seu futuro dos lábios daquele que a fizera cair.

O amor é forte como a morte e a paixão é violenta como o abismo. O julgamento de Julia começou momentos depois.

Mesmo sem o lançamento do primeiro livro eu já estou escrevendo a segunda parte do romance Neverending Shadows, que se chama O Despertar. Creio que isso dara algumas ideias e especulações referente ao conteúdo do livro e deixar muitos de vocês curiosos, mas é exatamente isso que eu quero.

O segundo livro contara parte do começo de Caleb e Anise e o que levou ao desfecho da primeira parte de Neverending Shadows. Uma nova história começa a se desenrolar!

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